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CARTA DO I ENCONTRO DOS POVOS DA FLORESTA

CARTA DO I ENCONTRO DOS POVOS DA FLORESTA

Carta do I Encontro dos Povos da Floresta

CARTA DO I ENCONTRO DOS POVOS DA FLORESTA
da Carta do I Encontro por Júlio Barbosa de Aquino. Foto: Acervo CNS

Há muito tempo só havia o escuro.

Os caminhos sempre foram perigosos.

Às vezes os igarapés alagavam,

Às vezes faltava o peixe,

Às vezes comíamos bem,

Às vezes só tinha farinha.

Notícias, só de vez em quando

Nos rádios dos barracões,

Ou dos regatões.

A dívida consumia todo o .

era palavra proibida.

só pros patrões.

O futuro era alguma coisa

Que parecia que não chegaria.

Aí, em cima da dor,

Da espinhosa,

Começamos a cultivar a flor.

A luz passou a ser construída,

A nossa união passou a ser

A poronga acesa que alumia o caminho,

E nossa luta,

Mesmo com sangue derramado,

Do nosso lado,

Cresceu e começamos a construir

Nosso futuro,

Sem patrão, sem

E sem .

Hoje nossos filhos

Começam a sentir

Que vale a pena a vida,

Com a nossa proposta

Da Reserva Extrativista.

E o índio é nosso companheiro

Nesta caminhada… Da qual estamos

Dando hoje mais um passo. 

CARTA DO I ENCONTRO DOS POVOS DA FLORESTA
Foto: Acervo CNS|IEA

Carta-Poema lida por Júlio Barbosa de Aquino na Abertura do I Encontro dos Povos da ,  realizado entre os dias 25 e 31 de março de 1989, Rio Branco, Acre, , poucos meses depois do assassinato de ,  em 22 de dezembro de 1988. Fotos do Acervo CNS/IEA

 

 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

revista 119

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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