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Cotas e desigualdade

Cotas e desigualdade

Nesse momento importante para o Brasil, em que, sobretudo, a população preta, continuará tendo acesso à Universidade, e também indígenas e quilombolas, pela Emenda que acaba de ser aprovada no Congresso, reafirmando o Sistema Nacional de Cotas.

Por Adair Rocha

No caso da parcela étnico-racial preta, pelos motivos históricos, sobejamente entristecedor, ao lembrarmos o processo de escravização, ainda presentes. As Cotas Raciais são também conhecidas por Ações Afirmativas.

Por mais que na argumentação de sua aprovação e continuidade, a questão da desigualdade social sejam afirmadas no âmbito da diminuição da desigualdade, do ponto de vista estruturante da sociedade, a questão carece de esclarecimentos, de natureza plural e diversa, para esclarecermos, de vez, esse ponto de partida, ou ambiguidade política, económica e cultural.

Apelamos aqui para o psicanalista, poeta e filósofo Hélio Peregrino, que se debruçou sobre essa questão, a partir da identificação de causa/efeito na relação Cotas e economia. Peregrino insistir na prática da produção do imaginário autoritário que se sustenta no mecanismo da troca do sintoma pela causa.

As Cotas são, portanto, um sintoma político cultural do não acesso, contraditoriamente, da maior parte da população brasileira, que é preta, com já citamos as razões históricas inimagináveis: pessoas de uma tradição étnico-racial, tratadas vamos mercadoria. A estes setores, acrescentem-se como inacessíveis, empobrecidos de outras etnias.

Conclui-se, portanto, inicialmente, que embora as Cotas denunciem as desigualdades e os preconceitos aí embutidos, elas abrem o caminho para a compreensão da questão central: elas existem para não existirem, na medida do acesso igualitário às políticas públicas e distribuição de riquezas que diminuam ou eliminemos o binômio: acúmulo/escassez.

Isso, naturalmente, demanda mudanças estruturantes, aliadas do pressuposto democrático que interfere no processo de definição do modo de produção, em curso, onde, participação e acesso possamos interferir na proporção do “lucro”, adequado à qualidade de vida da diversidade populacional., como podemos notar, portanto a desigualdade é a causa do não acesso, que impede a prática do direito, que é universal. Isso conduz à conclusão, imediata, que os empobrecidos de todas ad etnias, de favelas, de periferias, assentamentos e aldeias não são a causa da violência, vinculado, via de regra, pelo imaginário dominante. A causa está, exatamente, na existência de tais territórios empobrecidos ou inacessíveis.

Assim, a existência das Cotas está na proporção direta da presença das das favelas e periferias nos projetos urbanos,, e dos Sem Terra na medida dos latifúndios.

A relação acúmulo/escassez é a geradora impiedosa da desigualdade, como forma orgânica estruturante do modo de produção. As consequências do capitalismo global ou do globalitarismo, se expressam, localmente, nossas atrocidades.

O que exige também organizações paramilitares e para capitalistas para deslocarem o foco da violência para territórios onde ocorram as disputas económicas, culturais e políticas, vitimizando os sintomas da margem.

Adair Rocha – Professor Titular da FCS/UERJ. Foto: Divulgação. 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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