CANTO PARA ATABAQUE

CANTO PARA ATABAQUE

Canto para Atabaque

Um poema de Carlos Marighella – Ei lu!/Qui lu-lu!/Qui lu-lu!/Lumumba!/Ei lu!/Qui lu-lu!/Qui lu-lu!/Lumumba!/Ei lu!/Qui lu-lu!/Qui lu-lu!/Lumumba!/

Ei bum!
Qui bum-rum!
Qui bum-rum!
Bum! Bumba!

Ei lu!
Qui lu-lu!
Qui lu-lu!
Lumumba!

Ei Brasil!
Ei bumba meu-boi!

“Mansu, manseba,
traz a navalheta
pra fazer a barba
deste maganeta.”

Lá vem beberrão,
lá vem Bastião,
tocando bexiga
em tudo que é gente.

O engenheiro medindo,
empata-samba empatando,
cavalo-marinho
dançando, dançando.
O boi requebrando,
o boi ‘stá morrendo,
o boi levantando,,,

Ei Brasil-africano!
Minha avó era nega haussá,
ela veio foi da África,
num navio negreiro.
Meu pai veio foi da Itália,
operário imigrante.
O Brasil é mestiço,
mistura de índio, de negro, de branco.

Bum! Qui bum-rum! Qui bum-rum! Bum-bum!

Quem fez o Brasil
foi trabalho de negro,
de escravo, de escrava,
com banzo, sem banzo,
mas lá na senzala,
o filão do Brasil
veio de lá foi da África.

Ei bum!
Qui bum-rum!
Qui bum-rum!
Bum! Bumba!

Ei lu!
Qui lu-lu!
Qui lu-lu!
Lumumba!

Biografia de Carlos Marighella

Carlos Marighella (1911-1969) foi um guerrilheiro político brasileiro, um dos principais organizadores da resistência contra a ditadura militar iniciada em 1964. Foi morto em uma emboscada na Alameda Casa Branca na capital Paulista.

Carlos Marighella nasceu em Salvador, Bahia, no dia 5 de dezembro de 1911. Filho do imigrante italiano Augusto Marighella, operário, e da baiana Maria Rita do Nascimento, filha de ex-escravos africanos trazidos do Sudão, cresceu na Baixa do Sapateiro, na cidade de Salvador, em uma família pobre em meio a seis irmãos, onde cursou o primário e o secundário.

Em 1932, já envolvido com a militância política, escreveu um poema contendo críticas ao interventor do Estado, Juracy Magalhães, o que resultou em sua primeira prisão. Em 1934 abandonou o curso de Engenharia Civil da Escola Politécnica da Bahia. Nesse mesmo ano filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) e mudou-se para o Rio de Janeiro, para integrar a organização do partido dirigido por Luís Carlos Prestes e Astrojildo Pereira.

Em 1º de março de 1936, durante a ditadura da Era Vargas (1930-1945), Carlos Marighella foi novamente preso acusado de subversivo. Foi torturado pela Polícia Especial, cujo chefe Filinto Müller era conhecido por sua truculência. Após ser libertado, impedido de atuar pelas vias legais passou a viver na clandestinidade. Os anos entre 1934 e 1937 foi o período em que Vargas caminhou para a radicalização política e eram frequentes os choques entre os comunistas e os integralistas – os dois blocos políticos partidários.

Em 1939, Marighella foi novamente preso e torturado. Ficou na prisão até 1945, quando foi beneficiado pela anistia do processo de redemocratização do país. O PCB que estava funcionando na ilegalidade foi restabelecido neste mesmo ano. A aproximação de Getúlio com os comunistas alarmou os meios políticos do País. Alguns acreditavam na possibilidade de um novo golpe. Getúlio foi então deposto sem luta pelos generais, era o fim da ditadura.  Nas eleições de dezembro saiu vitorioso o general Eurico Gaspar Dutra.

Em 1946, Carlos Marighella foi eleito deputado federal constituinte pelo PCB baiano. Nesse mesmo ano, perdeu o mandato, quando o presidente Dutra cassou todos os políticos filiados ao PCB. Voltou a viver na clandestinidade e exerceu diversos cargos no partido. Em 1953 foi convidado pelo Comitê Central do PCB para viajar à China e ver de perto as consequências da Revolução Chinesa de 1949.

O populismo que foi instalado no Brasil por Getúlio durou até 1964. As lutas constantes entre o governo e as oposições civis e militares agravavam a crise política. As oposições acusavam o então presidente João Goulart de comunista. A classe média temia que o Brasil se transformasse em uma nova Cuba. Em 31 de março de 1964, um golpe militar derrubou Goulart e foi instalada uma república autoritária.

Uma chamada “operação limpeza” teve início. Foram presos líderes sindicais, religiosos, estudantes e professores acusados de subversão. Em maio de 1964, Marighella foi baleado quando estava dentro de um cinema no Rio de Janeiro e levado por agentes do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS). Em 1965 foi libertado por decisão judicial. Em 1967, por divergências políticas foi expulso do PCB. Em 1968 fundou o grupo armado “Ação Libertadora Nacional”, com os dissidentes do partido. O grupo participou de diversos assaltos a banco, e em setembro de 1969 sequestrou o embaixador norte-americano Charles Elbrick, numa ação conjunta com o Movimento Revolucionário 8 de outubro (MR-8). Em um acordo, o embaixador foi trocado por 15 presos políticos.

Carlos Marighella deixou alguns escritos políticos, entre eles: “A Crise Brasileira” (1966), “Pela Libertação do Brasil” (1967), “Algumas Questões Sobre as Guerrilhas no Brasil” (1967), “Chamamento ao Povo Brasileiro” (1968) e “O Mini Manual do Guerrilheiro Urbano” (1969), para servir de orientação aos movimentos revolucionários. Em novembro de 1969, Marighella sofreu uma emboscada na Alameda Casa Branca, na capital Paulista. Foi morto a tiros por agentes do DOPS.

Carlos Marighella faleceu em São Paulo, no dia 4 de novembro de 1969.

Fonte da Biografia de Marighella: ebiografia

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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