DEGRAUS DE AZALEIAS E GENTE
No coração da cidade, a escadaria da Trinità dei Monti se abre em leque, em pedra clara, sob o céu limpo de abril…
Por Antenor Pinheiro, especial de Roma, Itália
É primavera — e com ela, as azaleias da Praça de Espanha. Chegam feito as coisas belas, sem anúncio. Discretamente estão ali, em vasos alinhados como oferendas, cobrindo degraus com a delicadeza que desafia o peso da arquitetura.
São brancas, cor-de-rosa, rubras — pequenas explosões de cor contra o mármore pálido. Mil pessoas capturam imagens. Há algo naquele contraste que as obriga ao clique. A cidade eterna, feita de colunas, impérios e guerras, agora tocada por flores frágeis que vencem a pressa.
O ar carrega o perfume sutil e se mistura ao cheiro de pedras aquecidas pelo sol, ao leve aroma de café que vem das calçadas, ao murmúrio dos idiomas que se cruzam como velhos conhecidos. O mundo inteiro parece estar ali, olhando as mesmas flores.
Um artista senta-se à sombra com seu caderno. Um casal se apoia nos degraus, rindo baixinho. Uma criança corre, tropeça no vaso e volta para os braços dos pais. Uma mulher tira os sapatos e respira fundo para guardar aquele instante dentro de si. E as azaleias nada dizem, apenas florescem.
Fazem da escadaria um jardim suspenso, como se Roma, cansada de ser eterna, quisesse apenas ser brevemente bonita.
Quando a derradeira luz do sol se impõe, a praça ganha um tom de pintura antiga. Há silêncio entre vozes. Há calma que não se explica, como se o tempo tivesse parado para ver as azaleias também.
Não se trata só de flores. É um lembrete de que a beleza vive no breve — e que até o mais grandioso dos lugares pode florescer lindamente em silêncio.
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p class=”” data-start=”53″ data-end=”135″>Antenor Pinheiro – Geógrafo. Membro do Conselho Editorial da Revista Xapuri.