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Escola Tatu dos Xavante: um sonho concretizado

Escola Tatu dos Xavante: um sonho concretizado

Por Pedro Rafael Vilela

Em setembro de 2007, há quase 13 anos, o povo Xavante celebrava, em grande festa cerimonial, a concretização de um sonho: a inauguração da Escola Tatu, na aldeia Nossa Senhora da Graça, na terra indígena São Marcos, em Barra do Garças (MT). Única escola no formato de tatu de que se tem notícia no planeta, a estrutura foi concebida em um projeto do professor Máximo Xavante, que sonhou com a obra. Responsável por executar o projeto, o ex-prefeito Zózimo Chaparral (PCdoB) conta como recebeu a proposta e buscou tirá-la do papel:

“O índio Máximo Xavante, professor da aldeia, teve um sonho de uma escola no formato de tatu, porque o tatu tem uma importância muito grande na cultura do povo xavante, tanto na culinária, quanto na representação da força de um guerreiro. E ele levou essa proposta pra mim, juntamente com a então secretária de Educação, Fátima Resende, que se empenhou muito nesse projeto”.

Os recursos para a construção da escola vieram de uma emenda parlamentar do então deputado federal Carlos Abicalil (PT-MT), junto ao ministério da Educação, na época comandado por Fernando Haddad, em um período no qual o governo do ex-presidente Lula passou a investir fortemente na educação.

“A escola foi construída com participação da comunidade, o local foi decidido por eles, tendo em vista a posição do sol e a proximidade de nascentes. Os mais velhos foram consultados”, relata Chaparral.

A cabeça do tatu, apontada para o leste, ilumina a mente e concentra a sabedoria humana, e é ali que fica a biblioteca. O tronco do tatu concentra salas de aula e diretoria. A barriga do tatu é a cantina, onde é servida a merenda escolar. Já o rabo do tatu são os banheiros da escola.

Ao todo, foi investido cerca de R$ 1,1 milhão, mas não apenas para construir a Escola Tatu. Outras quatro novas escolas, em formato de colmeia, também foram erguidas nas aldeias da reserva, além da reforma de todas as demais escolas. “A gente buscava tratar o uso do recurso público com muita seriedade. Com pouco mais de R$ 1 milhão, foram construídas 5 novas escolas e reformadas algumas outras. É um investimento pequeno quando você pensa que R$ 1 milhão pode ser o valor um de apartamento na área mais nobre de uma cidade como Brasília, por exemplo”, afirma Chaparral. Os novos prédios passaram a servir não apenas como escola, mas como espaços multiuso, como locais de confecção de artesanato pelas mulheres indígenas.

A construção das escolas também marcou, na época, a aprovação do projeto político-pedagógico de educação indígena em Barra do Garças. Foi uma das primeiras cidades brasileiras a consolidar o projeto. Mais de 300 crianças indígenas passaram a receber alfabetização completa bilíngue, em português e na língua xavante, com professores indígenas, nos moldes do que preconiza a Constituição Federal de 1988, assegurando a educação indígena com base em sua história e valores culturais ancestrais.

Ao fazer um balanço histórico desse período, o ex-prefeito Chaparral gosta de citar o nome das pessoas que foram fundamentais para a realização desse sonho. “Além do professor Máximo Xavante, idealizador da escola, foram muito importantes as participações dos líderes Agnelo Xavante, Cristóvão Xavante, Stanislau Tsirobo e dos caciques Aniceto, Raimundo e Manoel, além, é claro, do empenho da então secretária municipal de Educação Fátima Resende, da secretária municipal da Igualdade Racial Dolores Milhomem e do deputado Abicalil”.

Quando se recorda da concretização do sonho Xavante, Chaparral também analisa o contraste daquele período com o que o Brasil vive hoje. Lembra que as políticas de atenção aos povos indígenas estão cada vez mais sucateadas e completa:

“Vivemos, durante o governo Lula, um período de ascensão das políticas de inclusão social e garantia de direitos das comunidades mais vulneráveis. Tudo isso procuramos reproduzir na gestão municipal, com a implantação de projetos educacionais, mas também esportivos, como o programa Segundo Tempo, que chegou nas aldeias indígenas, por exemplo. O que vemos hoje é o exato oposto disso, um projeto de destruição social e apagamento das culturas tradicionais. É preciso enfrentar esse projeto destruidor que representa o bolsonarismo”.

Pedro Rafael Vilela – Jornalista


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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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