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CPI do MST visa barrar mobilização que o governo precisa para fazer mudanças

CPI do MST visa barrar mobilização que o governo precisa para fazer mudanças

O deputado Orlando Silva teme que a comissão parlamentar sirva apenas para desmoralizar o Congresso e seus instrumentos de investigação, ao dar continuidade a uma “farsa resultante da ressaca da eleição”

Por Cezar Xavier/Portal Vermelho

O deputado Orlando Silva teme que a comissão parlamentar sirva apenas para desmoralizar o Congresso e seus instrumentos de investigação, ao dar continuidade a uma “farsa resultante da ressaca da eleição”

A CPI do MST é uma farsa. Esta é a qualificação que o deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP) faz da Comissão Parlamentar de Inquérito que investiga o Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terra. Para ele, tudo não passa de uma montagem feita pela extrema-direita para tentar organizar uma narrativa de que o MST poderia ferir a vida democrática ou seria uma ameaça à propriedade privada. “Tudo conversa fiada, tudo cascata!”, enfatiza ele.

O deputado participou de uma conversa no canal Geringonça, acompanhado de Ceres Hadich, da direção nacional do MST, em que avaliaram, com militantes do Coletivo Resistência, os trabalhos e objetivos da CPI que deve recomeçar após o recesso. 

“Eu temo que a CPI do MST sirva para desmoralizar o Congresso Nacional, na medida que a população vê que dinheiro público está sendo gasto em reuniões inúteis, que servem para uma meia dúzia de extremistas radicalizados de direita ficarem fazendo proselitismo político”, lamentou.

Na opinião do parlamentar, a CPI tende a desmoralizar o instrumento de investigação. Ele conta que a Comissão Parlamentar de Inquérito é um mecanismo que os parlamentos possuem desde o século XIX, quando essa experiência surgiu na Alemanha. “É um instrumento para que o parlamento se aprofunde, faça uma investigação, uma apuração circunstanciada sobre temas relevantes, que podem produzir resultados que se transformem em aperfeiçoamentos legislativos ou da atividade do Poder Executivo. Essa CPI não tem nada a ver com nada”, analisa. 

Mira no movimento social

Orlando observa que a CPI é sequela da ressaca da eleição, em que a extrema-direita perdeu, ficou sem rumo, e se aproveitou de um momento em que o governo do presidente Lula ainda não tinha estruturado a sua base de apoio. “Eles miraram no MST, porque ele é um dos principais símbolos da luta popular”.

Para ele, a estratégia visa a barrar a luta popular, porque a esquerda aprendeu no primeiro ciclo de governos de Lula e Dilma, que não basta ter presidente da República, em ter maioria circunstancial no Parlamento. “Para fazer as mudanças que o Brasil precisa, para viabilizar o projeto que o Brasil precisa, não basta ter uma maioria circunstancial no parlamento”.

Orlando diz defender a incorporação dos partidos de centro na base do governo, mas considera isto insuficiente, pois as mudanças exigem mobilização e organização do povo, contra a pressão que vem da mídia e do capital financeiro. “Se não tiver um contraponto popular, vai ser mais do mesmo. Por isso que eles tentam intimidar o MST”. 

Partir para a ofensiva

O deputado ressalta que a CPI não serve para criminalizar o MST, como se diz comumente. Para ele, o MST não tem como ser criminalizado, porque não comete crime. “O que eles querem fazer é intimidar a luta popular e nos colocar na defensiva”, analisou.

Apesar das preocupações de setores da esquerda com a prorrogação da CPI e o modo autoritário como os trabalhadores são encaminhados, Orlando acredita que os proponentes da comissão só perderam terreno, desde que a CPI foi instalada. “Não há repercussão na mídia tradicional, que não está dando a menor pelota para essa CPI. Exceto essa bolha que eles nutrem e que se sacia com esse discurso de ódio que eles fazem, não há repercussão na sociedade”, diz ele, avaliando que a CPI não alcançou o objetivo de fazer uma disputa na sociedade brasileira.

“Nada nos leva a crer que isso vai mudar”, diz ele. Orlando argumento que não existe nada a apurar, a sociedade os vê como caricatura e a própria proposta de adiar a conclusão dos trabalhos, revela, em si, o esvaziamento da CPI. O parlamentar do PCdoB acredita que, ao pedir 60 dias, vão ganhar 30 e “ficar enredados num problema”. 

“Meu palpite é que no próximo período vai seguir essa toada, sem nenhuma incidência sobre a vida real do povo brasileiro e sobre a vida política nacional.” 

Orlando diz que não está preocupado com os rumos da CPI nas próximas semanas. Ele considera que, ao alargar o “festival de horrores” que fazem toda semana, vão dar palco para o debate da reforma agrária e ainda correm o risco de levar quadros da esquerda que “dão um banho neles”. “Vai ser um tiro pela culatra!”

“A minha preocupação está em como a luta popular vai se localizar na conjuntura. É isso que me interessa”, afirmou. Orlando ainda criticou setores da esquerda que criticam a luta do MST por receio de afetar o governo.

“Ocupação de terra devoluta é uma forma de luta política, como é a greve, como é a passeata, como é uma concentração. Tem um time que está lá resistindo brilhantemente, denunciando os ataques da extrema-direita”, elogiou. Agora, é pressionar o presidente da Câmara, Arthur Lira, para não abrir mais espaço para o espetáculo da extrema-direta.

Orlando insistiu que mobilizar a sociedade em defesa das mudanças do Governo Lula é o que lhe interessa como agenda política. Segundo ele, a conjuntura está evoluindo, conforme as condições econômicas do Brasil melhoram. “O governo brasileiro está recuperando a credibilidade internacional do país, isso tem repercussão na economia. As coisas começam a entrar no eixo e não acho razoável a gente ficar na defensiva, por isso, eu estou seguro que o desfecho dessa CPI será a nosso favor, porque não tem o que apontar”.

Orlando alerta ainda que a CPI é também diversionismo, e cortina de fumaça para a agenda que a extrema-direita de Ricardo Salles quer articular no Congresso. Ele citou o marco temporal, que legaliza a exploração das terras indígenas. “Nós temos que desanuviar o ambiente ao denunciar a farsa da CPI, mas ao mesmo tempo reafirmar valores. Porque o MST fala de comida de verdade, de comida sem veneno, do papel da agricultura familiar”. 

Ele ainda afirmou que o agronegócio produz para exportação, porque tem a Embrapa que faz pesquisa e ajuda a desenvolvê-lo no Brasil. Esse setor ocupa um grande espaço na economia, porque tem financiamento público, com juros subsidiados por parte do estado brasileiro. “Por isso que, quando a gente fala que o Estado falhou ao não ter a visão da reforma agrária, é porque cabe ao Estado fazer isso. Sempre foi assim em todos os países do mundo. Eu sinto que temos que pensar mais sobre como afirmar narrativa, projeto histórico, os nossos valores, para que a gente possa empurrar para a frente o desenvolvimento do Brasil”, concluiu.

Fonte: Portal Vermelho Capa: Divulgação do Abril Vermelho do MST


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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