Segundo Hanna Arendt, na Grécia antiga, a notabilidade dos homens era confiada à poesia, pois nela as palavras e feitos heroicos ficariam gravados eternamente, com louvor de seus méritos. Já na representação dos tupinambás – falantes de tupi da costa brasileira, há uma milenar oralidade, registrada na crônica do século XVI, que descreve o surpreendente desenvolvimento dos chamados “selvagens”, “com suas regras gramaticais tão certas, com o que concorrem para a perfeição da sintaxe, equiparados aos melhores humanistas gregos e latinos, que com suas flexões, foi comparada à prestigiada
língua grega” (DENIS, 1550-2011).
Paul Lejeune, no século XVII, equipara os oradores tupinambás a alunos de Aristóteles ou Cícero, e Andrea Daher (2012) qualifica-os como “filósofos nus” (p. 122), pois, como disse Léry, “…os selvagens são grandes discursadores e costumam ir em qualquer assunto até o fim” (LÉRY, 1550 – 1961, p. 135).
Portanto, trata-se de pessoas que superaram em muitos aspectos os europeus, desde a sua forma de organização
política interna, a
ausência de classes sociais, a distribuição dos
alimentos, a solidariedade até com inimigos e uma série de elementos que demonstram que essas sociedades, ao contrário do que muitos pensam, foram protagonistas de um processo de conversão ao contrário, pelos motivos listados fartamente por Bartolomeu de Las Casas, obra que o senhor certamente não conhece.
Por fim, é imprescindível lembrar que os europeus, especialmente os franceses, como Vilegagnon, Andre Thevet e muitos outros em sua aventura de intentar fundar uma França Antártica no Rio de Janeiro, vieram em frotas como as que trouxeram os seus antepassados, senhor presidente, por que aqui os chamados “selvagens” repartiam tudo o que tinham, especialmente com os estrangeiros, segundo relato primário de Thevet.
Além do mais, pasme, senhor presidente, aqui não havia morte por causa de crença religiosa, como havia na sua adorada Europa, e todos os povos nativos da América foram traidos com mentiras e massacres, e não o contrário, como relatam o citado Las Casas, além do inglês Anthony Knivet.
Somente em uma das incursões de espanhóis, (provavelmente seus antepassados diretos), houve uma degola de 07 mil almas na ocupação de Cuba em um só dia, o que nos deixa ainda mais solidários aos povos que repartiam tudo o que tinham, pois foram educados e talvez até mesmo “evangelizados” com a pedagogia da
natureza, que não acumula, mas reparte, que se preocupa com a sobrevivência do outro e não com o acúmulo de dinheiro que vai servir de pivô para brigas, ou seja, foram formados em filosofia da dignidade das coisas criadas por Deus desde o começo do mundo, que tem o seu
tempo e a sua liberalidade com todos, sem medida.
E o que mais nos autoriza a informar os predicados dessa gente, é o fato de serem reconhecidos pelas sua superioridade como civilização até mesmo pelos seus contrários, como os portugueses, caso de Pero de Magalhães Gandavo, que nenhum interesse tinha em descrever positivamente os povos da costa brasileira.
Assim, como brasileiro descendente de italianos e profundamente envolvido na investigação e promoção dos valores éticos indígenas, eu o agradeço por seu elogio, pois veio em um bom momento !