Chico Mendes: 34 Anos sem a “Voz da Amazônia”

Chico Mendes: 30 Anos sem a “Voz da Amazônia”

Quando Chico Mendes foi assassinado, em 1988, eu contava apenas 3 anos, e ainda morava no distante seringal Sumaré, no rio Tarauacá.

Por  Regina Amélia D´Alencar Lino/A Voz da Amazônia 

Hoje, um pouco mais crescida, com um pouco mais de bagagem, a vida desse homem continua a me impressionar profundamente. Os que mitologizam Chico Mendes não o compreenderam.

Podemos chamar Chico de um grande homem porque ele foi além de seu tempo dentro de seu próprio tempo. Já sabia o caminho enquanto outros nem se davam conta de que havia um caminho.

Homem simples. E uma daquelas raras inteligências que, quando muito, surge de século em século.

Interessante por mostrar alguns dos personagens centrais dessa história, mas que nem sempre aparecem documentados, como então um dos diretores do Jornal O Rio Branco, João Branco, que diz:

“Nós combinamos com o Chico que ele teria de morrer entre seis e meia e sete horas, porque o nosso jornal fecha às nove. E ele compareceu ao encontro pra ser morto. O que você acha dessa tese, não é interessante?”

Fonte: /AlmaAcreana

Nota da Redação: Regina Lino – cronista acreana. Matéria publicada em 22 de dezembro de 2018, nos 30 anos da morte de Chico Mendes. Título com data atualizada (de 30 para 34 anos) pela Revista Xapuri em fevereiro de 2023.O texto não representa a opinião da Revista e é de responsabilidade da autora. 


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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação. 

Resolvemos fundar o nosso.  Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário.

Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também. Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, ele escolheu (eu queria verde-floresta).

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Já voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir.

Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. A próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar cada conselheiro/a pessoalmente (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Outras 19 edições e cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você queria, Jaiminho, carcamos porva e,  enfim, chegamos à nossa edição número 100. Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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