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Sérgio Pamplona: Técnicas de Construção Ecológica

SÉRGIO PAMPLONA: TÉCNICAS DE CONSTRUÇÃO ECOLÓGICA

Sérgio Pamplona: Técnicas de Construção Ecológica

Na construção do Espaço Educador do Sinpro, o Arquiteto Sérgio Pamplona utiliza técnicas ecológicas de construção como uma aposta na cultura da Sustentabilidade. Em entrevista exclusiva, Pamplona explicou à Xapuri como são essas técnicas

Por Redação/Revista Xapuri

Entrevista – Sérgio Pamplona

O Centro de Educação Socioambiental do Sinpro – Espaço Educador Chico Mendes – foi concebido e executado pelo bioarquiteto Sérgio Pamplona, da Arquinatura, de Brasília. Pamplona recebeu a Xapuri em seu sítio Nós na Teia, em Brasília, para esclarecedora entrevista sobre as técnicas e práticas sustentáveis utilizadas no Complexo.

Qual o conceito filosófico-ecológico adotado para a construção do Espaço Educador Chico Mendes?

Pamplona – A ideia da construção de um espaço educador com c veio da diretoria do Sinpro. A inspiração maior nós encontramos na professora Alda Ilza, que conhece tudo do local, é uma apaixonada pela educação ambiental e nos motivou muito na execução dessa ideia ecológica que deu certo.

Qual foi o ponto de partida?

Pamplona – Antes do início da construção dos prédios, em maio de 2012, realizamos várias intervenções no entorno para tornar o espaço mais sustentável. Em 2009-2010, fizemos o diagnóstico, o zoneamento e a redistribuição das áreas. Depois, nossa primeira intervenção foi no local das festas. Como o Sinpro organiza grandes eventos anuais para milhares de pessoas, a braquiária que cobria a área nunca se recuperava, deixando o chão pelado e cheio de erosões. Mudamos isso, começando pelo palco. Com o uso de uma patrola e em apenas uma semana, fizemos uma elevação e construímos um palco só com a movimentação da terra. Esse palco ficou ótimo, porque dele se pode ver todo o espaço e de qualquer lugar do espaço se pode ver o palco. À frente, cobrimos o chão com bloquetes de concreto permeáveis, que deixam a água passar, e de um lado construímos os quiosques de bambu, muito práticos.

Qual foi o próximo passo?

Pamplona – Conseguir no próprio local a terra de que precisávamos para as técnicas de bioconstrução. Para isso cavamos barraginhas que passaram a umedecer as áreas de agrofloresta. De um bosque de eucalipto que existia no local, retiramos boa parte da madeira para os prédios, abrindo a área para o plantio de espécies nativas na agrofloresta. Em seguida, cuidamos das águas. A água da piscina vinha da bica da nascente e não era aproveitada. Fizemos um tanquezinho para acumular a água, protegendo a nascente; construímos mais piscinas, devolvendo a água para a natureza.  Na bacia de drenagem, foi plantada uma agrofloresta, com muita banana, que já começa a produzir em abundância.

Que técnicas de bioconstrução foram utilizadas na construção das paredes?

Pamplona – Trabalhamos com quatro técnicas de construção, usando o barro local: superadobe, taipa de pilão, pau-a-pique e cordwood, aquela que tem as bolachas de madeira, na frente do sanitário seco.

Superadobe é uma técnica que muita gente conhece como terra ensacada. Você pega uma bobina de sacos e vai enchendo de terra e socando, como uma linguiça. É uma técnica simples, mas que exige muito cuidado com a umidade ideal, senão ela não consegue ser compactada do jeito certo. Você faz a linguiça de terra e vai subindo as paredes como um rocambole, em várias camadas.

A taipa de pilão é aquela técnica mais antiga, em que você coloca duas tábuas cercando e vai colocando e socando a terra no centro até formar a parede. Tanto o superadobe como a taipa de pilão são técnicas estruturais, não tem coluna na construção, as paredes são estruturais ou portantes, que é como se fazia antigamente. A Igreja de Pirenópolis é assim e tantas outras no Brasil.

Já as paredes de taipa onde se entremeiam madeiras são chamadas de pau-a-pique. Essa técnica nós usamos basicamente para as paredes externas, onde fizemos estruturas de madeira que sustentam os telhados vivos.

São as sólidas paredes de superadobe (com 40 – 70 cm de largura) e de taipa de pilão de até 9 metros de pé direito que sustentam o telhado dos prédios. Em algumas paredes internas usamos a técnica do pau-a-pique, com uma inovação: incluímos garrafas PET cheias de ar e fechadas. Com isso, demos destinação final a 30 mil garrafas PET, reduzimos a quantidade de barro e melhoramos a qualidade térmica do espaço.

Como foi feito o telhado?

Pamplona – Os pilares do telhado foram feitos com eucalipto tratado, em sua maioria retirado dos bosques da própria chácara. As demais estruturas foram feitas de bambu, com especial cuidado para garantir uma boa iluminação e uma excelente ventilação. Em uma parte, trabalhamos com telhas de madeira vindas do estado do Pará. Em outra parte, a professora Alda está fazendo testes com telhados verdes. Recentemente, foram plantadas flores comestíveis no telhado, como as capuchinhas.

Como é o sistema de sanitários compostáveis?

Pamplona – Temos no complexo dois sistemas de sanitários. Um com água, utilizando o sistema de evapotranspiração, para os vasos sanitários, que são jardins ferti-irrigados pelos esgotos, sem saída de efluentes. Para as águas de pias e chuveiros, usamos círculos de bananeiras, elementos simples de tratamento com infiltração no solo. E temos os sanitários secos, ou compostáveis, onde não se usa água, onde não se misturam as fezes na água.  As pessoas fazem suas necessidades numa câmara escura, que é voltada para o sol, que esquenta os dejetos, que são colocados em uma câmara com chaminés, e assim o sanitário não tem cheiro.  Essa é uma maneira de você não usar água, não poluir água e não ter que tratar água.

É diferente das casinhas de roça antigas, porque aqui a urina e os dejetos são tratados sem ter contato nem poluir o solo. Quando o material é retirado de lá, é só composto orgânico. Se você quiser usar em hortaliças, o composto precisa passar por um minhocário, para garantir 100% de qualidade e sanidade, mas para a agrofloresta em geral está pronto, é só usar.

Como funciona o sistema de drenagem ecológica do Complexo?

Pamplona – Optamos pela utilização do DrenoPET, técnica sustentável desenvolvida em Brasília, onde ao sistema de drenagem das construções se incorpora a reciclagem, por meio do uso de garrafas PET prensadas, em substituição aos materiais drenantes tradicionais. De forma muito simplificada: em vez do tubo corrugado perfurado próprio para drenagem e brita, usamos uma espécie de linguiça feita com geotêxtil do tipo bidim cheio de garrafas PET amassadas, formando um salsichão. O salsichão permite que não usemos a brita, deixando a água seguir seu caminho por entre as garrafas PET amassadas. Com isso, economizamos recursos naturais, contribuímos para colocar menos lixo nos aterros e viabilizamos um bonito projeto de engenharia ambiental.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

revista 119

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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