Infância: Espaço sagrado do aprender, livre pensar e viver indígena
Infância: Espaço sagrado do aprender, livre pensar e viver indígena
Por Ailton Krenak
‘Perguntar para uma criança o que ela quer ser é uma ofensa. Isso é apagar o que ela já é’ – A infância é espaço sagrado do aprender, livre pensar e viver. Precisamos aprender com os povos indígenas a respeitar esse espaço e saber que o tempo certo de cada coisa virá
Diz Ailton Alves Lacerda Krenak, mais conhecido como Burum Krenak – Ambientalista, filósofo, um líder indígena e escritor brasileiro. Considerado uma das maiores lideranças do movimento indígena brasileiro, possuindo reconhecimento internacional. Ailton Krenak, dirige o Núcleo de Cultura Indígena, é idealizador do Festival de Dança e Culturas Indígenas, ambos na Serra do Cipó (MG).
“O mestre que quero compartilhar é esta entidade intangível que é a natureza. É uma aventura viver e sobreviver quando se está em fricção com a natureza. A natureza me ensinou o sentido da liberdade e que reconhece todos os outros como iguais. Isso é liberdade. E como vivo num mundo de iguais, não tenho do que ter medo.”
“Mymba oparõ py’aporã, omyangekói, mba’épa, ojuhu avakuérape”.
Tradução do Guarani: Se todo animal inspira ternura, o que houve, então, com os homens? Guimarães Rosa
Fotos de Iêda Vilas Bôas
Em seu livro: O Eterno Retorno do Encontro, ele acrescenta:
“Tanto nos textos mais antigos, nas narrativas que foram registradas, como na fala de hoje dos nossos parentes na aldeia, sempre quando os velhos vão falar eles começam as narrativas deles nos lembrando, seja na língua do meu povo, onde nós vamos chamar o branco de Kraí, ou na língua dos nossos outros parentes, como os Yanomami, que chamam os brancos de Nape.
E tanto os Kraí como os Nape sempre aparecem nas nossas narrativas marcando um lugar de oposição constante no mundo inteiro, não só aqui neste lugar da América, mas no mundo inteiro, mostrando a diferença e apontando aspectos fundadores da identidade própria de cada uma das nossas tradições, das nossas culturas, nos mostrando a necessidade de cada um de nós reconhecer a diferença que existe, diferença original, de que cada povo, cada tradição e cada cultura é portadora, é herdeira.
Só quando conseguirmos reconhecer essa diferença não como defeito, nem como oposição, mas como diferença da natureza própria de cada cultura e de cada povo, só assim poderemos avançar um pouco o nosso reconhecimento do outro e estabelecer uma convivência mais verdadeira entre nós(…)
Por isso que os nossos velhos dizem: “Você não pode se esquecer de onde você é e nem de onde você veio, porque assim você sabe quem você é e para onde você vai”. Isso não é importante só para a pessoa do indivíduo, é importante para o coletivo, é importante para uma comunidade humana saber quem ela é, saber para onde ela está indo(…)
Tanto nos textos mais antigos, nas narrativas que foram registradas, como na fala de hoje dos nossos parentes na aldeia, sempre quando os velhos vão falar eles começam as narrativas deles nos lembrando, seja na língua do meu povo, onde nós vamos chamar o branco de Kraí, ou na língua dos nossos outros parentes, como os Yanomami, que chamam os brancos de Nape.
E tanto os Kraí como os Nape sempre aparecem nas nossas narrativas marcando um lugar de oposição constante no mundo inteiro, não só aqui neste lugar da América, mas no mundo inteiro, mostrando a diferença e apontando aspectos fundadores da identidade própria de cada uma das nossas tradições, das nossas culturas, nos mostrando a necessidade de cada um de nós reconhecer a diferença que existe, diferença original, de que cada povo, cada tradição e cada cultura é portadora, é herdeira.
Só quando conseguirmos reconhecer essa diferença não como defeito, nem como oposição, mas como diferença da natureza própria de cada cultura e de cada povo, só assim poderemos avançar um pouco o nosso reconhecimento do outro e estabelecer uma convivência mais verdadeira entre nós”.
Edição Iêda Vilas Bôas