É a Geopolítica, estúpido

É a Geopolítica, estúpido
 
“Como estão dizendo por aí: a ideologia passa, a geografia fica.”
 
 
Dentre tantas coisas interessantes acontecendo, uma delas é a aproximação entre Biden e o antes ‘ditador’, e agora ‘presidente’ da Venezuela, Nicolás Maduro. A aproximação deixa de lado Guaidó, espécie de presidente de ficção mantido pelo departamento de estado.
 
Não se trata apenas de petróleo. A ação diplomática trata de preservar o espaço de hegemonia geopolítica dos EUA, a fim de evitar que amanhã ou depois a Venezuela se torne a sua própria Ucrânia, servindo de suporte para bases russas ou chinesas no futuro. Acordos de cooperação militar entre esses países já existem, embora a presença militar dos EUA na América do Sul seja muito superior: 26 bases.
 
Cuidar do espaço geopolítico seria o que deveríamos estar fazendo na América do Sul, o que significaria ter acordos de cooperação militar tanto com Venezuela, quanto com a Colômbia, Peru e Chile.
 
A simplificação de ‘esquerda e direita’ garante que isso nunca aconteça, fazendo-nos olhar na direção oposta a da realidade, que é determinada pela geopolítica e não pelo progressismo ou conservadorismo das pautas.
 
Os que ainda se pautam nisso para se posicionar em conflitos dessa natureza são como aqueles ‘trouxas’ de Harry Potter: não fazem a mínima ideia do enredo em que são figurantes
 
Como estão dizendo por aí: a ideologia passa, a geografia fica.
 
E já passou da hora de considerar a América do Sul como um espaço geopolítico próprio, autônomo, com seus próprios interesses e valores.
 
Leandro Altheman Lopes – Jornalista acreano. Capa: Gazeta do Povo. 

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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação. 

Resolvemos fundar o nosso.  Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário.

Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também. Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, ele escolheu (eu queria verde-floresta).

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Já voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir.

Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. A próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar cada conselheiro/a pessoalmente (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Outras 19 edições e cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você queria, Jaiminho, carcamos porva e,  enfim, chegamos à nossa edição número 100. Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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