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Terra Indígena Karipuna: Destruição chega a mais de 10 mil hectares

Terra Karipuna: Destruição já chega a mais de 10 mil hectares

Após sobrevoo, Greenpeace e Cimi apresentaram uma denúncia ao MPF com imagens que comprovam que a destruição é quase quatro vezes maior do que os dados oficiais mostram
POR GREENPEACE BRASIL

Neste mês de julho, o Greenpeace e o Conselho Missionário (Cimi) protocolaram no Ministério Público Federal de Rondônia (MPF-RO) uma denúncia que explicita que a destruição da floresta na Terra Indígena Karipuna é quase quatro vezes maior do que os dados oficiais do Estado consideram.
As análises evidenciam ainda que o processo de devastação tem se intensificado expressivamente nos últimos anos. A denúncia foi enviada também ao Ministério da (MJ), ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e à Fundação Nacional do Índio (Funai). Leia a denúncia.
Segundo os dados oficiais do Programa de Cálculo do Desflorestamento da (Prodes), entre 1988 e 2017,2.823 hectares (ha) dos 152 mil hectares da Terra Indígena Karipuna foram desmatados. Sendo que 40% deste total, o que corresponde a 1.139 ha, ocorreu entre 2015 e 2017.
Mas são os dados de degradação (não divulgados pelo governo brasileiro desde 2014) que mostram a trágica dimensão da destruição do território Karipuna. Utilizando imagens de dois satélites diferentes, analistas de geoprocessamento do Greenpeace detectaram que, entre setembro de 2015 e maio de 2018, pelo menos 7.640 hade floresta foram degradados dentro da TI.
Cabe ressaltar que dos 10.463 ha de florestas degradados e desmatados dentro da TI Karipuna desde 1988, mais de 80% ocorreram entre 2015 e 2018.
 

Sobrevoo e registro da destruição

Acompanhado de ativistas do Greenpeace e de um representante do Cimi, a liderança André Karipuna pôde constatar do alto, durante um sobrevoo realizado no início de junho, a extensa e complexa rede de estradas construídas ilegalmente para acessar o território de seu . Do avião, foi possível identificar amplas áreas de floresta alvos de extração de madeira e clareiras com grande volume de toras na iminência de serem transportadas.
Karipuna
“Não restam dúvidas quanto à gravidade do processo de invasão e destruição do território Karipuna. O desafio agora é identificar os responsáveis por estes crimes e continuar pressionando o Estado brasileiro para que revise sua estratégia de proteção desta e de outras terras na Amazônia; especialmente em Rondônia onde, na prática, a pilhagem destes territórios virou regra”, afirma Danicley de Aguiar, especialista em Amazônia do Greenpeace.
A Terra Indígena (TI) Karipuna, localizada a 280 km da capital Porto Velho (RO) foi homologada pela Presidência da República em 1998. Desde setembro de 2017, mesmo diante de diversas ameaças e intimidações, lideranças Karipuna denunciam aos órgãos do Estado brasileiro a dramática realidade enfrentada pelo seu povo. Em abril deste ano, Adriano Karipuna levou o caso ao conhecimento internacional na 17ª Sessão do Fórum Permanente sobre Assuntos Indígenas da Organização das Nações Unidas (ONU), realizada em Nova Iorque.
No último dia 12 de junho, o juiz federal Shamyl Cipriano determinou que uma ação compartilhada entre as Forças Armadas, a Polícia Militar Ambiental, a Polícia Militar, a Secretaria de Estado de Ambiental (Sedam) e a Funai colocasse em prática um plano de proteção territorial à TI Karipuna.
De acordo com a coordenadora do Cimi em Rondônia, Laura Vicuña Pereira Manso, o que se observa é um avanço das investidas de grupos econômicos para legitimar ações de diminuição da TI Karipuna. “Se isso acontece em uma terra indígena já homologada, há o perigo de que estas investidas se propaguem para outros territórios na Amazônia, e no Brasil”, alerta.

Todos os Olhos na Amazônia

A Associação Indígena do Povo Karipuna Abytucu Apoika, o Greenpeace e o Cimi estão trabalhando juntos no monitoramento da invasão da TI Karipuna, e para que os criminosos sejam responsabilizados. Estas organizações fazem parte da coalisão “Todos os Olhos na Amazônia”, que tem como objetivo principal apoiar a luta de povos indígenas e comunidades tradicionais pela de suas florestas. Outros parceiros nesta iniciativa são a Fase-Amazônia, a Coiab e a Artigo 19, no Brasil, e a Witness e a Hivos, dentre outras que atuam no cenário internacional.
Fonte: CIMI


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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