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Concentrando poderes na pasta da Agricultura, PL do Veneno está pronto para ser votado em plenário

Concentrando poderes na pasta da Agricultura, PL do Veneno está pronto para ser votado em plenário

Senado aprovou o PL na Comissão de Meio Ambiente e regime de urgência no mesmo dia. Proposta flexibiliza normas de autorização e comercialização de agrotóxicos.

Por Elizabeth Oliveira/O Eco

No último passo dado na tramitação do controverso Projeto de Lei 1459/22, o chamado PL do Veneno, o plenário do Senado aprovou, nesta quarta-feira (22), o regime de urgência para a tramitação da matéria, atendendo demanda da senadora Tereza Cristina (PP-MS), ex-ministra da Agricultura do governo Bolsonaro e expoente da bancada ruralista. Isso significa que a votação poderá ocorrer a qualquer momento, basta entrar na pauta do dia.

De tarde, o PL foi aprovado na Comissão de Meio Ambiente no Senado. Embora o texto do relator, senador Fabiano Contarato (PT-ES), tenha mantido um inciso que torna obrigatória a análise de riscos para o registro de agrotóxicos e outros produtos que demandem controle ambiental, conforme divulgado pela agência Congresso em Foco,  “a proposta estabelece que a reanálise dos pesticidas é de competência exclusiva do Ministério da Agricultura, sem auxílio da Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) e a coordenação do processo de reanálise dos produtos de controle ambiental será função do Ministério do Meio Ambiente”.

Pelas regras atuais que serão modificadas, caso o PL seja aprovado, conforme referendado até então pelo Senado, o registro de agrotóxicos no Brasil envolve um processo que passa pelo crivo de três órgãos: a Anvisa, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e o Ministério da Agricultura. Mas nessa perspectiva de “libera geral”, tão temida pelo movimento ambientalista e pelas instituições de ciência que sempre se posicionaram contrárias a essas alterações, Anvisa e Ibama passam a ter um papel de coadjuvantes no processo, como já tinha sido proposto também na tramitação pela Câmara. 

No início de outubro, quando estava prevista no Senado a votação do PL do Veneno, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) já havia se posicionado, alertando para os riscos envolvidos na modificação de regras de aprovação e comercialização de agrotóxicos no Brasil atreladas a esse Projeto de Lei em tramitação.

“Apesar de alguns avanços apresentados no Relatório, o referido Projeto de Lei, se aprovado no Senado da República, promoverá danos irreparáveis aos processos de registro, monitoramento e controle de riscos e dos perigos dos agrotóxicos no Brasil, responsáveis por graves danos à saúde humana e ao ambiente”, afirmou a Fiocruz em seu posicionamento. No documento, essa instituição de referência internacional em saúde pública, apresentou três principais ameaças atreladas ao PL do Veneno.

Foram mencionadas “a ameaça à função histórica dos Ministérios da Saúde e do Meio Ambiente sobre a regulação dos agrotóxicos, enfraquecendo o poder de decisão sobre o registro desses agentes e, também, a “permissão da exportação pelo Brasil de agrotóxicos sem registro e cujo uso é proibido em nosso país”. 

Foi pontuada, ainda, pela Fiocruz, a “manutenção do conceito de risco que abre possibilidades, por exemplo, do registro de agrotóxicos que causem câncer”. “Segundo a literatura científica sobre o tema, não existe uma relação de dose resposta para produtos cancerígenos. Pequenas doses podem gerar danos irreversíveis à saúde das pessoas”.

No posicionamento encaminhado ao Senado, a Fiocruz destacou que o Dossiê contra o pacote do veneno e em defesa da vida apresenta um conjunto de evidências técnicas sobre os riscos envolvidos, caso o PL venha a ser aprovado pelos senadores. Esse documento foi elaborado pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), Associação Brasileira de Agroecologia (ABA-Agroecologia) e Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e pela Vida, com o apoio da Fundação Oswaldo Cruz.

Segundo histórico apresentado na página de notícias do Senado, o PL passou por inúmeras alterações em duas décadas de tramitação na Câmara dos Deputados. “O projeto tramitou anteriormente na Câmara dos Deputados como PL 6.299/2002, em conjunto com outras 46 proposições, apensadas em fases diversas do debate, que tratavam do mesmo assunto”, informa o texto divulgado em setembro pela Agência Senado. 

“A redação desse projeto aprovado pela Câmara dos Deputados apresenta mudanças significativas em relação à proposta original, PLS 526/1999, aprovada no Senado em fevereiro de 2022. Ao contrário do projeto original, o substitutivo aprovado na Câmara, após quase duas décadas de tramitação, revoga a Lei 7.802, de 1989, e visa instituir um novo marco regulatório sobre o tema”, acrescenta na notícia sobre o histórico de transformações do PL.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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