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Eduardo Guimarães: Moro reconhece ser suspeito para me julgar

Eduardo Guimarães: Moro reconhece ser suspeito para me julgar  e sai do processo

No último dia 26 de maio de 2017, o juiz da 13ª Vara de Curitiba, Sergio Moro, acolheu manifestação deste blogueiro no sentido de que, por ter representado criminalmente contra mim por afirmar que eu o “ameacei” pela internet, é suspeito para me julgar pela acusação que me foi feita de “embaraçar” investigações contra o ex-.

Já no início da decisão, Moro deixa ver a que veio ao “explicar” que demorou quase 60 dias para simplesmente decidir se estava ou não impedido de me julgar. Ele argumenta que tinha outros processos para analisar. A decisão sobre ser ou não suspeito, porém, não demandava diligência alguma, mas, tão somente, consciência e responsabilidade.

 

processo 1

Pela segunda vez, processo da justiça de Curitiba contra mim tem que ser desfeito por conter manifestas ilegalidades na origem. Em meados de maio, os que me acusaram de ameaçar Moro recuaram de me indiciar em processo movido por Moro contra mim por dita “ameaça” que eu teria divulgado contra ele no Twitter

Na decisão, Curitiba diz que estava recuando de meu indiciamento por mera liberalidade, mas, na verdade, o recuo decorreu de que, independentemente de ter ocorrido ou não a “ameaça”, esse é um crime de menor potencial ofensivo e, assim, nem cabe indiciamento.

Apesar disso, em 3 de abril último eu tinha sido indiciado. ILEGALMENTE.

Agora, Moro publica uma decisão que revela uma Justiça “autista”, que toma decisões sem conhecimento de causa, sem profundidade. E que recua ao sabor dos fatos e da repercussão de suas ações.

A peça tenta, ainda, demonstrar uma equidistância e uma superioridade em relação a mim que contradizem a truculência e os meios tonitruantes usados para me perseguir por minhas opiniões políticas.

Por fim, além de tentar demonstrar uma postura que os fatos contradizem, a decisão de Moro trata de me desqualificar e difamar atribuindo-me decisões que não tomei e coisas que não disse ou que foram distorcidas.

Vamos aos fatos.

A decisão começa revelando suspeitas de fatos inegáveis e comprováveis por qualquer um que tenha um computador conectado à internet.

processo 2

A justiça de Curitiba “suspeita” de que eu “teria divulgado informação aos investigados e ainda no Blog” da ? Como assim, “suspeita”? Está publicado no Blog. A matéria foi divulgada em 26 de fevereiro de 2016, uma semana antes da 24ª fase da Operação Lava Jato. Como pode ser “suspeita” um fato comprovável simplesmente acessando esta página?

Mais adiante, a peça incorre em impropriedade sobre o depoimento que foi tomado de mim ilegalmente, porque sem a presença de um advogado e após me ter sido dito que se eu não me manifestasse seria “pior para mim”.

processo 3

Os fatos: já enquanto era conduzido, antes mesmo de chegar à sede da Polícia Federal, fui informado de que minha fonte já havia sido identificada. Eu não precisei revelar nada. Eles me mostraram inclusive as fotos das pessoas que me enviaram as informações antes mesmo de eu dizer que alguém chamado “Francisco” havia me procurado 3 dias antes de eu divulgar a matéria no Blog da Cidadania.

Ao chegar ao destino, o delegado começou a me interrogar sem a presença do meu advogado e com perguntas capciosas, registrando, em meu depoimento, coisas que eu não havia dito.

Por conta das incorreções, o delegado que me ouviu teve que fazer TRÊS retificações consecutivas no texto, lido às pressas por meu advogado – que chegou segundos antes de eu assinar o documento sem sequer ter lido direito – e por mim.

O delegado manifestou forte a retificar o texto três vezes e se recusou a fazer mais alterações.

O meu advogado, doutor Fernando Hideo Lacerda, e mais dois advogados enviados pelo coordenador da minha defesa, doutor Serrano – que pensou que o doutor Hideo não chegaria a –, são testemunhas desses fatos.

Mas o mais interessante é a decisão que o juiz Moro toma evidentemente por conta da nota de protesto da Abraji.

processo 4

Quanto medo da Globo. Sim, da Globo, porque a Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) é uma entidade ligada aos grandes meios de . E a Abraji protestou contra minha prisão – sim, condução coercitiva é prisão – porque já intuía que, ao perseguir um jornalista – Moro diz que não sou, mas TODAS as entidades representativas do jornalismo e jornalistas famosos dizem o contrário –, todos os outros estavam em risco.

Como ficou demonstrado no episódio recente envolvendo o jornalista Reinaldo Azevedo.

Dali em diante, o juiz Moro começa a se explicar sobre como pode me processar por “ameaça” e, ao mesmo tempo, ser meu julgador no processo por “embaraçar investigações” contra Lula.

processo 5

Moro tenta se apresentar como polo passivo na ação que move contra mim por “ameaçá-lo” ao dizer que não é meu “inimigo capital”. Conversa. Vamos ler mais um pouco para ver como essa alegação é inverídica.

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Trocando em miúdos:

Processar alguém por xingar ou ameaçar só pode ser feito pelo alvo da ameaça, do insulto, da calúnia ou da difamação. Apesar de a Apajufe (Associação Paranaense de Juízes Federais) ter proposto a Moro a ação, sem a representação dele não haveria ação alguma.

Reforçando: o autor da denúncia feita contra mim por ameaça é o juiz Sergio Moro, não a Apajufe.

Mas o mais grave é que o texto junta um comentário que é meu com outro que não é meu.

processo 7

Eu escrevi o primeiro parágrafo, o segundo não sei de quem é, trata-se de um comentário aposto ao que eu escrevi. Ponto. E é, claramente, um comentário idiota, mas nada tem que ver com o que escrevi. E nem deveria ter sido levado em conta.

É óbvio que se trata de uma estupidez de alguém que não mede o que diz. Há milhares de comentários iguais na internet. Abaixo, um exemplo.

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Será que a Apajufe mandou a Justiça perseguir a autora desse comentário?

O último argumento que o juiz Moro dá antes de reconhecer que é suspeito para me julgar, se não fosse trágico e verdadeiramente assustador, seria divertido. Ele diz que “não se lembrava” de que me processa por “ameaça” e de que fez isso dois meses depois de eu representar contra ele no Conselho Nacional de Justiça.

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Com a clara intenção de me desqualificar, apesar de ter movido céus e terras contra mim, o juiz diz que meu Blog é “pouco conhecido”. É tão “pouco conhecido” que a 24ª fase da Lava Jato teve sua execução adiada por conta do que aqui foi publicado e, como se não bastasse, estou sendo perseguido pela justiça e pelo magistrado mais famoso do Brasil.

globo lava jato

O Blog da Cidadania é tão pouco conhecido que um blogueiro da Veja “denunciou” a tal da ameaça.

blogueiro analfabeto

Todos os dias, Sergio Moro ou Lula ou Aécio Neves ou qualquer figura pública de relevo são insultados, ameaçados e difamados milhões de vezes na internet. De forma muito mais grave do que a que me é atribuída. Todos os dias, informações sensíveis são divulgadas por toda internet. E ninguém dá bola porque essas coisas são ditas por gente realmente desconhecida.

Como se vê, não é o caso do Blog da Cidadania…

Mas, como Moro sabe que não pode me julgar por ser meu inimigo capital e que, ao me perseguir, cometeu uma impropriedade jurídica – para dizer o mínimo -, saiu-se com todo esse discurso. Mas, ao final, declarou-se SUSPEITO para me julgar.

processo 10

Resta, porém, uma dúvida: na mão de quem meu processo vai parar? Seria de algum juiz da Apajufe? Se for, será igualmente suspeito, porque a Apajufe está envolvida em um processo contra mim totalmente fundado em falsidades. Ou seja: essa investigação por “embaraçar investigações” tem que sair da Justiça paranaense. Em nome do Estado de Direito.

PS: Com esse processo, Moro destruiu a minha vida profissional e financeira. Perdi todas as minhas representações. E tenho uma filha doente para sustentar. Peço sua ajuda para divulgar os fatos deste post.

PS 2: Se alguém puder colaborar com o Blog, eis um link para fazê-lo. Esses processos infames que sofro me causaram graves danos morais e financeiros. Clique aqui para colaborar

ANOTE AÍ:  Este texto foi originalmente publicado em – http://www.blogdacidadania.com.br/2017/05/moro-reconhece-ser-suspeito-para-me-julgar-e-sai-do-processo/.  Em para com o  jornalista,  em defesa da liberdade de imprensa, e contra toda e qualquer forma de restrição dos , compartilhamos, aqui, a informação de Eduardo Guimarães.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

revista 119

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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