CALIANDRA: A ROSA DO CERRADO

CALIANDRA: A ROSA DO CERRADO

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Vermelha como uma rosa, pétalas que lembram espinhos e uma beleza única. Ali, ‘sozinha’, em meio às gramíneas secas e empoeiradas do cerrado, o vermelho vivo quase fluorescente da Caliandra se destaca. A se tornou símbolo do bioma Cerrado e, além de belíssima, estudos apontam que ela pode conter diversas propriedades medicinais.

Por Maria Letícia

Caliandra é o nome comum dado a várias espécies do gênero Calliandra, suas flores desabrocham na primavera e no período de verão a folhagem se torna mais prolongada. Além disso, durante a noite, suas folhas, por serem delicadas, passam por um processo natural e se fecham.

A graça de suas flores são comparadas a um ‘pompom’ e podem ser encontradas em diversas tonalidades, variando de acordo com as condições climáticas de cada local.

CALIANDRA, A ROSA DO CERRADO
Caliandra – Foto: Pexels/zhugewala /Creative Commons

De acordo com Ana Lui, em reportagem à Globo, “A caliandra adora sol pleno e podemos encontrá-la em diversas tonalidades, como a rosa (Calliandra brevipes), que tolera geadas e se adapta bem à região Sul do país, e a vermelha (Calliandra harrisii), que prefere regiões tropicais” pontuou a paisagista. 

O que você sente ao contemplar uma Caliandra?

Tenho uma espécie de ‘presságio’ estranho ao observar uma Caliandra balançando sua folhagem avermelhada, em um sentido solitário que encontra a inconfundível beleza de uma flor, tornando impossível não admirar seu vermelho cor de sangue, quase flutuante.

Hipnotizante! Ela resiste entre o caos marrom empoeirado do Cerrado, despertando mistério, deixando claro que não é uma flor qualquer. 

CALIANDRA, A ROSA DO CERRADO
Caliandra – Foto: Rede Social/A no Cerrado

Para o pintor Fábio Rodrigues, em sua Uma flor abre o “, essa planta representa o sentimento de compaixão e desperta nossa atenção para algo muito maior: as mudanças climáticas. O autor da obra disserta sobre a perca da biodiversidade do cerrado devido o avanço das mudanças climáticas e ressalta o processo de extinção do bioma. O pintor, Fábio Rodrigues, enaltece a importância do bioma e deixa um alerta urgente sobre os efeitos das mudanças climáticas por meio de suas artes.

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“Uma flor abre o mundo”, pintura de Fábio Rodrigues a partir da contemplação da Caliandra

A Caliandra e a medicina

Devido a sua beleza e delicadeza, a planta é mais conhecida como a flor-do-cerrado, contudo, estudos científicos vem sendo realizados e apontam que a planta também pode ser uma fonte de medicina natural, podendo ser usada para diversos fins. Porém, atualmente, é muito mais comum as Caliandras serem usadas amplamente no paisagismo e na jardinagem.

De acordo com estudo publicado pela Secretaria de Modalidades Especializadas de Educação (SEMESP), esta planta é nativa da boliviana e carrega diversas propriedades medicamentais. Além disso, na medicina popular as Caliandras pode ser usadas como laxantes, antidepressivos, em tratamento de inflamações, cólicas e outros. 

O objetivo do citado era avaliar a atividade antioxidante de extratos oriundos do caule da variedade vermelha, que, segundo o artigo, apresentou uma maior atividade antioxidante em relação aos demais.

A eficácia medicinal da espécie Caliandra ainda está em processo de estudos científicos e pouco se sabe acerca das técnicas de cultivo agrônomos dessa flor. A bela ‘esponjinha’ ainda é misteriosa em muitos sentidos para o mundo cientifico.

Por outro lado, há relatos mais substanciais acerca do uso desta erva pelas populações indígenas da América do Sul. O livro “Plantas medicinais na Amazônia”, publicado originalmente em 1989, cita a família Fabaceae, que engloba cerca de 64 gêneros e 2.950 espécies descritas, distribuídas no livro em cinco categorias e, dentre elas, a Calliandra é destacada como um gênero de muito valor medicinal. 

De todo modo, a rosa do cerrado, como gosto de observar, continuará avermelhando-se como sob o sol do cerrado. 

Maria Letícia – Redatora voluntária da . Capa:  Flickr/Forest and Kim Starr/Creative Commons.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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