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Mas, afinal, para que serve o PIB?

MAS, AFINAL, PARA QUE SERVE O PIB?

Mas, afinal, para que serve o PIB?

PIB, para que serve? No seminário “Crises e Estratégias Sindicais”, realizado pela CUT, em 2011, o doutor em Ciências Econômicas  e professor titular da PUC de São Paulo, Ladislau Dowbor apresentou um trabalho intitulado “O debate sobre o PIB: estamos fazendo a conta errada”.

Por Trajano Jardim

Dowbor suscitou a discussão sobre o papel do PIB na vida do cidadão comum e a sua interferência no desenvolvimento, no meio ambiente e no bem-estar da população, principalmente daquela parcela mais carente da sociedade.

No início do seu trabalho, Dowbor afirma que nós, simples mortais, que não fazemos contas macroeconômicas, entendemos esse sistema complexo como a diferença entre o surgimento de novos empregos, quando ele está em alta, ou de desemprego quando ele está em baixa.

Para os governos, é a diferença entre ganhar ou perder uma eleição. Para os colunistas de economia, que juram entender do assunto, é uma ótima oportunidade para darem a impressão de que sabem do que se trata. Para o autor “é uma oportunidade para desancar o que é uma contabilidade clamorosamente deformada”.

No entendimento de Dowbor, uma boa parcela de pessoas e técnicos de ponta no cenário nacional e internacional vê o comportamento econômico ser calculado cansativamente, sem respeitar os direitos da população e os princípios de sustentabilidade ambiental do planeta.

Assim, não se pode afirmar que a economia vai bem, com alto índice de produto interno, se o povo vai mal e o PIB não leva em conta a agressão ao meio ambiente que reduz o estoque de bens naturais do planeta.

Quando um país propõe uma política desenvolvimentista voltada para o consumismo exacerbado, a diferença entre os meios e os fins na “contabilidade clamorosamente deformada”, por certo influenciará nas políticas públicas de saúde, educação e saneamento básico da maioria da população.

Do ponto de vista da saúde pública, a política preventiva traz muito mais benefícios sociais, em termos de custo-benefício, se comparada com a curativa-hospitalar.

Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostram que os investimentos na área social trazem mais resultado para o desenvolvimento do país do que o agronegócio.

O impacto dos programas sociais e seu efeito multiplicador para o crescimento do produto após a simulação de um incremento no valor dos gastos públicos sociais de 1% do PIB na matriz, no final do ciclo gera um crescimento do PIB de 1,37%.

O multiplicador do gasto social, em termos de PIB, é consideravelmente maior que o multiplicador dos gastos com os juros da dívida pública, 0,71% (quase o dobro), quase idêntico ao das exportações de commodities, de 1,40%, mas é inferior àquele do investimento em construção civil, 1,54%.

Para Dowbor, no conceito privatista do sistema de saúde brasileiro, se nos colocarmos na ótica de uma empresa que visa somente o lucro, que vive de vender medicamentos ou de receber diárias exorbitantes nos hospitais, naturalmente prevalecerá a necessidade voraz do aumento do PIB e o consequente aumento do lucro.

Capa: Katia, filha de Morzaniel e Ehuana, carregando seu pequeno wii a (cesto), aldeia Watoriki, Demini, Terra Indígena Yanomami, Amazonas.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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