CCM E CPI-ACRE REALIZAM FORMAÇÃO PARA JOVENS

Comitê Chico Mendes (CCM)  e CPI-Acre realizam formação para jovens extrativistas e indígenas, em Xapuri

Durante quatro dias o Comitê Chico Mendes e a Comissão Pró-Índio do Acre (CPI-Acre), em parceria com a Associação do Movimento dos Agentes Agroflorestais Indígenas do Acre (AMAAIAC), a Associação dos Produtores e Produtoras do Seringal Floresta e Adjacências (ASPAFA), o Coletivo Varadouro e a Associação Feminina Força da Mulher Rural do Rio Liberdade (Associação Mulher Flor) realizam em Xapuri duas oficinas para jovens comunicadores ativistas, promovendo intercâmbios de conhecimentos entre jovens extrativistas e indígenas.

Por Assessoria CPI-Acre e Comitê Chico Mendes

As oficinas tiveram início nesta terça-feira, 17, com cerca de 60 jovens de diferentes Territórios da Reserva Extrativista Chico Mendes e das Terras Indígenas Poyanawa, Nukini, Kaxinawá da Praia do Carapanã, Kaxinawá do Baixo Rio Jordão e Mamoadate, além de jovens do contexto urbano de Xapuri, Plácido de Castro e Rio Branco. Pela manhã está sendo realizada a oficina “Teatro: Arte, Pensamento e Ação”, com Marcos Luanderson e Pate Saturno, e no período da tarde a oficina “Ativa: Comunicação como Meio de Transformação”, ministrada pela comunicadora Luiza de Lima.

O principal objetivo das oficinas é oferecer a jovens lideranças ferramentas de comunicação e engajamento para levar o ativismo a um nível mais estratégico, com possibilidades de incidência nacional e internacional. Ao amplificar as vozes das organizações de base das comunidades tradicionais e povos originários de territórios amazônicos potencializamos suas condições de influenciar políticas públicas, fortalecendo as lutas e capacidades de atuação e intervenção nas agendas culturais, socioambientais e climáticas, por meio do ativismo e da comunicação.

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Formação para jovens extrativistas Foto:Assessoria CPI-Acre e Comitê Chico Mendes
Por meio do teatro e da expressão corporal, os jovens são convidados a explorar formas de comunicação não verbal, utilizando o corpo como instrumento de empoderamento. Por sua vez, a oficina de comunicação visa ao aprimoramento da capacidade de expressão de ideias (clareza, criatividade, protagonismo, assertividade e persuasão, entre outras habilidades) dos participantes, que se envolvem ativamente nos processos de tomada de decisão de suas organizações.

Esta ação faz parte do projeto Proteção de Povos Indígenas e Tradicionais do Brasil, financiado pelo Ministério Federal de Cooperação Econômica e Desenvolvimento da Alemanha, por intermédio da rede WWF. A realização é feita por um consórcio de parceiros formado por Comissão Pró-Índio do Acre (CPI-Acre), Comitê Chico Mendes, Fiocruz, Fiotec, Imaflora, Kanindé, Pacto das Águas, Projeto Saúde e Alegria (PSA) e WWF-Brasil. (Assessorias da CPI-Acre e Comitê Chico Mendes)

Fonte: Assessoria CPI-Acre e Comitê Chico Mendes. Capa: Reprodução/Assessoria CPI-Acre e Comitê Chico Mendes

Chico Mendes Instituto Lula

Foto: João Roberto Ripper – Acervo Instituto Lula 

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Davi Kopenawa: Mensagem para as filhas e filho de Chico Mendes

Faz pouco mais de 30 anos que Chico Mendes, nosso amigo, morreu. E eu deixo uma mensagem para os filhos do Chico Mendes. Deixo o pensamento positivo que o pai deles tinha. Desejo que os filhos do Chico Mendes sejam tão bons como o pai que eles tiveram.

Por Davi  Kopenawa Yanomami

Os filhos devem seguir o caminho do pai, continuar a luta do pai. Pegar a mesma bandeira. Os filhos do Chico Mendes devem lembrar sempre do sonho de seu pai; não devem se esquecer de quem são filhos. É preciso mostrar de onde partimos aonde vamos chegar. Não pode negociar, enfraquecer, nem esmorecer na luta.

Não tem dinheiro que pague um pedaço de floresta. Os filhos do Chico Mendes não são índios, mas são nap+pe (não-indígenas) da floresta. Os fazendeiros sãos os besouros grandes que cortam a floresta. Os mineradores são o tatu grande que faz buraco e destrói. São como tatu-canastra – os mineradores, com unhas grandes, cavando lá no fundo em busca das riquezas da terra.

Nós, lutadores, nunca vivemos e nem morremos sozinhos. Nós confiamos em nossos líderes. O Chico já viveu e, agora, el cuida de nós. Nós, homens da floresta, somos frutos da terra, da força da natureza.  Eu sou fruto, meu pai era fruto. Eu sou semente de  meu pai. Semente do meu povo. Os filhos do Chico Mendes são sementes que devem continuar a luta.

Quero convidar o Sandino, filho caçula do Chico Mendes,e a Angela e a Elenira, filhas do Chico, para nos unirmos contra a destruição da floresta. E estender minha mensagem em nome do meu povo Yanomami para todos aqueles que lutam pela natureza no Acre e na Amazônia.

chico mendes and children 1988Foto: Acervo Comitê Chico Mendes

Davi Kopenawa Yanomami – grande líder da floresta, em depoimento a Zezé Weiss para o livro Vozes da Floresta, Ed. Xapuri, 2008. A data (20 anos) foi ajustada no texto (30 anos) , que em todo o resto continua exatamente como no depoimento original, gravado em Boa Vista, Roraima, no primeiro semestre do ano de 2010. A primeira linha do texto (faz quase…) foi adaptadda para os 30 anos: faz pouco mais de…

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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