Fake News e a pós verdade 

Fake News e a pós verdade 

A disseminação das fake news e do politicamente correto contamina o ambiente democrático e dá azo às ideias de negação da política e do desapreço aos valores democráticos.

Por Alberto Cantalice/Focus Brasil

Ancorado em um certo diálogo de surdos, produz uma visão de luta antissistema, o que é negada pela realidade.

A cada dia que passa nota-se a disseminação maciça de notícias falsas e discurso de ódio que busca engajamento monetizado por um lado e produz a fratura do tecido social por outro.

Os recentes episódios de depredação e saques na França guardam uma certa similaridade com o que ocorreu no Brasil nas chamadas Jornadas de Junho de 2013.

A partir de uma indignação legitima ­– o passe livre no Brasil e os protestos pelo assassinato de um jovem pela polícia na França – chegou-se a um movimento embalado pelo discurso de ódio, de demonização das instituições republicanas, insuflado pela extrema-direita que descambou no caos.

A instrumentalização com o mal-estar na civilização, como escreveu Sigmund Freud: “Para o bem da civilização, o indivíduo é oprimido em suas pulsões e vive em mal-estar”. Lançado em 1930, o livro traz algumas pistas que nos permitem cotejar a ambiência da época na Europa com os dias atuais.

É claro que há os limites impostos pelo capitalismo, em sua face mais perversa, a neoliberal. A consequente destruição de políticas de bem-estar social e a perda acelerada de perspectivas de empregabilidade e futuro são ingredientes explosivos que mobilizam a juventude mundo afora.

Os estimuladores que fazem transbordar o caldo são os mesmos que vêm defendendo a imposição do capital, empreendem uma guerra aos pobres e, no caso europeu, aos imigrantes.

Esse discurso xenófobo muda de foco conforme a localidade. Nos EUA e na Europa, há um discurso anti-imigração. E, no Brasil, um ataque permanente aos nordestinos, negros e povos originários.

Às forças democráticas e de esquerda cabe um papel central nessas disputas de narrativas. Temos que reafirmar a nossa contraposição ao neoliberalismo e afirmar a defesa de um projeto socialista e democrático, inclusivo e generoso, como alternativa ao extremismo direitista, que quer fazer retroagir a roda da história.

Fonte: Focus Brasil Capa: Reproduçã/Focus Brasil


Block

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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