Ex-assessora de Sergio Moro: “Não foi hacker, foi fogo amigo”

Ex-assessora de Sergio Moro: “Não foi hacker, foi amigo”

Apontada como a possível fonte dos vazamentos da Lava Jato, ex-assessora de Sergio Moro garante não ter nada a ver com o caso, mas dispara: “Não foi hacker, foi fogo amigo

Por Joaquim de Carvalho/DCM

Com o escândalo da VazaJato, a pergunta que não que calar é: quem é a fonte do vazamento divulgado pelo Intercept Esta é uma pergunta que ficará sem resposta até que os profissionais do site fundado e dirigido por Glenn Greenwald decidam quebrar o silêncio.

Ressalvadas as proporções, é como a pergunta que, durante anos, ficou sem resposta em outro caso célebre do jornalismo: quem era o Garganta Profunda da série de reportagens produzidas por Bob Woodward e Carl Bernstein que receberam o nome de Watergate?

Os autores das reportagens tinham se comprometido com a fonte a só revelar sua depois que ela morresse. Mais eis que, em 2005, 33 anos depois da publicação do primeiro texto, a fonte conta a um advogado que ela era a fonte das reportagens que levaram à renúncia do então presidente dos , Richard Nixon.

“Eu sou o cara a quem chamavam de Garganta Profunda”, declarou o ex-vice-presidente do FBI, Mark Felt. O que o levou a dar informações para o repórter sobre a espionagem e praticadas com o conhecimento de Nixon para bisbilhotar os adversários políticos do Partido Democrata foi o corporativismo.

Felt era o segundo no FBI e, com a de Edgar Hoove, ele esperava sucedê-lo ou, pelo menos, que alguém dos quadros do próprio escritório de Bureau de Investigação fosse o escolhido. Mas Nixon acabou chamando para chefiar o escritório um advogado que nada tinha a ver com a ver com os quadros do FBI.

No caso do Intercept, assim como nos Estados Unidos durante décadas, a imprensa especula sobre quem seria a fonte do vazamento. Em um especial do SBT, o repórter Roberto Cabrini entrevistou um suposto hacker que falou sobre como as mensagens secretas de Deltan Dallagnol, Moro e outros procuradores foram acessadas.

O suposto hacker, Daniel Lofrano Nascimento, teoriza sobre como teria sido o acesso. “Como as mensagens de Sergio Moro foram invadidas?”, pergunta o repórter. O suposto hacker fecha o olho e diz: “Olha, é uma pergunta muito pesada, mas eu vou tentar explicar”, diz. Então, ele fala sobre a invasão de e a clonagem do chip.

No das coisas mais simples, aplicativos de mensagens, como o Telegram, são muito mais facilmente acessados. Basta deixar a tela de computador com o aplicativo na versão web aberta para que qualquer pessoa possa fazer o espelhamento da página.

E os procuradores da Lava Jato usavam o aplicativo na versão web, como mostra o diálogo em que Deltan Dallagnol transmite ao procurador Carlos Fernando dos Santos Lima a sugestão de Moro de tirar Laura Tessler das audiência do caso .

 

Deltan Dallagnol: Recebeu a mensagem do Moro sobre a audiência também?

Carlos Fernando: Não, o que ele disse?

Deltan Dallagnol: Não comenta com ninguém e me assegura que teu telegrama não está aberto aí no computador, e que outras pessoas não estão vendo por aí que falo. Você vai entender porque estou pedindo isso

Carlos Fernando: Ele está só pra mim, depois apagamos o conteúdo 

“Para mim, não é ação de hacker, é fogo amigo”, disse ao DCM a jornalista Christianne Machiavelli, que foi assessora de imprensa de Sergio Moro durante seis anos, na Federal de Curitiba.

Christiane deu entrevista ao Intercept em outubro do ano passado, em que falou que a imprensa comprava tudo da Lava Jato, sem um filtro crítico. A autora da entrevista é Amanda Audi, uma das jornalistas do Intercept que assinam as reportagens sobre as conversas secretas.

Por conta da entrevista que concedeu a Amanda em outubro, especula-se que Christianne Machiavelli seria a fonte dos vazamentos. “Meu Deus do Céu, eu não tenho nada com isso”, disse Christianne, acrescentando, em seguida, que não acredita na versão do hacker. “É fogo amigo”, disse ela mais de uma vez.

Como é fogo amigo, também se comenta que o vazador poderia ser o procurador Diogo Castor de Mattos, insatisfeito por ter sido afastado da Lava Jato — oficialmente, é ele quem teria pedido o afastamento por razões médicas, uma vez que estaria com estafa física e mental.

Christianne hoje tem uma empresa de assessoria de imprensa e se afastou da Justiça Federal antes de Moro aceitar o convite para ser ministro de Jair Bolsonaro.  Ela não responde se ficou frustrada por não ter sido convidada para ser assessora de Moro no Ministério da Justiça. Disse apenas que o lugar está sendo ocupado por Giselly Siqueira, esposa do jornalista Vladimir Netto, da Globo, autor da biografia do ex-juiz.

Por conta da nomeação de Giselly, Vladimir Netto foi afastado da cobertura do seu biografado. Filha de juiz, Christiane conta que, nos seis anos em que trabalhou com Moro, ela acumulou experiência e histórias que estarão em um que começou a escrever. Pode ser ela a fonte? “Não”, refuta. Mas este será um mistério que permanecerá, até que a própria fonte um dia diga: “Fui eu”.

Fonte: Pragmatismo Político

 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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