CIMI reage as acusações do candidato “risco B” contra os povos indígenas

Cimi repudia veementemente acusações do candidato Jair Bolsonaro contra os povos do

O Cimi manifesta, inclusive, solidariedade a estes povos pelas ofensas injustas e aos Bispos, membros da Conferência Nacional do Bispos do Brasil (CNBB), também agredidos e aviltados covardemente pelo referido candidato.

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Acampamento Terra Livre (ATL) 2017. Foto: Guilherme Cavalli

O Conselho Missionário (Cimi) vem à público repudiar toda e qualquer acusação caluniosa e difamatória apresentada pelo candidato de extrema direita Jair Bolsonaro (PLS) contra os do Brasil. O Cimi manifesta, também, solidariedade a estes povos pelas ofensas injustas, que mais uma vez sofrem.

O Cimi reitera solidariedade a todos os Bispos, membros da Conferência Nacional do Bispos do Brasil (CNBB), também agredidos e aviltados covardemente pelo referido candidato.

Com base na legislação indigenista vigente no Brasil, o Cimi reforça, inclusive, a afirmativa de que não existe qualquer referência de nenhum dos povos indígenas do Brasil no sentido de almejar se tornar um ‘Estado’ e ou um território independente do Brasil. Ao contrário, há comprovada participação de dezenas de povos indígenas em guerras na defesa das fronteiras do Estado brasileiro.

Confira abaixo a nota de repúdio na íntegra: 

CONTRA O PAI DA MENTIRA

“Conhecerão a Verdade e a Verdade Vos Libertará” (João 8, 32)

O Artigo 20 da Constituição Brasileira define que “as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios” (Inciso XI) e “os recursos minerais, inclusive do subsolo” (Inciso V) “são bens da União”. São, portanto, propriedades do Estado Brasileiro.

O Artigo 06 do Decreto 1775/96 determina que as terras tradicionalmente ocupadas pelos povos indígenas sejam registradas “em cartório imobiliário da comarca correspondente e na Secretaria de da União do Ministério da Fazenda”.

O Parágrafo 3º. do Artigo 231 da nossa Magna diz que a pesquisa e a lavra de recursos minerais em pode ser realizada desde que autorizada pelo e de acordo com lei complementar.

O Parágrafo 4º. do Artigo 231 da Constituição Brasileira estabelece que as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios são inalienáveis.

Não existe qualquer referência de nenhum dos povos indígenas do Brasil no sentido de almejar se tornar um ‘Estado’ e ou um território independente do Brasil. Ao contrário, há comprovada participação de dezenas de povos indígenas em guerras na defesa das fronteiras do Estado brasileiro.

O candidato à Presidência da República Jair Bolsonaro é um político tradicional, deputado federal há 28 anos. Recebe salário e benefícios, pagos com recursos públicos, há quase três décadas. É de se supor, portanto, que conheça minimamente o conteúdo da nossa Constituição Federal.

“Existe uma contradição incontornável entre o conteúdo da Constituição Brasileira e da de nosso país e com as afirmações do candidato Jair Bolsonaro”.

No entanto, em vídeo que circula nas redes sociais e em entrevista recente a veículo comercial de comunicação, dentre outros impropérios, o candidato Jair Bolsonaro  afirma que demarcações de terras indígenas atenderiam a interesses de outros países e atentariam contra o interesse nacional. O candidato afirma ainda que haveria risco de povos indígenas formarem Estados independentes do Brasil. Com isso, o candidato tenta colar nos povos indígenas a pecha de pessoas não confiáveis, manipuláveis e traidores do Brasil e dos brasileiros, o que estimula o ódio e a violência de parcela da população brasileira contra esses povos e seus aliados.

Existe uma contradição incontornável entre o conteúdo da Constituição Brasileira e da história de nosso país e com as afirmações do candidato Bolsonaro. Diante disso, perguntamos: quais são as reais motivações do candidato ao proferir tão primárias e evidentes mentiras contra os povos indígenas e seus aliados no Brasil? Não há outra explicação: Bolsonaro objetiva defender interesses privados contra os interesses do Estado e do povo brasileiro.

O Cimi repudia veementemente as caluniosas, difamatórias e maldosas acusações do candidato Jair Bolsonaro contra os povos indígenas do Brasil e manifesta solidariedade a estes pelas ofensas injustas que mais uma vez sofrem.

O Cimi reitera solidariedade a todos os Bispos membros da Conferência Nacional do Bispos do Brasil (CNBB) também agredidos e aviltados covardemente pelo referido candidato.

Por fim, o Cimi manifesta apoio à posição política divulgada pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) por meio da Nota “Eleições 2018: Em defesa da democracia e dos nossos direitos”.

/DF, 23 de outubro de 2018

Conselho Indigenista Missionário – Cimi

ANOTE AÍ

Fonte: CIMI

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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