Dialogando com EUCLIDES DA CUNHA nesse tempo boçal

Dialogando com EUCLIDES DA CUNHA nesse tempo boçal
 
O poeta batista filho, transcende o tempo e espaço e, poeticamente, dialoga com EUCLIDES DA CUNHA pelo reforço da resistência nesse tempo boçal
 
 
dói em mim perceber
que
ao comprido do Tempo
o bicho-homem
– iletrado ou doutor –
sempre arranjou jeito
de abdicar do livre-arbítrio
e não só seguir
como também
se transformar em manada
donde
submisso a um homem-bicho
segue resoluto
pronto a matar e a morrer por
“alguém que lhe traduzisse a idealização indefinida,
e a guiasse nas trilhas misteriosas para os céus”*.
enquanto diferentes berrantes
ajuntam manadas similares
nos quatros cantos do mundo
a Terra vai girando
e seguindo seu caminho
mesmo sendo mutilada
pelo bicho-homem
“que no decorrer da história assumiu o papel de terrível fazedor de desertos”*
tanto no seu entorno
quanto dentro de si mesmo.
há de se tirar água doce
do salobro de nossas almas
para que
a borboleta
e a flor
continuem
a voar e a florir
nas manhãs renovadas.
(encantado, 20/10/2020, madrugada alta.)
.
* Euclides da Cunha, Os Sertões.
Fonte: Facebook

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HORA DE VESTIR A CAMISA DO LULA

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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação. 

Resolvemos fundar o nosso.  Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário.

Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também. Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, ele escolheu (eu queria verde-floresta).

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Já voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir.

Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. A próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar cada conselheiro/a pessoalmente (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Outras 19 edições e cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você queria, Jaiminho, carcamos porva e,  enfim, chegamos à nossa edição número 100. Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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