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 O Paraopeba morreu de morte matada 

 O Paraopeba morreu de morte matada 

Estudo mostra que já não há sinais de vida aquática em 305 km do Rio Paraopeba 

Por Redação Xapuri

O veredito é da Fundação S.O.S Mata Atlântica: Já não existe vida aquática no Rio Paraopeba, um dos mais importantes afluentes do Rio São Francisco. O Paraopeba garantia o abastecimento de água para 2,3 milhões de pessoas, em 21 municípios de Minas Gerais, incluindo a região metropolitana da capital do estado, Belo Horizonte.

A lama que matou o Rio Paraopeba veio do  rompimento da barragem da Vale no Córrego do Fundão, em Brumadinho, no último dia 25 de janeiro. O crime ambiental de Brumadinho deixou, até agora, um saldo de 180 morto 130 desaparecidos. E uma vastidão de morte por 305 km do Rio Paraopeba, um destino trágico e semelhante ao dio Rio Doce, também em Minas Gerais, arrasado pelos rejeitos de minérios da Barragem do Fundão, da Samarco, em Mariana, ocorrido em 5 de novembro de 2015. Estudos recentes mostram impactos danosos da lama da Samarco no arquipélago de Abrolhos, em pleno Oceano Atlântico, no sul da Bahia.

O estudo da S.O.S. Mata Atlântica, coordenado pela especialista em recursos hídricos Malu Ribeiro, foi realizado entre os dias 31 de janeiro de 9 de fevereir em 22 pontos ao longo de 305 km de rio, e constatou a ausência de peixes e a presença de quatro metais pesados, nocivos à saúde humana – ferro, cromo, cobre e manganês. Os peixes, segundo os pesquisadores, foram encontrados mortos em árvore e encostas a mais de um quilômetro de distância do Ribeirão Ferro-Carvão, do Córrego do Feijão e do próprio Paraopeba.

Segundo Malu Ribeiro, as barreiras de contenção instaladas pela Vale para conter o fluxo de sedimentos não funcionaram.  “Os valores de turbidez (indicam a concentração de sedimentos) medidos 500 metros a jusante desses barramentos superaram em 3,6 vezes o limite máximo definido na legislação”. E, como as estações de tratamento de água existentes ao longo do Rio não foram preparadas para receber este tipo de poluição, a água enlamada do Paraopeba tornou-se impróprio para o consnumo humano, para os animais e também para o uso nas lavouras de toda a região.

O estudo mostra também que, embora as barragens da termelétrica de Ibirité e da hidroelétrica de Retiro Baixo tenham  de início conseguido reter mais rejeitos pesados, infelizmente não conseguiram impedir a lama de chegar  ao lago da Hidroelétrica de Três Marias, no Rio São Francisco. Entretanto, a Agência Nacional de Águas (ANA) afirma que os dados mais recentes disponíveis, do dia 24, não indicam alteração significativa da qualidade da água depois de Retiro Baixo.

Para Malu Ribeiro, “a contaminação por metais pesados, a perda de oxigênio e, sobretudo, a perda de 112 hectares de floresta nativa de Mata Atlântica na região de cabeceiras do rio na região do Alto e do Médio Paraopeba trouxeram um enorme prejuízo para a biodiversidade e para várias espécies no momento que era o período final da piracema, quando os peixes sobem o rio para a desova e para procriação. Várias espécies estavam em momento pujante da vida.” A pesquisadora alerta ainda para  outro agravante:  o risco da proliferação de vetores de doenças, incluindo o mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, zika, chikungunya e da febre amarela.

E pode o rio voltar a viver? Segundo a pesquisadora, isso é possível, dependendo das ações que venham a ser tomadas:  “Quando a gente diz a morte do rio, não é uma morte permanente porque ele pode se recuperar. Mas, para  recuperar o Paraopeba será preciso recuperar as matas ciliares, redesenhar os meandros da geografia que o rio perdeu.” E acrescenta que será necessário  monitorar de forma permanente os reservatórios das usinas de Retiro Baixo e de Três Marias,  observando as regras operacionais estabelecida pelos comitês das bacias do Rio Paraopeba e do próprio Rio São Francisco.

Foto: Edésio Ferreira EM DA Press.

Título da matéria inspiraod em post da jornalista Maria Félix Fontele, no Facebook.


 

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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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