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Censo 2022: Brasil tem 1,32 milhão de quilombolas; região que concentra maior número é o Nordeste

O Instituto Brasileiro de e Estatística (IBGE) divulgou os primeiros resultados do Censo Demográfico 2022, revelando dados inéditos sobre a população quilombola residente no Brasil.  Esta foi a primeira vez que um Censo Demográfico contabilizou a população quilombola.

Com um total de 1.327.802 pessoas, que correspondem a 0,65% da população total do país, essas comunidades tradicionais têm suas maiores concentrações no Nordeste, sendo 905.415 quilombolas na região, seguida pelo Sudeste, com 182.305 pessoas, e pelo Norte, com 166.069 indivíduos. A Bahia é o com o maior quantitativo de população quilombola, representando 29,90% do total recenseado, seguido pelo Maranhão, com 20,26%.

Principais Dados

  • População quilombola no Brasil: 1.327.802 pessoas (0,65% da população total)
  • Regiões com maior quantidade de quilombolas: Nordeste (905.415 pessoas), Sudeste (182.305 pessoas) e Norte (166.069 pessoas)
  • Regiões com menor quantidade de quilombolas: Centro-Oeste (44.957 pessoas) e Sul (29.056 pessoas)
  • Bahia é o estado com mais quilombolas: 397.059 pessoas (29,90% do total recenseado)
  • Maranhão em segundo lugar: 269.074 pessoas (20,26% do total recenseado)
  • 1.696 municípios têm moradores quilombolas
  • Senhor do Bonfim (BA) é o município com mais quilombolas: 15.999 pessoas
  • 473.970 domicílios particulares permanentes têm moradores quilombolas (0,65% dos domicílios do país)
  • Média de moradores nas residências quilombolas é de 3,17 (2,79 no total do país)
  • 167.202 quilombolas vivem em 494 territórios quilombolas oficialmente delimitados (12,59% do total)
  • 1.160.600 pessoas quilombolas vivem fora de áreas formalmente reconhecidas (87,41% do total)
  • 426.449 quilombolas residem na Legal (32,11% do total da população quilombola do Brasil)
  • 80.899 quilombolas residem em territórios oficialmente delimitados (48,38% do total quilombola nacional nessa situação)

Desenvolvimento

O Nordeste se destaca como a região com a maior quantidade de quilombolas no Brasil, abrigando mais de 905 mil pessoas que representam 68,2% dessa população étnica. Em segundo lugar está o Sudeste, com aproximadamente 182 mil quilombolas, seguido pelo Norte, com 166 mil indivíduos. As regiões Centro-Oeste e Sul apresentam números menores, com 44.957 e 29.056 quilombolas, respectivamente.

A Bahia se sobressai como o estado com a maior população quilombola recenseada, totalizando 397.059 pessoas, o que equivale a 29,90% do total de quilombolas no país. Logo atrás está o Maranhão, com 269.074 quilombolas, representando 20,26% da população quilombola. Juntos, esses dois estados concentram mais da metade dessa população brasileira.

Entre os municípios, Senhor do Bonfim, na Bahia, destaca-se como aquele com o maior número de quilombolas, abrigando 15.999 pessoas. Outros municípios como Salvador, Alcântara (MA) e Januária (MG) também apresentam quantitativos significativos, reforçando a presença e importância dessas comunidades em diferentes partes do país.

Foto: reprodução//Agência Brasil

A Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq) considera a divulgação deste recorte do Censo uma conquista do movimento quilombola. “Estamos muito felizes de vencermos essa etapa. Esperamos reconhecimento em todas as esferas, tanto municipal, como estadual, como federal. Diante de um dado oficial, esperamos que os diversos órgãos nos reconheçam e nos deem acesso às ”, disse José Alex Borges, coordenador executivo da Conaq.

Ele aponta que houve dificuldades relacionadas a cortes de recursos financeiros e recursos humanos, dificultando a contagem nos diferentes territórios, mas destaca a importância do levantamento.

“É um instrumento legal. Nós temos inúmeros levantamentos feitos pelo movimento quilombola. Mas não é oficial. A partir de agora teremos esses números oficiais e poderemos cobrar dos governantes recursos e políticas públicas para nos atender”, afirma Alex.

Morador do Quilombo do Cumbe, em Aracati (CE), o educador popular João Luís Joventino do Nascimento avalia que o Censo deve tirar essas populações da invisibilidade. Em 2021, o município chegou a negar à sua comunidade o acesso prioritário à vacinação contra a covid-19, que era garantido pelo Plano Nacional de Imunização (PNI). Na época, a Defensoria Pública acionou a pelo reconhecimento do direito.

“Através do Censo, podemos ter um diagnóstico da situação de cada comunidade quilombola do Brasil. Vamos ter informação de quantos somos e como vivemos. O Censo também nos ajudará a silenciar gestões municipais que insistem em dizer que nós não somos quilombolas”, diz João Luís.

*Com informações da Agência Brasil

Fonte: Mídia Ninja. Foto: Mídia NINJA.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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