BRUMADINHO: EQUIPAMENTOS ISRAELIS INEFICIENTES

Brumadinho: Comandante do resgate diz que equipamentos israelis são ineficientes para a lama da Vale

 Os equipamentos que os israelenses trouxeram para Brumadinho não resolvem nas buscas com esse tipo de desastre. Esta foi a declaração dada pelo comandante das operações de resgate, tenente-coronel Eduardo Ângelo à Folha, em matéria de Rubens Valente

Do Jornal GGN

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Foto: WikiPedia

Segundo ele, nenhum equipamento disponibilizado por Israel serve para esse tipo de desastre. O próprio ministro de Israel se pronunciou quanto às dificuldades que eles tiveram na região. “O imagiador que eles têm pegam corpos quentes, e todos os corpos [na região] são frios. Então esse já é um equipamento ineficiente”, disse Valente.

Ele reconheceu que o detector de imagens poderia ser útil na localização de sobreviventes, pois capta calor humano. Mas nas últimas 48 horas nenhum sobrevivente foi localizado nas buscas. Se o equipamento capta a temperatura do corpo, quando a temperatura está homogênea é como se não houvesse nada no solo, explicou o militar.

Ele disse, no entanto, que o apoio dos israelenses é importante e funciona como ‘mão-de-obra’. Afirmou que são pequenas as chances de localização de sobreviventes. ‘O que a literatura fala é que depois de 48 horas, a chance é quase nula. Mas existem registro de pessoas que foram encontradas vivas dias depois, mas é um ponto fora da curva. A experiência mostra que a cada dia que passa, a chance é menor’, concluiu.

Fonte: Equipamentos de Israel não são efetivos para buscas

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Foto: Wikipedia

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Brumadinho, Mariana, e os versos proféticos de Drummond: “O Rio? É doce. A Vale? Amarga.”

“Sim, podemos também escolher uma morte de súbito pela derrama dos minérios, sem anúncio, com ameaças públicas, feito bravata. Não haverá tempo para escapar. Nada de poder seguir para outro abrigo, outro lugar de exílio, pois de súbito cai a lama tóxica, podre de rica, com um valor admirável agreado da mineração. Nosso ouro virou veneno. “A Terra virou uma ferida,” disse, há tempo, o poeta.”  –   Ailton Krenak.

Por Zezé Weiss

Em 5 de novembro de 2015, um crime ambiental ainda sem punição permitiu o rompimento da barragem de rejeitos do Fundão, da Samarco Mineradora, controlada pela Vale e BHP/Biliton, no distrito de Bento Rodrigues, no município de Mariana, estado de Minas Gerais.

Com 19 vidas humanas perdidas e um dano ambiental incalculável para toda a bacia do Rio Doce, a tragédia de Mariana foi anunciada e documentada por pesquisadores e cientistas como o maior desastre associado à exploração de minérios até então registrado em todo o mundo.

Em 25 de janeiro de 2019, pouco mais de três anos depois, deu-se outra tragédia em terras mineiras, em uma barragem rejeitos da Vale. Em 25 de janeiro, uma outra barragem desabou, no município de Brumadinho, a pouco mais de 120 quilômetros da barragem do Fundão.

Em Brumadinho, a  lama de rejeitos cobrou mais vidas humanas: 270 pessoas mortas e 6 desaparecidas até hoje..

O rio atingido foi o Paraopeba. Pro meio dele, os rejeitos já passaram pela aldeia indígena dos Pataxó e avançaram, rumo ao São Francisco. Estudo realizado pela Fundação SOS Mata Atlântica concluiu que os rejeitos de minério de ferro derramados mataram vários trechos do rio Paraopeba. O tsunami de lama e rejeitos de minérios carreou para o rio, árvores e animais mortos, restos de casas, fossas sépticas e bactérias.

Em 1984, Carlos Drummond de Andrade publicou seu poema “Lira Itabira”, versos proféticos sobre o conflito entre a mineradora Vale e a vida ribeirinha nos sertões mineiros. Era pra ser sobre o Rio Doce. Hoje a dimensão do poema alcança também o Rio Paraopeba. Em sua profecia, Drummond nunca foi tão doído, tão cortante, tão pungente e tão atual.

LIRA ITABIRANA

Lira Itabirana Brasil de longe

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Foto: Pleno News

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UMA REFLEXÃO SOBRE BRUMADINHO 

Há cerca de dez anos, a cidade de Mariana e o Distrito de Bento Rodrigues, ambos em Minas Gerais (MG), agonizavam na tragédia que seria uma das maiores que o Brasil teria vivenciado: o rompimento de uma barragem de rejeitos da Samarco

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Área afetada pelo rompimento de barragem no distrito de Bento Rodrigues, zona rural de Mariana (MG), em 2015 – Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil

Muitas vidas ceifadas, muitas pessoas sem ter onde morar e o meio ambiente, mais uma vez, sofrendo com a inércia do poder público e os desmandos de gananciosos pelo lucro a qualquer preço.

E a tragédia logo se repetiu, com as vidas perdidas, os danos patrimoniais, ambientais e sociais com a tragédia de Brumadinho (MG). Tudo isso deixa mais distante do Brasil o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável – ODS, cujas metas buscam concretizar os direitos humanos de todos e equilibram as três dimensões do desenvolvimento sustentável: a econômica, a social e a ambiental.

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Foto: Mídia Ninja / Lucas Sharif

Desde que o ser humano surgiu no planeta, entre 350 a 500 mil anos atrás, a relação com o ambiente tem se transformado a partir do desenvolvimento das civilizações. A dependência da nossa espécie pelos recursos naturais estava inicialmente clara, pois os primeiros agrupamentos humanos migravam em busca de disponibilidade de alimentos, água e abrigo.

O desenvolvimento da agricultura e de outras tecnologias permitiu que fixássemos residência, já que as nossas necessidades começaram a ser atendidas com a produção de alimentos e a oferta de bens de consumo e serviços.

Conforme caminhamos para condições mais confortáveis de vida, a nossa dependência pelos recursos naturais fica menos evidente, demandando a reflexão a respeito do quanto somos vulneráveis. Atraídos pelas tentações do consumo e de padrões de vida que exigem a substituição e o descarte de materiais, já não enxergamos o quanto estamos impactando o ambiente.

Poucas pessoas compreendem, por exemplo, que os meios de transporte e os eletrodomésticos que utilizam diariamente são o resultado de processos produtivos como a mineração, que extraem os recursos naturais e geram resíduos perigosos.

Os processos produtivos ganharam dimensões inimagináveis, para atender um maior número de pessoas no planeta e o consequente aumento na demanda por bens e serviços. Além disso, a questão da lucratividade tem grande influência para o quadro atual de degradação.

Em busca de maiores ganhos, algumas empresas inclusive colocam em risco a vida de muitos seres vivos ao “economizarem” com estruturas de segurança e por não investirem o suficiente em gestão de resíduos. Ressalta-se que o desenvolvimento sustentável somente será alcançado com os princípios da Agenda ODS para 2030, que prevê um plano de ação para as pessoas, para o planeta e para a prosperidade. Brumadinho

Todo esse cenário torna ainda mais graves as questões expostas com o rompimento da barragem de rejeitos na cidade de Brumadinho, que tirou a vida de centenas de pessoas e causou impactos ambientais incalculáveis.

A busca pelo lucro a qualquer custo fica evidente quando nos encontramos em um contexto no qual há três anos a cidade de Mariana esteve inserida: quando foi atingida por rejeitos produzidos pela empresa pertencente ao mesmo grupo que contaminou Brumadinho.

Por que não investir em um processo mais seguro para a destinação dos resíduos de mineração? A resposta é simples: investir em destinação de resíduos resulta em menor lucratividade. Entretanto, a tragédia nos mostra o quanto essa afirmação está equivocada. Brumadinho

Esse contexto só reforça o imperativo do comprometimento global com a conservação dos recursos naturais e do desenvolvimento sustentável. Iniciativas como os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) contribuem para repensar o modelo de desenvolvimento vigente, que negligencia as questões ambientais e não reflete sobre a igualdade social, saúde e bem-estar da população.

Acidentes como os observados em Mariana e Brumadinho seguramente não ocorreriam se as metas, estabelecidas nos ODS, estivessem de fato fazendo parte da agenda dos países signatários, como o Brasil, e houvesse um real comprometimento com essas causas. A nossa comodidade frente ao atual sistema produtivo é outro fator que dificulta ainda mais atingir as metas propostas nos ODS. Brumadinho

Fica cada vez mais evidente a necessidade de dialogar com a sociedade sobre a complexidade dessas questões, pois o modelo de consumo, de descarte e de lucro a qualquer custo já mostrou que não tem sustentabilidade. Temos a opção de repensar as nossas escolhas diárias ou sofrer as consequências pela falta de água segura, de solo fértil e do ar limpo para respirar.

Os recursos naturais pertencem a toda humanidade, e a cada crime ambiental, a cada nova contaminação, a cada nova espécie extinta, a cada ser humano que morre para outro lucrar, toda a humanidade perde. Não se olvidem, se tantas outras, passarem por tragédias semelhantes, pois o dever de casa e o aprendizado se tornou algo secundário para esses empreendedores.

Augusto Lima da Silveira – coordenador do Curso Superior Tecnologia em Saneamento Ambiental na modalidade a distância do Centro Universitário Internacional Uninter. Atualmente é doutorando em Ecologia e Conservação.

Ivana Maria Saes Busato – coordenadora dos Cursos Superiores de Tecnologia em Gestão Hospitalar e Gestão de Saúde Pública do Centro Universitário Internacional Uninter, ambos na modalidade a distância. Tem atuado na área de Saúde Pública, Gestão Pública e possui doutorado em Odontologia.

Rodrigo Berté – diretor da Escola Superior de Saúde, Biociências, Meio Ambiente e Humanidades do Centro Universitário Internacional Uninter. Atua na área de Meio Ambiente e Sustentabilidade. É Pós-Doutor em Educação e Ciências Ambientais pela Universidade Nacional de Ensino à Distância – Madrid (Espanha).

ANOTE:

Esta matéria nos foi enviada por Giulia El Halabi da Pg1:

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Assessoria de imprensa da Uninter

Giulia El Halabi

email giulia@pg1com.com

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Memorial Brumadinho

Brumadiho memorial

 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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