Covid-19: Estados da Amazônia patinam na vacinação

: Estados da Amazônia Legal sofrem com a pandemia e ainda patinam na vacinação

Enquanto a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19 expõe as diversas facetas do genocídio no Senado Federal, e o país ultrapassa o assustador número de 500 mil mortos pela doença, os Estados da Amazônia buscam na vacinação uma forma de superar os dias mais difíceis, que foram tão frequentes nos últimos meses. Estados como o e Maranhão, alguns dos que mais sofreram com a crise sanitária, hoje já ultrapassaram os 20% do total de vacinados.

No final de semana de 12 a 13 de junho, em Manaus, foram vacinadas 141 mil pessoas com idade a partir de 40 anos. Isso foi possível graças a um mutirão coordenado pelo Governo do em parceria com a Prefeitura, e que contribuiu para que, no dia 19 de junho, a capital amazonense ultrapassasse a marca de 1 milhão de doses aplicadas. Em todos os 62 municípios do Estado, esse número chega a 1,8 milhões de doses aplicadas, de acordo com dados da Fundação de Vigilância Sanitária (FVS). Atualmente, o Estado vacinou 28% da sua população.

No próximo final de semana, de 27 e 28 de junho, o Governo do Estado pretende realizar um novo mutirão de vacinação, desta vez com foco nas pessoas de 30 anos ou mais.

Apesar de serem números significativos, eles são incapazes fazer o manauara esquecer as imagens de dor e desespero do início da pandemia, em 2020, quando o município foi obrigado a abrir valas comuns para enterrar os mortos por Covid, e do início de 2021, período em que Manaus sofreu com o desabastecimento de oxigênio hospitalar, o que causou a morte por asfixia de centenas de pessoas infectadas pelo Coronavírus.

Em ambos os casos, o problema foi agravado pela incapacidade dos governos federal e estadual de atuarem juntos no combate à pandemia, e pelas dificuldades em tomar decisões firmes para garantir uma de distanciamento social. Quando soube da possibilidade de uma segunda onda que poderia colapsar novamente o sistema de do Estado, o governador Wilson Lima (PSC) determinou o fechamento do comércio, medida que foi duramente criticada pelo presidente Jair Bolsonaro, seus filhos e apoiadores. Pressionado também por empresários, que organizaram manifestações Centro de Manaus, Lima voltou atrás e permitiu o comércio aberto no período de final de ano. Essa decisão precedeu a crise do oxigênio no Amazonas.

O problema foi gerado porque a pandemia aumento significativamente o consumo diário de oxigênio medicinal no Estado. E apenas dois dias (14 e 15 de janeiro), aproximadamente 30 pessoas morreram por falta do insumo nos hospitais. Estado e município precisaram enviar pacientes para outras unidades da federação que ainda dispunham de leitos de UTI. As imagens de terror e desespero rodaram o , o que fez com que artistas como Paulo Gustavo, Whindersson Nunes e Tirulipa, sensíveis com o problema, arrecadassem oxigênio e enviassem para Manaus. A capital amazonense também recebeu toneladas de oxigênio da Venezuela, que chegaram via estrada, já que o governo Federal brasileiro demorou para disponibilizar aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) para realizar o transporte. A ineficiência do governo federal nesse episódio foi uma das principais pautas da CPI da Covid no Senado.

Outro agravante em Manaus foi a tentativa do Governo Federal de fazer experimentos com o uso de medicamentos sem qualquer comprovação científica de eficiência contra o Covid-19, como a cloroquina e a ivermectina. O fato foi comprovado durante o depoimento da Secretária do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, conhecida como Capitã Cloroquina, que esteve em Manaus durante o momento mais sensível da pandemia na cidade. Mayra admitiu que indicou que médicos da capital amazonense adotassem o protocolo do “tratamento precoce” para a doença.

Restrições e Vacina no Maranhão

No Maranhão do governador Flávio Dino (PSB), que têm sido um contraponto às ingerências do governo Bolsonaro, os números de vacinação estão ainda mais animadores. Atualmente, 2,7 milhões de doses já foram aplicadas no Estado. Na última quinta-feira (24), o governo do Estado recebeu os primeiros lotes da vacina Janssen, de dose única. Somadas à Coronav, Astrazeneca e Pfizer, o número de doses distribuídas já ultrapassa os 3,3 milhões. Nesta sexta-feira (25), o governo realizará um “Arraial da Vacinação”, será destinado a pessoas na faixa etária de 30 anos ou mais; gestantes puérperas a partir de 18 anos; e pessoas com comorbidades a partir de 18 anos.

Com uma consistente política de restrição e distanciamento, e foco na compra de vacinas, o Estado foi considerado o de melhor desempenho no combate à Covid-19, segundo pesquisa do Centro de Lideranças Públicas (CLP) que avaliou os 27 Estados da Federação. Ainda assim o Maranhão registrou 312 mil casos da doença até a quinta-feira (24), e 8,8 mil mortes.

Cloroquina para os Amapaenses

Assim como o Amazonas, o Estado do Amapá também foi vítima da falácia bolsonarista e adotou o protocolo do tratamento precoce, com o uso de medicamentos comprovadamente ineficazes contra a doença, como a cloroquina e a ivermectina. Ávido em defender esse tipo de tratamento, o senador Luís Carlos Heinze (PP-RS) chegou a afirmar diversas vezes na CPI da Covid que o Amapá tem a menor taxa de letalidade do país. Isso gerou uma discussão com o vice-presidente da comissão, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que garantiu que os dados apresentados por Heinze são falsos.

Dados do Ministério da Saúde corroboram com o argumento do senador amapaense, e mostram que outros Estados da região Norte, como Pará e Tocantins, têm coeficientes de mortalidade menores que o do Amapá. Atualmente, o Amapá registra 116 mil casos de Covid-19 no Estado, e 1,8 mil mortes. Em relação à vacinação, o Estado chegou a 208,4 doses aplicadas.

Saúde indígena

Até a quinta-feira (24), foram registrados 443 mil casos de covid-19 e 11,6 mil óbitos em Mato Grosso, segundo dados do boletim epidemiológico divulgados pela Secretaria de Estado de Saúde. Segundo o painel da Secretaria, 1.090.103 pessoas receberam a 1ª dose e 440.68 receberam a 2ª dose da vacina até essa data. Mato Grosso oscila entre as piores posições no ranking de vacinação e, chegando a ser o último. Atualmente, apenas quatro estados estão atrás.

Além da escassez de vacinas, que ocorre em todo o país por negligência do governo federal, em Mato Grosso há o agravante da demora na distribuição das doses pelo estado aos municípios e da burocratização da vacinação em diversas . A capital Cuiabá exige cadastro pela internet e manteve um único local de vacinação por quase três meses, e apenas na semana passada abriu mais três pontos.

A situação se mostra mais grave quando analisados os públicos-alvo da fase 1, que já deveriam ter sido integralmente imunizados com as vacinas já recebidas.

Levantamento feito em abril pelo deputado estadual e médico sanitarista Lúdio Cabral (PT) com base nas resoluções da Comissão Intergestores Bipartite (CIB), comparadas com o painel de vacinação do Ministério da Saúde, mostrou que, na época, dos 28.758 indígenas que vivem em territórios indígenas em Mato Grosso, apenas 59,5% receberam a 1ª dose (17.116 pessoas) e 39,3% receberam a 2ª dose (11.291 pessoas). Ele entrou com representação no Ministério Público Federal (MPF) no dia 16 de abril para que o órgão investigue as razões da baixa cobertura vacinal e acione a União para garantir a vacinação dos indígenas.

“Isso é inadmissível, considerando que os indígenas fazem parte do grupo prioritário de vacinação, e a entrega das doses destinadas a esse público ocorreu há três meses, em 19 de janeiro. Os indígenas têm prioridade na vacinação por terem imunidade mais baixa a infecções e epidemias que outras populações. Por isso, é tão preocupante a vacinação não ter sido concluída, o que deixa esses povos expostos à covid-19”, afirmou Lúdio, que já atuou como médico em aldeias.

Desempenho ruim

Além do Mato Grosso, outros estados da Amazônia Legal figuram na parte de baixo do ranking de vacinação. É o caso de Roraima, por exemplo, que, atualmente, é o último colocado, com apenas 20,53% da sua população vacinada. 129.556 pessoas receberam a primeira dose, enquanto 63.908 pessoas foram vacinadas com a segunda dose do imunizante. O Estado registrou 111 mil casos de Covid-19 desde o início da pandemia, e 1,723 mortes.

Um pouco acima de Roraima, o Acre têm hoje 21,79% da sua população vacinada. São 194.907 primeiras doses aplicadas, e 66.349 pessoas que receberam a segunda dose da vacinação. O estado registrou, até o momento, 60.069 casos de infecção por coronavírus, e 1.047 mortes.

Tocantins é outro Estado que também ainda patina nos índices de imunização. Com apenas 22,8% da sua população vacinada, o Estado aplicou a primeira dose da vacina em 363.890 pessoas, e a segunda em 140.076. Ao longo desse período de pandemia, o Estado registrou 195 mil casos de infecção pela doença, e 3,148 mil mortes.

Rondônia chegou nesta semana a 22,54% da sua população vacinada. O número de pessoas vacinadas com a primeira dose chegou a 404.853, e a quantidade de imunizados com a segunda dose é 145.520. Rondônia registrou nesta pandemia 246 mil casos de infecção por coronavírus, e 6.092 mortes ocasionadas pela doença.

De Andres Pascal (AM) com colaboração de Laíse Lucatelli (MT), Luciana Oliveira (RO), Marcos Jorge Dias (AC) –  Matéria publicada originalmente no Jornal Brasil Popular, em 28 de junho de 2021. Capa JBP. 


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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