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ONU premia Óleo de Babaçu Menire das mulheres Xikrin

ONU premia Óleo de Babaçu Menire, produzido por mulheres Xikrin

Elas operam uma miniusina na Terra Indígena Trincheira Bacajá (PA), pressionada por garimpo e roubo de madeira. Em 2018, mais de 1,5 mil hectares foram desmatados ilegalmente

Por Roberto Almeida/ISA – Xingu

O Óleo de Babaçu Menire, produzido por mulheres Xikrin da aldeia Pot-Krô, Terra Indígena Trincheira Bacajá (PA), recebeu menção honrosa na categoria Empreendimentos Rurais do prêmio “Saberes e Sabores 2018”, oferecido pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO).

Menire significa “mulher” na língua Kayapó. A extração do óleo de babaçu é uma de suas atividades tradicionais (saiba mais aqui). Entre as Xikrin, o óleo é indispensável para uso cosmético e ritual, e a instalação de uma miniusina para extração do produto aumentou o rendimento da produção.

Um território em xeque

O desmatamento e o roubo de madeira avançam Terra Indígena Trincheira Bacajá. Apenas entre janeiro e novembro de 2018, um total de 1.559 hectares foram desmatados, segundo dados do Sistema de Indicação Radar de Desmatamento – Xingu (Sirad X).

A integridade do território Xikrin ainda sofre para além do roubo de madeira. Há ação registrada de grileiros e garimpeiros. Em agosto de 2018, o Ibama e a Polícia Federal flagraram uma grande área de garimpo ilegal dentro da Terra Indígena.

Veja os sete indicadores da Terra Indígena avaliados no site Terras+.

Antes, 20% da amêndoa do coco babaçu era convertido em óleo. Com a miniusina, a conversão em óleo chega a 70%, e o produto final tornou-se uma oportunidade de geração de renda. O volume de produção em 2018 foi de 500 litros. Os trabalhos na aldeia recomeçam em abril.

“As mulheres produziam tradicionalmente o óleo antes da miniusina. Hoje somos nós todas que coletamos o coco na floresta e quebramos ele para tirar a amêndoa. Duas menire – eu Kokoté e minha tia, Panhre – que com apoio de parceiros e da associação de nosso povo – a [Associacao Instituto Bepotire Xikrin] IBKrin, operamos a máquina, gerimos a miniusina e comercializamos nosso produto”, disse Kokoté Xikrin.

“Descobrimos que há um grande interesse em nosso óleo por ser um produto natural e saudável, que mantém a floresta em pé. As pessoas em geral também gostam dele por ser indígena”, afirmou.

Veja abaixo a localização da Terra Indígena Trincheira Bacajá e a mancha de desmatamento.

Tanto os Xikrin como os outros povos Mêbêngokre (mais de 10.000 pessoas espalhadas pelo Brasil em cerca de 10 Terras Indígenas) utilizam tradicionalmente o óleo. Mas em boa parte dos territórios mêbêngokre atuais não existe a palmeira babaçu. Assim, a produção de óleo de babaçu das menire Xikrin atende também parte da demanda de outras Terras Indígenas.

“Nossa Terra Indígena é praticamente toda coberta por floresta, o que é muito diferente do que acontece na terra dos nossos vizinhos fazendeiros, onde quase não há mais floresta em meio ao pasto para gado. A palmeira babaçu é muito abundante na floresta em nossa terra. Para produzir óleo de babaçu nós temos apenas que andar por nossa terra para colher o coco”, contou Kokoté Xikrin.

Segundo ela, produzir óleo de babaçu é uma maneira limpa de gerar renda. “Não é necessário nenhum adubo ou veneno para que tenhamos muito babaçu para o óleo. Isto é muito diferente do que acontece com a produção do óleo de soja, por exemplo, que necessita derrubar a vegetação nativa, e da aplicação de muito adubo e veneno, que polui as águas, para que haja produção”, afirmou.

A campanha #Mulheres Rurais, Mulheres com Direitos é organizada pela FAO em conjunto com a Secretaria Especial de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário do Brasil (SEAD), a Reunião Especializada da Agricultura Familiar do Mercosul (REAF), a ONU Mulheres, o Conselho Agropecuário Centro-Americano do Sistema de Integração Centro-Americano (CAC-SICA), bem como a Diretoria Geral de Desenvolvimento Rural do Ministério de Pecuária, Agricultura e Pesca do Uruguai (DGDR/MGAP). Ela reforça a importância de iniciativas de mulheres da América Latina e Caribe na promoção de uma alimentação tradicional e saudável e na proteção da biodiversidade na agricultura.

Foram, ao todo, 65 candidaturas ao prêmio na categoria Empreendimento Rural. O primeiro lugar ficou com mulheres que trabalham com cacau de origem na Venezuela. (Veja aqui os resultados.)

Os Xikrin e a Rede de Cantinas da Terra do Meio

Os Xikrin vivem na Terra Indígena Trincheira Bacajá (PA), às margens do Rio Bacajá, afluente do Rio Xingu. A Terra Indígena compõe uma série de áreas protegidas que formam o Corredor Xingu de Diversidade Socioambiental, fundamentais para a proteção das florestas e dos territórios tradicionalmente ocupados por povos indígenas e populações tradicionais.

A Terra Indígena Trincheira Bacajá conta com grandes babaçuais e castanhais que os Xikrin exploram há décadas. Eles souberam que os extrativistas organizados na Rede de Cantinas da Terra do Meio (saiba mais sobre a rede aqui) obtiveram um preço diferenciado pela castanha que produziam. A Associação Instituto Bepotire Xikrin (IBKrin)
então se aproximou da rede e, desde 2016, os Xikrin têm comercializado castanha junto com os ribeirinhos.

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A ideia de uma miniusina partiu também do contato entre os Xikrin e os ribeirinhos. Em 2015, apoiadas pela Funai, as menire visitaram a miniusina do Rio Novo, na Reserva Extrativista Rio Iriri. Como resultado, a Funai elaborou um projeto para implementar um equipamento similar na aldeia Pot-krô.

rs29135 img 20180914 105505466Kokoté Xikrin (dir.), gestora da miniusina onde o óleo de babaçu é produzido, e sua avó, Nhakrin Xikrin

 

FONTE: socioambiental.org

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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