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Catarse e a cultura do financiamento coletivo

Catarse e a cultura do financiamento coletivo

Maneiras criativas de financiar coletivamente um projeto estão espalhadas por toda parte. Desde o (não muito seguro) cofrinho – aquele porco frequentemente alimentado por trocos de seu dono e ao qual sempre acorrem as moedas de amigos e familiares –, passando pelas (nem tão confiáveis) rifas – com seus bilhetes e sorteios misteriosos –, até as informais e espontâneas vaquinhas, aprendemos que o interesse comum pode ser mobilizado em favor de várias iniciativas.

Mas não é preciso esperar tanto tempo para o cofrinho encher, nem sentir tentação de quebrá-lo para adiantar a colheita dos frutos; muito menos passar os dias ouvindo “quando é mesmo que vai haver o sorteio daquela rifa que eu comprei?”. Nos últimos anos, um novo conceito de financiamento coletivo (crowdfunding) está modificando a nossa maneira de vivenciar esses apoios.

Baseadas em uma rede formada por apoiadores e realizadores, plataformas virtuais como o Catarse, no ar desde 17 de janeiro de 2011, estão se difundindo em território brasileiro com uma certa rapidez. Funciona assim: alguém apresenta por meio de vídeo e texto o projeto que pretende realizar, com os valores relativos ao financiamento em si e, a partir dessa proposta, as pessoas participam do montante a ser arrecadado.

No caso de o objetivo não ser atingido por insuficiência de recursos, cada uma das pessoas que apoiou o projeto recebe de volta a quantia oferecida. Do contrário, caso seja atingida ou superada a meta, geralmente o financiador recebe uma recompensa proporcional ao incentivo. Desde cervejas produzidas artesanalmente até apoios a vítimas de regiões atingidas por catástrofes, a diversidade dos projetos é tamanha, que se torna evidente o quanto as pessoas recorrem cada vez mais a essas alternativas para se verem contempladas.

Em Brasília, aumenta diariamente o número dos grupos e indivíduos ligados a essa nova cultura financeira. É o caso da banda Sexy Fi e do escritor Maurício Chades que, por meio do Catarse, realizaram com sucesso os projetos apresentados na plataforma virtual. Videoclipe e livro, respectivamente, foram os produtos financiados. Para a banda, o recurso do crowdfunding se afigurou uma alternativa viável diante do alto custo que envolve a produção de um clipe.
“Como a gente tava no fundo do poço financeiro, eles [os produtores] sugeriram fazer uma arrecadação no Catarse. O diretor de arte do clipe, Lucas Gehre, da Revista Samba, já tinha experiência com crowdfunding dos projetos dele. Ele deu alguns toques e começamos a produzir o vídeo de lançamento da campanha”, diz Ivan Bicudo, tecladista da banda.

Lançado em 2013, o clipe tem mais de 45 mil acessos no Youtube! E, apesar da caoticidade da banda, quem apoiou receberá suas recompensas, dentre as quais camisetas, adesivos, discos, entradas para uma festa exclusiva e até mesmo um show particular da banda.

Para Maurício Chades, a recente publicação de seu livro “As aventuras subjetivas de Bjork” não poderia ter acontecido de outra forma, senão através do crowdfunding. “Por ser um livro que debate o pop, por tratar de uma artista pop, precisávamos do apoio direto do público para legitimar o projeto”, diz Chades.

O artista está satisfeito e surpreso com o resultado: ultrapassaram a meta nos últimos dias de campanha e chegaram a 109% do pretendido! Para ele, o Catarse funcionou como uma pré-venda: “Oferecemos como ‘recompensas’ o próprio livro e outros produtos que são desdobramentos do projeto: fotografias em A4 impressas em fineart com tiragem limitada (tecnologia de museu, de altíssima durabilidade), por exemplo. Nessa perspectiva, o apoio não é uma ‘doação’, mas uma reserva, um voto de confiança”.

A própria estrutura fundada pela ideia de crowdfunding é um passo além na configuração econômica que envolve a realização de projetos. Muito mais maleável e praticamente não hierárquico, o vínculo estabelecido entre as partes envolvidas é fomentado por motivos que nem sempre são estritamente financeiros, comuns no modelo industrial vigente. Para Luciana Masini, que dá suporte à comunidade no Catarse, o essencial da estrutura dessas plataformas de financiamento coletivo, em discussão no Brasil desde 2010, é a colaboração.

O trajeto percorrido pelos jovens idealizadores é sintomático do seu espírito: “O projeto era um sonho comum dos recém-formados administradores Diego Reeberg e Luís Otávio Ribeiro, inspirados pelo norte-americano Kickstarter. Compartilhavam do mesmo sonho e inspirações o programador Daniel Weinmann, de Porto Alegre, o jornalista Rodrigo Maia e seu irmão, o designer Thiago Maia, do Rio de Janeiro, que completaram o time. Ao vislumbrarem a possibilidade de uma atuação inicial forte em Rio, São Paulo e Porto Alegre, eles passaram a oferecer essa alternativa a projetos que ficavam engavetados por falta de oportunidades. A ideia de um criador estático não cabe no Catarse, pois geramos um ambiente onde co-criar é o importante. Quero dizer que o Catarse não depende das pessoas iniciais, ou da figura de um fundador, mas da equipe como um todo e de todos que trabalham e circundam a iniciativa”, diz Luciana.

Para Adolfo Melito, presidente do Instituto de Economia Criativa e integrante do conselho de criatividade e inovação da Fecomércio – SP, a indústria da economia criativa, ligada à geração de valor através do capital humano, tem grande potencial de crescimento pelo financiamento em grupo. “A estrutura das empresas criativas é diferente do modelo industrial”, diz ele.
“Não há mais organização hierárquica, e sim estruturas participativas, com mais autonomia nas relações de trabalho, o que reduz os custos”, observou Adolfo ao ser entrevistado pelo iG, em 13 de setembro de 2013. Sinal dos novos tempos, plataformas como o Catarse sugerem uma transformação cultural que abarca desde a economia até o comportamento individual, apontando novas maneiras de se relacionar com os circuitos de produção e consumo. Não chega, no entanto, a configurar uma contracultura stricto sensu.

economia-xapuri

O crowdfunding é efeito da insuficiência do modelo de financiamento vigente. Pensando em projetos artísticos, quem hoje em dia tem disposição para enfrentar a burocracia castradora dos editais de seleção das secretarias de cultura, por exemplo? Quem se aventura por esses campos áridos sabe que é preciso estar armado de escritores-de-projeto e de todo um arsenal de argumentos, para conquistar a simpatia dos pareceristas. A obra de arte, afinal, vira um objeto pré-moldado segundo conceitos do Estado.

Pressente-se que a cultura inaugurada por sites como o Kickstarter vem justamente na contramão dessa rigorosidade institucional, pois desvencilha os idealizadores dos tentáculos que a cultura financeira oficial lança em torno daqueles que buscam mamar, um pouquinho que seja, nas tetas de ouro do capital. Mas a “cultura crowd” carece de uma difusão mais ampla, pois ainda está limitada estatisticamente às regiões consagradas do circuito econômico brasileiro, conforme pesquisa realizada pelo Catarse e pela empresa Chorus, especializada em projetos ligados à cultura e à sociedade.

Há que se promover sua ampliação, sobretudo rumo ao Norte e ao Centro-Oeste do país. O estudo Retrato do financiamento coletivo do Brasil – 2013/2014 – informa que as regiões mais participativas nessa onda são o Sudeste (63%), Sul (20%) e Nordeste (9%). No espectro humano, a maior participação é de jovens entre 25 e 30 anos de idade, a maioria com nível superior, funcionários de empresa privada e com renda mensal entre R$ 3.000,00 e R$ 6.000,00.

A partir desses dados, depreende-se que é longo o caminho para a “cultura crowd” firmar-se no Brasil. Como afirmou um dos participantes da pesquisa, é preciso educar mais o público. Embora se esteja difundindo com certa rapidez, sabemos que um comportamento, para tornar-se hábito, costume, enfim, deve ser estimulado, reforçado e, sobretudo, elogiado.

www.catarse.me


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