Cordel das Festas Populares: Viva o Folclore Brasileiro!

FOLCLORE: CORDEL DAS FESTAS POPULARES

Cordel das Festas Populares: Viva o Folclore Brasileiro!

Por Gustavo Dourado

A Ciência do Folclore
Aprendi com o Cascudo
Patativa deu o mote
Ariano conteúdo
Vitalino esculpiu
Cartola nos disse tudo

 

Cultura e arte do povo
Cerimônias…Rituais
Expressões do sentimento
Desatam laços sociais
Lava a alma da gente
Sonho, canto, festivais

 

Baião de dois, Farinhada
A sagrada rapadura
Bebo uma talagada
Gole de cachaça pura
Para cantar o Brasil
E os festejos da cultura

 

Conhecimentos e crenças
Conjunto das tradições
Danças, ritmos e lendas
Fábulas…Superstições
Comidas e vestimentas
Mitos…Adivinhações

 

São muitos ciclos festivos
Ano-Novo e Carnaval
Ciclo das Águas e do Divino
Sacro ciclo quaresmal
Ciclo junino e julino
Papai Noel no Natal

 

Diversos ciclos festivos
Festas do Cristianismo
Divindades, santos, santas
Festejos do ecumenismo
Nosso Senhor, Nossa Senhora
Procissões do sincretismo

 

Os índios também celebram
Fazem os seus festivais
É festa de todo tipo
Festanças monumentais
Tem as festas evangélicas
E as festas orientais

 

Folguedos, bailes e cultos
Práticas devocionais
Tropos, autos, malhações
Votos sobrenaturais
Deuses, bruxas, orixás
Viagens transcendentais

 

Tantas festas populares
Lembranças e emoções
Carnaval sempre presente
Na marcha dos corações
Desfiles nas passarelas
Em dia brados foliões

 

Mani.fest.ações de rua
O Galo da Madrugada
Trio Elétrico da Bahia
No Cerrado a cavalhada
Catira…Cordel…Divino
Cateretê e congada

 

Juninas festas julinas
Sobressai o São-João
Quadrilhas, arrasta-pé
Fogos, fogueira, balão
Pamonha e milho assado
Festa boa é no Sertão

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Música, teatro, dança
Sinônimo de alegria
Uma lona colorida
O palhaço que arrelia
Desde Maximus em Roma
O circo nos fantasia

 

Sociedade do Espetaculo
Des.Ilusão, malabar
Platéia – arqui.bancada
Gol na festa popular
Futebol circo moderno
A multidão a sonhar

 

Garrincha, alegria do povo
Fez a massa delirar
Driblava Zé e João
Era festa popular
O anjo das pernas tortas
Soube carnavalizar

 

As palhaçadas da vida
Sonho televisionado
Bobo da corte moderno
O povo vive adestrado
Novelas do cotidiano
No mundo globalizado

 

Bailes em todo o Brasil
Centro, Sul, Sudeste, Norte
O Nordeste pega fogo
Alma em teletransporte
Carnaval é poesia
A vida ilude a morte

 

Abre Alas com Chiquinha
No entrudo, teve origem
Cordões pelas avenidas
Balanço que dá vertigem
A multidão se sacode
Manda embora a fuligem

 

Noel, Ary, Pixinguinha
Jacob com seu bandolim
Trio elétrico na folia
Armandinho, serafim
Dodô e Osmar no ritmo
Salve o Senhor do Bonfim

 

Carmen Miranda, Tropicália
Bumba-Meu-Boi sedutor
Maxixe, afoxé…lundu
O samba interlocutor
Todo mundo na folia
Ritmos de paz e amor

 

Sortes e adivinhas
Simpatia e acalanto
Pai-Nosso, Salve-Rainha
A festa é um encanto
Santo de cabeça pra baixo
Atrás da porta no canto

 

Crisma, batismo de fogo
Dançar e pular fogueira
Assar batata na brasa
Cantar a Mulher Rendeira
Baião de Luiz Gonzaga
Com forró a noite inteira

 

Latada, pamonha, canjica
Mel, cuscuz e macaxeira
Cachaça de alambique
Cana boa de primeira
Quentão, verso, cantoria
Para curar a pasmaceira

 

Festival da Música Brasileira
Festival da Nova Música Popular
Festival Internacional da Canção
O Cantador a declamar
Alegria, Alegria
Vamos todos festejar

 

Dancei no Boi do Teodoro
Desfilei no Pacotão
Charles Preto na surdina
Perfilou na contramão
Cassetete da Polícia
Abaixo a Repressão

 

Cantigas…Contos… Brinquedos
Nos sonhos do dia-a-dia
Oktoberfest, micarê…
Máscaras da fantasia
Joãozinho Trinta – Jamelão
Nossas festas têm magia

 

Amazonas, Parintins
Caprichoso e Garantido
Cunhã Poranga e Pajé
Saci e boto atrevido
Gigante Juma – Curupira
Boitatá bem sacudido

 

Bumbódromo tupiniquim
ilha Tupinambarana
Mapinguari e Mãe-Dágua
A floresta nos irmana
Açai…Cupuaçú
Ecos da sussuarana

 

Dança a Mula-sem-cabeça
Mãe-de-ouro na folia
Corpo-Seco, Pisadeira
Destranca a rua, Maria
Com as sete chaves da vida
Consagrada epifania

 

Nosso Senhor dos Navegantes
Linda Conceição da Praia
Fui à Pesca do Xaréu
No mar se via arraia
Na Festa de Iemanjá
Capoeira, mini-saia

 

Nossa Senhora do Rosário
Pirenópolis-Catalão
Goiás Velho e Trindade
Juazeiro no Sertão
Lampião e Padim Ciço
Reza de Frei Damião

 

Raízes culturais do Brasil
Questão de identidade
Tem Círio e Aparecida
No Interior e na cidade
Procissão do Fogaréu
Festa…Multiplicidade

 

Candomblé Umbandaum
No Pelô o saravá
Mãe Menininha, a bênção
Iluminou Gantoá
Os orixás da Prainha
No Lago Paranoá

 

Ciranda, Cirandinha
Lia de Itamaracá
Serenata, romaria
Seu Ioiô e Dona Iaiá
Pega-pega; esconde-esconde
Lá…aqui e cacolá

 

Parlenda, cantiga de roda
Trava-a-língua e tirana
Anedota, causo e piada
Na casa da Mãe Joana
Tem chorinho e modinha
Lá na Vila Mariana

 

Mestre Salustiano se foi
Antônio Nóbrega ficou
O Quinteto Violado
A sua marca nos deixou
Na Afrociberdelia
Chico ciência cantou

 

No ritmo do improviso
Inácio da Catingueira
Cego Aderaldo na rima
Desafia Zé Limeira
Festa em Campina Grande
Xaxado…Mulher Rendeira

 

Repercutem os tambores
Oferenda a Iemanjá
Oxum, Xangô, Iansã
Oxóssi, Ogum, Oxalá
Macumbanda…Candomblé
Iaô…Ylê…Iaiá…iaiá

 

Cristão e mouros em luta
A famosa cavalhada
Pastoril e seus cordões
Sebastião na congada
Zabumbas e maracás
Sacodem a caboclada

 

Nossa Senhora Aparecida
Festa da Boa Viagem
Santos Reis, São Benedito
Chegança…Camaradagem
Pajelança…Uca-Uca
Nossos ritos de passagem

 

O Brasil se sassarica
Se sacode na noitada
Pula, dança e festeja
Pagode e marujada
Xoxoteia xaxaxando
Se remexe na lambada

 

Nas festas de hoje em dia
Tudo está muito mudado
Tem show e tecnologia
Se perdeu o rebolado
Saudade do forrobodó
No terreiro e no roçado

 

Nas noites de minha infância
Não tinha eletricidade
A luz era à luz da lua
Tinha estrelicidade
Das festas de eu menino
Lembro e morro de saudade

 

Nosso povo é sonhador
Deseja o essencial
Terra, amor, casa, comida
Trabalho, vida normal
Quer a paz e equilíbrio
E festejar o Carnaval

 

Valorização da Arte
É ação de resistência
A cultura é vital
Em nossa sobrevivência
Livros, arroz e feijão
Na festa da consciência

 

A você tudo de bom
Saúde…Fraternidade
Um Natal de harmonia
Luz…Solidariedade
Paz…Amor e Alegria
Sucesso e Felicidade

 

Um Ano-Novo de glórias
Sua estrela vai brilhar
Que tudo se concretize
Possa a vitória alcançar
Multiverse a fantasia
Numa Festa Popular

 

Gustavo Dourado

ANOTE :
Cordel das Festas Populares
Recitado por Gustavo Dourado na Rádio Nacional – Programa Feira Livre: Homenagem ao 22 de agosto, Dia do Folclore.
gustavo dourado dzai.com .br
Gustavo Dourado é um dos maiores poetas-cordelistas do Brasil. Sua excelente e extensa produção literária pode ser encontrada em Gustavo Dourado. Gustavo é também presidente da Academia de Letras de Taguatinga.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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