Cerrado: A Savana mais rica do mundo – O Cerrado é o segundo maior bioma da América do Sul. Concentra nada menos que 30% da biodiversidade nacional e 5% da flora e da fauna mundiais, abrigando 12.365 plantas, sendo 4.489 endêmicas; essa diversidade faz do Cerrado a savana mais rica do mundo.
Por Rosângela A. Corrêa
Apesar de sua abrangência, ocupando uma área de 2.036.448 km², cerca de 22% do território nacional, apenas 8,21% de sua extensão é preservada legalmente por meio de unidades de conservação.
Ao longo de 12 mil anos de ocupação humana, uma variedade de meios de vida e estratégias de uso e convivência no Cerrado, estabeleceu-se uma relação dos grupos humanos com essa diversidade ecológica.
Os povos indígenas e comunidades tradicionais do Cerrado (quilombolas, geraizeiros, ribeirinhos, babaçueiras, vazanteiros) são a representação atual dessa sociobiodiversidade, como conhecedores e guardiões do patrimônio ecológico e cultural da região.
O Cerrado não tem rios de grande vazão, mas ele fornece águas para as três maiores bacias hidrográficas da América do Sul: São Francisco, Tocantins-Araguaia e Paraná, por este motivo é considerado o “Berço das Águas” do Brasil. Todos os biomas do país, de alguma forma, bebem das águas do Cerrado e os problemas ambientais que o afetam podem desencadear efeitos negativos por quase todo o país.
Conservar os ecossistemas do Cerrado, especialmente os recursos hídricos, é fundamental para a manutenção da vida como um todo, além do que 90% dos brasileiros dependem da energia hidrelétrica gerada pelas suas bacias hidrográficas.
De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a área original do Cerrado possui apenas um terço do seu território intacto. Historicamente, a expansão agropastoril e o extrativismo mineral têm se caracterizado por um modelo predatório, provocando desmatamento e colocando em risco o equilíbrio ambiental, não somente nas paisagens, mas também nos modos de vida de suas populações que estão ameaçados, assim como a produção agrícola no Brasil, uma vez que a perda de vegetação nativa do Cerrado compromete a formação de chuvas por evapotranspiração e a infiltração das águas no solo para recarregar aquíferos e rios da região.
Existe uma ideia equivocada – e cristalizada pelo senso-comum – de que o Cerrado é feio, pobre, seco, improdutivo, sendo os povos que habitavam este território também associados às ideias de atraso e pobreza. No imaginário de muitas pessoas existe um estereótipo do Cerrado ilustrado por árvores secas e retorcidas, cascas espessas e folhas grossas, mas nem só de árvores vive o Cerrado, ele também oferece uma grande variedade de cactos, bromélias, orquídeas, palmeiras e gramíneas.
Destacamos que o conhecimento das comunidades tradicionais e dos povos indígenas associado ao uso e à aplicação das plantas medicinais do Cerrado contabilizam mais de 330 espécies, o que constitui um patrimônio cultural de grande importância.
Muitas espécies do Cerrado também são úteis para os seres humanos por serem alimentícias, energéticas, ornamentais, forrageiras, apícolas, produtoras de madeira, cortiça, fibras, óleo, tanino e material para artesanato. O desconhecimento sobre a sociobiodiversidade do Cerrado pela sociedade em geral tem justificado sua destruição.
Do que vive o Brasil? Desde o início da década de 1970, o Cerrado era considerado propício para a produção de commodities com o objetivo de tornar o país o “celeiro do mundo”, ou seja, o maior exportador de grãos, e assim aconteceu.
Hoje um total de 88 milhões de hectares e 44% da terra agrícola brasileira está no Cerrado. A pecuária se tornou um dos setores mais rentáveis da economia brasileira, sendo que a produção de 40% da carne bovina acontece no Cerrado, movimentando R$ 400 bilhões em 2016.
No Cerrado também se produzem 84% do algodão, 60% da soja e 44% do milho do país. A produção é feita predominantemente por sistemas de produção intensiva, com utilização de elevadas doses de fertilizantes e pesticidas, inclusive de pesada mecanização, com o fim de obter produtividades máximas.
O enorme potencial produtivo de suas terras, o alto valor de mercado das commodities e a participação desta produção no Produto Interno Bruto (PIB) fazem o Cerrado fundamental para a economia do país. Além disso, a expansão do monocultivo de eucalipto de forma desordenada e a produção de carvão aumentam mais ainda a degradação do Cerrado.
MUSEU DO CERRADO
Para repensar a imagem do Cerrado e oferecermos um espaço pedagógico para instituições não só educativas, resolvemos criar o Museu do Cerrado. O Museu é virtual e o nosso objetivo é divulgar os conhecimentos científicos e os saberes populares acerca da sociobiodiversidade do Sistema Biogeográfico do Cerrado.
O Museu é um espaço aberto para divulgação de informações/ações/projetos para a conservação, preservação e recuperação do Cerrado e a valorização do patrimônio ecológico, arqueológico e cultural das tradições culturais dos Povos do Cerrado através de conteúdos audiovisuais, artigos, teses, livros, documentos, manifestações artísticas, materiais pedagógicos etc, produzidos sobre o Cerrado.
Queremos comunicar a um público mais amplo e facilitar o maior envolvimento dos cidadãos nos debates e discussões que envolvem o Cerrado. O compartilhamento do saber em todas as esferas e em escala global é uma tendência nítida do mundo contemporâneo, por isto queremos aproveitar o espaço virtual para alcançar mais pessoas e gerar mais impacto na sociedade brasileira na defesa e proteção do Cerrado.
Só podemos ensinar sobre o Cerrado se o conhecermos a fundo. Só poderemos conservá-lo, se dele cuidarmos. Só cuidamos daquilo que amamos e é por amor ao Cerrado que criamos este Museu como forma de mostrar a sua infinita beleza e importância na vida de todos os brasileiros.
Texto gentilmente cedido à revista Xapuri por Rosângela A. Corrêa – Curadora do Museu do Cerrado Universidade de Brasília. Visite o Museu do Cerrado no seguinte site: museucerrado
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Réquiem para o Cerrado – O Simbólico e o Real na Terra das Plantas Tortas
Uma linda e singela história do Cerrado. Em comovente narrativa, o professor Altair Sales nos leva à vida simples e feliz no “jardim das plantas tortas” de um pacato povoado cerratense, interrompida pela devastação do Cerrado nesses tempos cruéis que nos toca viver nos dias de hoje.
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