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O Babu foi embora

O Babu foi embora em plena flor da idade
 
O Babu foi embora, deixando a Bela sozinha. Mas a tristeza não é só de Belinha. Assim como eu, muita gente em hoje se sente órfã com a morte repentina de Babu, o nosso elefante do Zoológico.
 
Todo que me conhece sabe que o emprego que mais gostei nesta minha de muitos fazeres, no e mundo afora, foi o de ser diretora do Zoológico de Brasília.
 
E, dentre as minhas muitas alegrias naquele pedaço de chão encantado, uma das minhas mais bonitas foi o meu encontro com Bela e Babu, o casal de elefantes africanos que desde 1995 viviam por ali em uma casa provisória, apertada e inadequada.
 
O ano era o de 1997. Mal cheguei e o “lobby Bela-Babu” me cercou por todos os lados. Os elefantes precisavam de uma casa nova, me diziam todos, dos biólogos aos tratadores. Optamos, então, por mobilizar o governo e a comunidade brasiliense para, em recorde (menos de um ano), construir a Galeria África e, nela, majestosa, a casa-grande de Babu e Bela.
 
O biólogo Marcelo cuidou dos detalhes todos. A “cozinha” para a alimentação balanceada, o “quartão” de dormir, o cercamento reforçado, o piscinão caprichado. Plantamos, também, árvores adultas e caras, tudo no maior dos caprichos.
 
Chegado o dia da mudança, seu Valter, o tratador, preparou rango reforçado de boas-vindas, tudo fresco, nos trinques. Depois da grande logística do traslado, todo mundo foi pra casa feliz, deixando Babu e Bela na casa nova, novíssima.
 
Manhã seguinte, Babu tinha aprontado. Entre um banho e outro, foi arrancando as árvores do recinto, algumas pelos galhos, outras inteiras mesmo. No entusiasmo, a gente tinha esquecido que colocar as estacas de proteção ao redor dos pretensos “baobás” da nossa amorosamente improvisada savana africana.
 
O resto é . Na casa nova, Babu e Bela foram felizes por quase 20 anos. Sestroso, Babu inventou de jogar em visitante. Acho que era o jeito dele de dizer “dá o fora!”.
 
No caminho de pra Brasília ouvi hoje no rádio que Babu tinha morrido. Tão cedo, seu menino! Elefantes em zoológicos vivem cerca de 60 anos. Babu tinha só 25. Era um jovem senhor!
 
Menos mal que foi rápido o passamento de Babu. A morte foi repentina, de parada cardiorrespiratória, diz o pessoal do Zoo.  No domingo pela manhã ele, que nunca tinha adoecido, amanheceu acamado e não quis comer.
 
Medicado, parecia que ia melhorar, mas não melhorou. Tomou soro, pro fígado. Não adiantou. De noitinha, por volta de 20h30, o coração de Babu parou. Que pena! Babu era um bom camarada. Vai fazer falta!
 
Elefante Babu morre e intriga veterinários do zoológico
 

 

 
 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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