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ERA UMA VEZ UM COQUEIRO ALTO CHAMADO BURITI

ERA UMA VEZ UM COQUEIRO ALTO CHAMADO BURITI

Era uma vez um coqueiro alto chamado

Era uma vez… 

Por  

Era uma vez…

Um lugar onde corria água,

Mas chegou um homem e comprou.

Trouxe um operário e um trator.

Hoje, onde corria água, tem cinza!

Era uma vez…

Um lugar onde tinha um brejo.

Uma família de pés de BURITIS,

E muitos sapos a festejar.

Hoje, quem reside lá são eleitores!

Era uma vez…

Uma grota que escorria pela encosta.

Onde escondia à tarde, a coruja noturna,

E cantava o caburé adivinhador de chuvas.

Hoje, mal cheira nossos excrementos!

Era uma vez

Um coqueiro alto chamado BURITI.

Que foi ficando solitário e triste.

Depois, desviaram o córrego para construir o bueiro.

Hoje, é apenas saudade em um triste poema…!

Era uma vez um coqueiro alto chamado buriti
Foto: Rodrigo Junqueira/ISA

Nota do autor: Diante da tragédia ambiental que vivemos, ofereço mais uma vez esse poema, com intento de refletirmos sobre as ações das pessoas, das empresas e do poder público, que agindo “naturalidade” destrói tudo em benefício do dinheiro. Mas o que adianta dinheiro, poder, lucro, sem chuvas e sem água? Esse poema foi escrito no ano 2000.

MACHADO, Adelino Soares Santos. Suspiros poéticos do Goiano. Editora e distribuidora de livros Ltda. – 1ª ed. Goiânia – GO, 2002, p. 82.

Adelino Machado – Escritor e poeta.  Membro da Academia de Letras e Artes do Nordeste Goiano – ALANEG, cadeira 25.

SOBRE O BURITI

buriti descascado ispn luis carrazza
Buriti descascado – Foto: Luis Carrazza/ISPN

O buriti ou miriti (nome cientifico: Mauritia flexuosa) é uma planta de ampla distribuição no território nacional. Pode alcançar até 30 metros de altura e ter um caule com espessura de até 50 cm de diâmetro. A espécie habita terrenos alagáveis e brejos de várias formações, sendo encontrada com muita frequência nas veredas, importante fitofisionomia do .

O buriti floresce quase o ano inteiro, mas principalmente nos meses de abril a agosto. A produção de frutos é intensa: segundo dados da Embrapa, são produzidos cinco a sete cachos por ano, cada um destes com 400 a 500 frutos.

Existem buritis machos e fêmeas. Os primeiros produzem cachos que apenas resultam em ; já no caso das fêmeas, as flores se transformam em frutos. Ainda assim, é preciso aguardar aproximadamente um ano para que os frutos estejam maduros e aptos para a colheita, o que acontece entre os meses de dezembro e fevereiro.

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Buritizal – Foto: Peter Caton/ISPN

A casca dura do buriti é uma proteção natural contra predadores e contra a entrada de água. A polpa do fruto é saborosa e possui coloração alaranjada, sendo acompanhada, em geral, de um caroço, que é a semente da espécie. Em alguns casos, no entanto, podem ser encontrados dois caroços ou nenhum. A colheita do fruto é trabalhosa, requerendo que os frutos maduros sejam colhidos do chão, após terem caído naturalmente. Alguns coletores cortam os cachos no pé do buriti, assim que os frutos amadurecem e começam a cair.

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Cacho de buriti (Foto: Bento Viana/ISPN)

O buriti fornece palmito comestível, mas pouco utilizado. O óleo da polpa é usado para frituras e sua polpa, depois de fermentada, se transforma em vinho. Também é possível encontrar produtos beneficiados como doces e picolés. Seus frutos podem ser utilizados ainda na alimentação animal.

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Raspas de buriti – Foto: ISPN

O artesanato e a ornamentação se valem da e beleza desta planta. A madeira pode ser utilizada em áreas externas da casa, as fibras de suas folhas podem ser utilizadas na confecção de esteiras, cordas e chapéus. Sua amêndoa resistente também é utilizada para pequenas esculturas. O fruto do buriti é rico em vitamina C e é um alimento energético.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

revista 119

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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