FENAE ENTREVISTA O DEPUTADO REGINALDO LOPES

FENAE ENTREVISTA O DEPUTADO FEDERAL REGINALDO LOPES (PT/MG)

Fenae entrevista o deputado federal Reginaldo Lopes (PT/MG)

Para o parlamentar, pela primeira vez foi possível unir o Brasil em torno de um tema tão importante como a reforma tributária

Por Augusto Coelho/Fenae

Na manhã da quinta-feira (13/02), o deputado federal Reginaldo Lopes (PT/MG)concedeu entrevista exclusiva à equipe de comunicação da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa (Fenae) sobre a aprovação da Reforma Tributária, PLP 68/2024, no Congresso Nacional. Como relator da proposta aprovada no fim do ano passado, o parlamentar enfatizou o papel fundamental da Fenae para a manutenção da emenda que manteve a Funcef e o Saúde Caixa isentos do Imposto sobre Bens e Serviços (IBS) e a Contribuição Social sobre Bens e Serviços (CBS) previstos na Reforma.

Fenae: Como foi a articulação da Reforma Tributária no Congresso?

Reginaldo Lopes: Pela primeira vez, conseguimos unir o Brasil em torno de um tema tão importante como a reforma tributária. Acredito que a participação da sociedade civil organizada e a abertura do Congresso Nacional para o diálogo foram fatores essenciais para essa conquista. É evidente que a Fenae desempenhou um papel extraordinário, trazendo os temas à tona, debatendo ideias e propondo soluções.
O resultado desse esforço conjunto foi a criação da mais ousada reforma estruturante para a economia brasileira, que visa aumentar a produtividade do país. O Brasil é dinâmico, moderno, com grandes avanços tecnológicos e muitas pesquisas, o que o torna capaz de competir em um mercado global. Não podemos mais permitir que o custo tributário seja um obstáculo, seja no mercado interno, com a competição contra produtos importados, ou no mercado externo.
Atualmente, no mercado internacional, o custo tributário no Brasil varia entre 8% e 12%, dependendo das cadeias produtivas. Quanto mais elos de produção um setor tem, maior a cumulatividade tributária, já que nosso sistema cobrava imposto sobre o valor acumulado, gerando efeito cascata. Isso está mudando. Agora, nos tornamos um país moderno, que vai cobrar imposto sobre o valor agregado — modelo adotado por mais de 95% das nações. Isso criará um ecossistema internacional para o Brasil.
Nosso objetivo é aumentar a renda e tornar o país mais dinâmico, capaz de gerar mais riqueza e distribuir de forma justa, colocando mais dinheiro no bolso da população. Com isso, vamos romper com a armadilha da renda per capita baixa, que impede o crescimento consistente da economia brasileira.
Portanto, o que fizemos é uma verdadeira revolução. Unificamos o Brasil e transformamos o sistema tributário sobre consumo e serviços, promovendo uma grande mudança para a sociedade brasileira. A Fenae teve um papel extraordinário, trazendo temas, debatendo ideias e construindo soluções. O resultado é uma reforma ousada e estruturante para a economia brasileira, essencial para aumentar a produtividade do país.

Fenae: Qual a importância em manter a Funcef e o Saúde Caixa isentos do Imposto sobre Bens e Serviços (IBS) e a Contribuição Social sobre Bens e Serviços (CBS) previstos na Reforma Tributária?

Reginaldo Lopes: Reconhecemos que as previdências complementares fechadas, baseadas no mutualismo e associativismo, não devem ser contribuintes do novo imposto sobre valor agregado. Tributar essas entidades significaria reduzir entre 8% e 10% da renda dos aposentados, o que prejudicaria a economia ao tirar dinheiro da circulação e enfraquecer o consumo.

Isso prejudicaria a própria economia, porque estaria tirando o dinheiro da economia circulante e impedindo a economia de crescer e ter um mercado forte, pujante de consumidores. Portanto, é uma vitória não tributar os fundos de previdência complementares das entidades sem fins lucrativos. Garantir essa isenção é uma vitória para os trabalhadores e para a economia do país.

Fenae: Como avalia a mobilização da Fenae para garantir esse resultado?

Reginaldo Lopes: A construção coletiva, a troca de ideias, a troca de saberes, constrói uma sociedade muito melhor. O Parlamento soube ouvir as instituições e a Fenae foi muito propositiva. Havia um consenso de que era essencial mudar o sistema tributário, e a Fenae soube destacar as especificidades das previdências fechadas e dos planos de saúde de autogestão. O resultado foi a previsão constitucional dessas isenções na Lei Complementar 214/2025.

Portanto, houve uma consciência que todos deveriam aprovar a reforma tributária, com destaque as suas particularidades e especificidades. Foi nesse diálogo muito competente, com elaboração de técnica dos assessores da Fenae e que construíram coletivamente um ambiente para esta compreensão, que tanto as previdências complementares fechadas, como também os planos de saúde de autogestão de entidades não filantrópicas e não privadas devem ser isentos de tributação. A Fenae foi uma grande vencedora ao convencer a Câmara, o Senado e, inclusive, o presidente Lula ao não veto.

Fenae: Como o senhor ver o futuro do diálogo entre a Fenae e o Congresso?

Reginaldo Lopes: Quero continuar contando com o assessoramento e o apoio técnico da Fenae. Em meus seis mandatos, sempre combinei a legitimidade da minha representação indireta, que o povo mineiro me deu com orgulho e a satisfação em poder representá-los durante 24 anos. Sempre tive esta compreensão que deveria combinar esta representação indireta com a representação legítima direta da população. Foi assim que atuei na criação do Estatuto da Juventude, na Lei de Acesso à Informação, atuei CPI na CPI da Violência contra jovens negros e pobres e em tantas outras pautas importantes. A Fenae tem muito a contribuir em outras agendas legislativas, ajudando a construir um Brasil mais justo, menos desigual e que seja um país do tamanho do sonho de todos os brasileiros e brasileiras.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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