Calam-se os tambores, Mestre Lumumba partiu…

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Calam-se os tambores, Mestre Lumumba partiu…

Foi no sábado de aleluia, os ponteiros marcavam 23h e mestre Lumumba partiu, fez sua passagem para outro plano, deixando uma história de luta e determinação no fortalecimento da cultura.

Por Iêda Leal

Foi no sábado de aleluia, os ponteiros marcavam 23h e mestre Lumumba partiu, fez sua passagem para outro plano, deixando uma história de luta e determinação no fortalecimento da cultura.
 
Para que nunca esqueçam, quem foi Mestre Lumumba?
 
Um pouco da sua linda história …
 
Benedito Luiz Amauro, (re)conhecido como Mestre Lumumba, filho do orixá Ogum, fez-se artista e ferramenteiro desde a juventude.
 
Em 1973, com a expansão e crescente organização do Movimento Negro no Brasil formou na cidade de Campinas, interior do Estado de São Paulo, o Grupo de Teatro Evolução, que marcou a história do movimento negro brasileiro na contemporaneidade. Neste período, foi ator e criador de vários espetáculos, entre eles Sinfonia Negra (1974).
 
Na década de 1980, foi assistente de direção do musical da ópera Ongira: um grito africano, com direção de Thereza Santos (1980) e fez parte da formação de uma das primeiras bandas de reggae brasileira, o Arembepe, composto por artistas de diversos estados do Brasil. Em 1982, produz o disco Cafuné, seu primeiro trabalho autoral.
 
Na mesma década, conhece em Salvador.
 
Em 1988, participou do álbum Negros Africanos, ao lado de nomes como Milton Nascimento e Emílio Santiago.
 
No carnaval de 1997, em parceria com o Mestre Congadeiro Quintino Bento, na cidade de Tremembé /SP, formou a Orquestra do Erê, onde se desenvolvem trabalhos que misturam a cultura popular e a música erudita pelas mãos de jovens e através dos ensinamentos dos Mestres.
 
Mestre Lumumba, Presente!!!
 
 
Iêda Leal – Secretária de Gestão do Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial do Ministério da Igualdade Racial. 
 
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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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