Ennio Brauns, presente!

Ennio Brauns, presente!

O fotógrafo de mil pautas e lutas morreu em 24 de junho. Ele cobriu a cena e social entre o final dos anos 1970 e início dos anos 1980 e foi colaborador da Fundação Perseu Abramo

Por Rogério Chaves/Focus Brasil

Ennio Brauns, fotógrafo e camarada, partiu numa tarde do último sábado, 24 de junho. Foi encontrar Alípio Freire — ex-padre e ex-guerrilheiro, jornalista, falecido em 2017 — para falar de política e arte, rir e debochar da vida. E nós ficamos aqui, numa tristeza danada. Nos últimos tempos, há pelo menos um ano, estávamos juntos no coletivo formado para a criação do Instituto Estação Paraíso.

Em 23 de junho, Ennio sofreu um infarto poucas horas antes do lançamento da segunda edição do livro que batizou o instituto. Infelizmente não participou da atividade que reuniu a professora Walnice Nogueira Galvão, Edilson Moura, Jonathan Constantino e muita gente boa na histórica Maria Antonia, em .

Lá, não pode assistir ao lançamento do site em homenagem ao Alípio e nosso instituto. Ele nos ajudou a reunir conteúdos, contatou amigos e amigas em torno do virtual. No dia 24, ainda hospitalizado, sofreu outros dois infartos e não resistiu. Partiu, encantado, agora deve mirar suas lentes de outro ângulo.

Ennio Brauns participou ativamente, na Fundação Perseu Abramo, da organização dos “Máquinas Paradas, Fotógrafos em Ação” (2017), junto de Adilson Ruiz, e “ Unificado – a resistência nas ruas” (2020), com Gevanilda Gomes dos Santos e José Adão de Oliveira.

Além destes livros, Ennio colaborou com outras publicações da FPA. Parte de seu acervo fotográfico está disponível no Centro Sérgio Buarque de Holanda (CSBH).

O Centro Sérgio Buarque de Holanda, o centro de documentação e política da Fundação Perseu Abramo, armazena parte do acervo fotográfico de Ennio, publicado, em sua grande maioria, no jornal “Em ”.

O fotógrafo fez parte da primeira geração do periódico, em fins dos anos 1970 e início dos 1980, e entre esses registros estão as greves do ABC, o movimento de fundação do , atos pelo fim da militar, mobilização de trabalhadores urbanos e rurais, manifestações do 1º de Maio, entre outros. Ao todo são 250 fotografias, mais as edições do Em Tempo, que também estão disponíveis no acervo digital do centro.

Obrigado, camarada Ennio, pela companhia e dedicação aos registros fotográficos de tantos momentos históricos das lutas populares. Que Luzia Cardoso, a companheira de Ennio, e familiares recebam nosso abraço solidário e fraterno. Luto é .

Fonte: Focus Brasil Capa: Reprodução/Focus Brasil


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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