Encantou-se Ana Fonseca, a “pensadora” do Bolsa-Família

Ana Fonseca, a quem devemos o Bolsa-Família – 

Por Paulo Moreira Leite no Brasil 247

A de Ana Fonseca privou o país de uma de suas intelectuais mais importantes e decisivas. Ela foi o principal cérebro por trás do Bolsa-Família, programa social cujos méritos gigantescos não é preciso louvar aqui. Se hoje milhões de brasileiros podem desfrutar de um dos mais bem sucedidos programas de social de nossa época, imitado e copiado em dezenas de países, os louros políticos devem ser atribuídos a Lula. O principal mérito intelectual de um que ajudou a tirar o país do mapa da fome da ONU é de Ana Fonseca, cearense de Fortaleza, com uma acadêmica forjada na Unicamp, falecida neste domingo.

Nos primeiros meses do governo Lula, Ana Fonseca enfrentou e venceu uma disputa interna em torno de duas visões distintas para se construir a melhor proposta  para dar conta do grande compromisso de campanha, que era reduzir a miséria e a do país.

Uma dessas propostas consistia na unificação dos programas  de distribuição de já existentes, em várias prefeituras do país, inclusive o Renda Mínima da prefeitura de Marta Súblicy, em . A ideia aqui era era criar um programa social do Estado, com o engajamento de prefeituras para a distribuição de seus benefícios, com regularidade e pontualidade, através de um pagamento mensal garantido em quantias pre-estabelecidas, a partir de critérios cientificamente rigorosos e socialmente justos.

A outra ideia excluía a administração pública. Baseava-se nos e pretendia, a partir de assembléias populares em cada cidade, construir um sistema paralelo pelo qual a própria população carente seria responsável pela coleta e partilha de recursos. A noção, aqui, é que envolver a administração pública no processo iria trazer o empreguismo, a , a troca de favores e todos os demais desvios apontados no cotidiano do Estado brasileiro.

A primeira alternativa, que teve em Ana Fonseca sua maior expressão, foi afinal vitoriosa, por escolha de Lula, decisão que produziu uma importante cisão do início do governo entre o Planalto e sua ala ligada a fatia a esquerda da Igreja Católica.

Recebido com uma campanha de denúncias da TV Globo, que assumiu o mote que ligava o programa à troca de favores e a corrupção antes mesmo de explicar do que se tratava, o Bolsa Família trouxe uma mudança profunda e duradoura, que ressaltava o papel prioritário que o só o Estado pode assumir na contra a miséria econômica e a exclusão social.

Enquanto adversários sempre utilizaram  o preconceito mais arraigado para manter a pobreza intacta, que consiste em responsabilizar os mais pobres pela própria pobreza, Ana Fonseca nos ajudou a encarar nossa realidade como ela é, contribuindo para nos fazer um país de cidadãos mais livres e conscientes de nossas origens e dificuldades.

ANOTE AÍ:

Fonte: https://www.brasil247.com/pt/blog/paulomoreiraleite/348609/Ana-Fonseca-a-quem-devemos-o-Bolsa-Fam%C3%ADlia.htm

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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