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A História do Contrabando das Sementes de Seringueira

A História do Contrabando das Sementes de Seringueira

A História do Contrabando das Sementes de

Por: Gomercindo Rodrigues 

A domesticação da seringueira, árvore nativa da , foi um bem elaborado projeto do governo britânico, mais especialmente do Ministério da Índia, através se seu funcionário Clemens R.  Markham, conforme relata Warren Dean em seu livro “A Luta pela Borracha no Brasil“.

Por muito tempo aquele funcionário do Ministério da Índia, que já participara da transferência e da domesticação da chinchona, originária do Peru,  para a produção de quinino, atuou dentro do seu local de no sentido de persuadir o Ministério a que procurasse a que procurasse a domesticação a seringueira, a partir dos relatórios de que dispunha.

Segundo Dean, foi Markham quem conseguiu que o Consulado Britânico em Belém fosse orientado para conseguir sementes de seringueira, através do senhor Wickham, que vivia em Santarém.

Wickham, nos vários relatos que fez da saída de sementes e duramente contestado pelo próprio Dean, levantando vários pontos duvidosos de tais relatos, mas o  mais importante é frisar que, cm astúcia, ou não, o aventureiro  inglês conseguiu transportar cerca de 70 mil sementes de seringueira para o Jardim Botânico de Kew, onde chegaram em junho de 1876.

A História do Contrabando das Sementes de SeringueiraDean, em seu relato coloca que “também se afirmou que, contrariamente à versão de Wickham, as autoridades brasileiras sabiam o que ele estava fazendo. O. Labroy e V. Cayla, que em 1913 escreverem um estudo semi-oficial sobre a borracha na Amazônia, dizem que Wickham teve êxito ´graças à benevolência do governo brasileiro, que mandou índios colherem essas sementes nos seringais de firme´. Aparentemente, esses autores estavam empenhados em salvar as aparências. 

Ninguém mais repetiu tal afirmação, nem ofereceu provas, embora pareça estranho que Wickham tivesse passado um ou ano ou mais colhendo sementes de seringueira sem conhecimento das autoridades, pelo menos no nível local. Afinal, havia em Santarém um chefe de policia e um juiz que não eram ineficientes, portanto as autoridades locais podiam muito bem saber as intenções de Wickham, porém, não lhe puseram obstáculos. ”

Seria muito difícil com os dados disponíveis, dar razão aos questionamentos levantados por Dean, da mesma forma como o seria contestá-los. Não obstante, é importante frisar que poucos anos antes o governo brasileiro fizera direitinho o jogo do governo inglês quando da Guerra do do Paraguai.

Portanto, a saída das sementes de seringueiras ter sido mais uma grande jogada da qual participaram autoridades brasileiras, não seria novidade alguma. Por outro lado, muito mais fácil de justificar para a história oficial inglesa se eles não aparecerem, também neste caso, envolvidos em pilhagem internacional, que foi o que realmente aconteceu.

Dean tenta justificar essa situação de forma até simplória ao falar do cultivado pelo aventureiro inglês: “o elemento de duplicidade foi essencial em sua história. Se Wickham não tivesse corrido perigo, não haveria triunfo; se sua proeza não tivesse parecido roubo, paradoxalmente não haveria honra.  Para os servidores aposentados do Império que se reuniam no Royal Colonial Institute, onde Wickham arengava no fim da vida, grande parte do encanto de sua narrativa estava, não resta dúvida, numa vitória astutamente obtida sobre os nativos.” Para tentar justificar o saque de sementes da seringueira da Amazônia, Dean cita vários exemplos de importação de produtos para o Brasil, sendo o principal deles  o café, trazido a partir da Guiana Francesa. tudo fica

A partir dessa visão, produto por produto, tudo fica muito simples. Resolvido no roubo pelo roubo e no dito popular que diz que “ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão.”  O que seria importante discutir é: qual resultado prático para a Amazônia da retirada de sementes de seringueira desta região para o seu cultivo no sudeste asiático? Qual a repercussão disso, cem anos depois, sobre os habitantes da região  Em que isso repercute até hoje sobre o equilíbrio ambiental no planeta?

Se sairmos da árvore em si, ou de seu produto, a borracha, para saber qual a importância dele no mundo moderno e como vivem as populações que por mais de um século têm dependido, de um forma ou de outra do extrativismo na Amazônia, aí talvez comecemos a entrar numa discussão mais humana, e, portanto, mais candente. Isso sem contar que é muito importante discutir a questão da biopirataria, assunto extremamente atual e importante.

Desde 1912, quando começou a entrar no mercado internacional a borracha produzida a partir dos seringais de cultivo no sudeste asiático, a história dos amazônidas mudou radicalmente.

Os seringalistas, falidos, deslocavam-se para as capitais, deixando os seringais e os seringueiros abandonados à própria sorte nas lonjuras nos seringais, dias e dias, às vezes meses e meses, distantes das cidades, sem ter como ficar e tampouco como sair.

O preço da borracha caiu no mercado internacional a partir de 1912. Com isso, essa deixar de ser uma atividade interessante para os investidores internacionais. As casas aviadoras fecharam suas portas. Os seringueiros passaram a vender para os regatões que pagavam preços míseros pela borracha produzida.

Somente em 1940, com o fechamento dos portos do Oriente pelos japoneses, a Amazônia voltou a ter alguma importância na produção da borracha natural. Os aliados tinham o maior interesse e se dispuseram a investir na produção desse preciosa matéria prima.

A Amazônia estava, de novo, praticamente despovoada de seringueiros. Recorreu-se, mais uma vez, ao para conseguir a mão-de-obra necessária para a produção em escala industrial que a Guerra pedia.

Outro tema importante: hoje tem-se o seringueiro como um “guardião da floresta”, mas ele continua competindo de forma desigual com os seringais de cultivo e com os subsídios oficiais para a produção de látex e borracha do sudeste asiático. Qual o incentivo para que o “guardião da floresta” permaneça em seu posto?


guma

 

Gomercindo Rodrigues é advogado,  inscrito na OAB/AC sob o nº 1997.  Gomercindo Rodrigues cita Warren Dean: A Luta pela Borracha no Brasil. São Paulo. Editora Nobel. 1989. Foto interna: Carolina Mitzuka.

 

 

 


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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