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“Dor não passa enquanto existir ameaça” 

“Dor não passa enquanto existir ameaça” (Assim dizia TT Catalão) 

DOR não comemora
não se celebra,
DOR não cala
enquanto 1964, berra!

Por TT Catalão
 

DOR ainda dói,
mesmo em quem
reaprendeu a sorrir,DOR a gente lembra 
por ofício do agir em
tributo ao resistir;
DOR pra evitar,
pra cortar
pra desmontar sua
trama armada, sua
oficina, pela raiz;só adora a DOR quem
adormecido,
insano, infame,
odeia ao redor e
quer sua pátria infeliz:QUANTO MAIS DITA,
REPETIDA…TANTO
MAIS DURA, NÃO CICATRIZADOR a gente só lembra
pra não repetir,DOR não comemora
não se celebra,
DOR não cala
enquanto 1964, berra!

 
DOR SEM COURAÇA,
CAPUZ, TRAPAÇA.
PORÕES. VERNIZ,
DOR SEM TRIBUNAS,
TRIBUNAIS, MANDATOS
OU JUIZ;
qto mais dita, repetida,
intervenção TT s/ cartaz de Zeit_der_Kannibalen – filme de johannes naber no 64o. festival d berlim

Como diz TT Catalão: "Dor não passa enquanto existir ameaça". #DitaduraNuncaMais!

“A trajetória do poeta se confunde com a de . Ele chegou a ser figura de destaque no extinto Ministério da  (MinC), durante o governo Lula. Ele foi um dos mentores da construção coletiva do Programa Cultura Viva, um dos projetos mais bem avaliados do ministério.”( Correio Braziliense)


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

revista 119

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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