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Chico Mendes e a utopia socialista na Amazônia

e a utopia socialista na Amazônia

O sonho de Chico Mendes não era morrer por uma causa. Era viver e ajudar os a viverem na Amazônia…

Por Roberta Lessa / de Fato

 
Atenção jovem do futuro, 6 de Setembro do ano de 2120, aniversário ou centenário da Revolução Socialista Mundial, que unificou todos os povos do planeta num só ideal e num só pensamento de unidade socialista que pôs fim a todos os inimigos da nova sociedade. Aqui fica somente a lembrança de um triste passado de dor, sofrimento e morte. Desculpem… Eu estava sonhando quando escrevi estes acontecimentos; que eu mesmo não verei mas tenho o prazer de ter sonhado Bilhete de Chico Mendes, escrito em 1988, ano de seu assassinato”.
 
Esse sonho de Francisco Alves Mendes Filho, o Chico Mendes, não era um sonho solitário. Nascido no município de Xapuri (AC), em 15 de dezembro de 1944, Chico Mendes aos 10 anos já sustentava a família por causa de um acidente de que o pai sofreu. Conheceu cedo as injustiças e submetidas aos seringueiros.
No entanto, na sua juventude, Chico Mendes aprendeu a ler as palavras e o mundo com Euclides Fernando Távora, exilado político que vivia clandestino na Amazônia. Em 1975, participou da fundação do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) de Brasiléia e, em 1977, do STR de Xapuri, do qual se tornou presidente em 1981. Na década de 1980, tornou-se dirigente da Central Única dos Trabalhadores (CUT).
Muitos de seus companheiros também perderam a vida na luta pela preservação da Amazônia e dos povos da , entre eles, Wilson Pinheiro, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasiléia/AC, em 1980.
O sonho de Chico Mendes não era morrer por uma causa. Era viver e ajudar que os povos da floresta (seringueiros, indígenas e ribeirinhos) pudessem viver na Amazônia sem desmatá-la, como há mais de 100 anos faziam — no caso dos indígenas, há milênios.
Mas esse sonho era barrado pela exploração dos patrões seringalistas e, em meados da década de 1970, pelos fazendeiros vindo do sul do país que compraram seringais para transformar a floresta em pasto.
Nessa época, os seringueiros começaram a organizar os empates, forma de resistência pacífica em que homens, e crianças faziam um cerco humano para “empatar”, isto é, impedir o desmatamento.
Dos 45 empates realizados, 15 foram vitoriosos, pressionando o governo federal a criar , desapropriando alguns seringais. Darci Alves Pereira, a mando de seu pai Darly Alves da Silva, fazendeiro que teve seu seringal desapropriado, mata Chico Mendes no dia 22 de dezembro de 1988 quando este abria a porta dos fundos de sua casa para se banhar ao final do dia.
Ao invés de fragilizar a luta dos povos da floresta, a morte de Chico Mendes deu-lhe novo fôlego. Isso aconteceu, em grande parte, devido à pressão internacional, pois Chico Mendes já era conhecido internacionalmente, tendo ganhado, em 1987, o prêmio Global 500, concedido pela ONU (Organização das Nações Unidas) por seu destaque na defesa pelo .
Chico Mendes 3
Fonte: Matéria publicada no Brasil de Fato em Edição: Texto publicado originalmente em 2010 no Brasil de Fato

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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