Davi Kopenawa: Mensagem para as filhas e filho de Chico Mendes
Faz pouco mais de 30 anos que Chico Mendes, nosso amigo, morreu. E eu deixo uma mensagem para os filhos do Chico Mendes. Deixo o pensamento positivo que o pai deles tinha. Desejo que os filhos do Chico Mendes sejam tão bons como o pai que eles tiveram.
Por Davi Kopenawa Yanomami
Os filhos devem seguir o caminho do pai, continuar a luta do pai. Pegar a mesma bandeira. Os filhos do Chico Mendes devem lembrar sempre do sonho de seu pai; não devem se esquecer de quem são filhos. É preciso mostrar de onde partimos aonde vamos chegar. Não pode negociar, enfraquecer, nem esmorecer na luta.
Não tem dinheiro que pague um pedaço de floresta. Os filhos do Chico Mendes não são índios, mas são nap+pe (não-indígenas) da floresta. Os fazendeiros sãos os besouros grandes que cortam a floresta. Os mineradores são o tatu grande que faz buraco e destrói. São como tatu-canastra – os mineradores, com unhas grandes, cavando lá no fundo em busca das riquezas da terra.
Nós, lutadores, nunca vivemos e nem morremos sozinhos. Nós confiamos em nossos líderes. O Chico já viveu e, agora, el cuida de nós. Nós, homens da floresta, somos frutos da terra, da força da natureza. Eu sou fruto, meu pai era fruto. Eu sou semente de meu pai. Semente do meu povo. Os filhos do Chico Mendes são sementes que devem continuar a luta.
Quero convidar o Sandino, filho caçula do Chico Mendes,e a Angela e a Elenira, filhas do Chico, para nos unirmos contra a destruição da floresta. E estender minha mensagem em nome do meu povo Yanomami para todos aqueles que lutam pela natureza no Acre e na Amazônia.
Foto: Acervo Comitê Chico Mendes
Davi Kopenawa Yanomami – grande líder da floresta, em depoimento a Zezé Weiss para o livro Vozes da Floresta, Ed. Xapuri, 2008. A data (20 anos) foi ajustada no texto (30 anos) , que em todo o resto continua exatamente como no depoimento original, gravado em Boa Vista, Roraima, no primeiro semestre do ano de 2010. A primeira linha do texto (faz quase…) foi adaptadda para os 30 anos: faz pouco mais de…