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CERRADO: BANCO DO FIM DOS TEMPOS

CERRADO: BANCO DO FIM DOS TEMPOS

Um banco do fim dos tempos para o Cerrado se definiria pela criação de um espaço adequado, com técnicas de armazenamento adequadas, para preservação do maior número possível de partes germinativas das espécies desse Sistema Biogeográfico, caso um apocalipse venha a destruir a vegetação dessa riquíssima matriz ambiental, para que no futuro ela possa ser, se necessário, refeita.

Por Altair Sales Barbosa

Os navios não só para a criação, mas para a manutenção de uma arca dessa natureza, do ponto de vista econômico são imensos e exigiriam um programa consistente de pesquisas, para o resgate dos conhecimentos atuais e para a formação de novos pesquisadores, dentro de uma ótica que não tivesse interrupção.

Também os desafios para a solução dos intrincados problemas ecológicos seriam imensos. E teriam que ser considerados desde o oligotrofismo do solo, como regime climático, balanço hídrico, e tantos outros que possibilitem a germinação e a sobrevivência das plantas retiradas do banco.

Caso o Cerrado venha a desaparecer totalmente, situação que se encontra prestes a acontecer, pela sua importância ecológica, para o equilíbrio das grandes áreas continentais do planeta, com certeza esforços na busca de soluções tecnológicas não seriam medidos.

O Cerrado, na plenitude da sua biodiversidade, já se encontra extinto. Considerando parte da complexa ecologia de sua história evolutiva, as formas vegetacionais, desde as suas origens, representaram importância fundamental na configuração da totalidade ambiental.

Entretanto, a vegetação, enquanto comunidades, não existe mais; porém é possível encontrar uma ou oura espécie isolada, sobrevivente da tragédia da extinção.

DIFUSÃO

Outra questão a ser colocada se refere à difusão do Cerrado e sua adaptação ao solo oligotrófico.

Em 1961, o pesquisador Mário Guimaraes Ferry se surpreendeu com a constatação de que, após vários anos de pesquisa acerca do Cerrado, nunca encontrou plantinhas de espécies permanentes que pudessem dizer, com segurança, que vinham de sementes. A reprodução vegetativa de vários tipos é responsável pela manutenção dessa vegetação em determinado local e por sua expansão em áreas adjacentes.

Experiências não publicadas com sementes de algumas espécies revelaram que não há, no Cerrado, dificuldade para a germinação em condições de laboratório. Todavia, as mesmas sementes não germinam, ou o fazem em uma porcentagem muito pequena, e mesmo quando há alguma germinação, a sobrevivência final é extremamente baixa fora de laboratório.

Isso pode ser explicado da seguinte forma: as sementes das plantas permanentes do Cerrado são produzidas e dispersadas geralmente ao final da época seca, quando muitas são comidas por insetos ou animais, muitas morrem pelo excessivo calor solar, e algumas apenas são preservadas em certos pontos mais abrigados.

No Cerrado antigo, a superfície do solo é dura e seca e tem baixo teor de coloides, assim quase toda a água das primeiras chuvas corre pela superfície. As sementes que iniciam sua germinação com as primeiras chuvas não encontram água suficiente para prosseguir em seu desenvolvimento.

O Cerrado é um dos ambientes mais antigos da história recente do planeta Terra, que tem início do Cenozoico, portanto trata-se de um ambiente onde os elementos fundamentais que o compõem já chegaram ao clímax evolutivo com grau elevado de especialização, e os componentes vivem em complexa simbiose, além de necessitarem de condições especiais para sobreviverem.

Sementes de algumas espécies, principalmente arbóreas, germinam até com certa facilidade em viveiros, chega-se a um total de aproximadamente 180 espécies, quantia que é insignificante, pois são conhecidas quase 13 mil espécies vegetais que compõem a flora do Cerrado.

Outro problema a ser considerado para o desenvolvimento das plantas cujas sementes germinam em viveiros é encontrar locais especializados, onde elas possam desenvolver e se tornarem adultas, de acordo com suas exigências adaptativas.

ADAPTAÇÃO

Algumas adaptações da vegetação do Cerrado, como o sistema subterrâneo desenvolvido desde o estádio de plântula, com raízes que atingem grande profundidade no solo em busca de água; os caules subterrâneos com fusão de reserva (xilopódio) e com gemas que permitem a reprodução das plantas depois da estiagem e das queimadas; a translocação de fotos assimiladas para o sistema subterrâneo nos períodos da seca; os caules aéreos com cortiças como proteção para o fogo; os solos com PH ácido; o acúmulo foliar de alumínio; e o ajustamento osmótico das raízes, possibilitando a entrada de água nos meses secos, são sinais de processos adaptativos de uma vegetação antiga.

Essas condições iniciais embasam um grande projeto no sentido de construção dessa estrutura preservacionista e futurista. No atual estágio, se encontra em conclusão um levantamento bibliográfico que contenha a listagem das plantas conhecidas do Cerrado, incluindo as obras que listam as plantas ameaçadas de extinçã

Paralelamente, diversos experimentos de preservação estão sendo realizados, desde condições de armazenamento até experimentos com germinação.

altair salesAltair Sales Barbosa –Arqueólogo. Antropólogo. Sócio Titular do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás. Pesquisador do CNPq. Conselheiro da Revista Xapuri desde dezembro de 2014. Pesquisador convidado da Universidade Evangélica de Goiás. Foto: Divulgação/ Matt Lavin.

 
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revista 115

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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