Florestan Fernandes Júnior: Depois da Lava Jato vem o dilúvio

Depois da Lava Jato vem o dilúvio

Por Florestan Fernandes Júnior, para o Jornalistas pela Democracia/brasil247 – Um dia no futuro vamos ter informações detalhadas da operação Lava Jato, do desmonte praticado contra as empreiteiras e a Petrobras, o impeachment de e a condenação e prisão de sem nenhuma prova material. Vamos saber também quem esteve por trás da campanha de Bolsonaro, as ligações do clã com as milícias no Rio de Janeiro e a indústria de que tomou conta dos celulares de gente simples da igreja evangélica.

Talvez boa parte dessa história seja liberada daqui a 40 anos quando serão abertos os sigilos dos governos de Obama e Trump. Talvez no dia em que algum promotor do grupo do Deltan Dallagnol, contrariado por ter sido deixado de lado de detalhes da indústria de delações premiadas e dos 2,5 bilhões de reais da Petrobras que iriam alimentar uma ONG privada ligada aos próprios promotores de Curitiba.

Parafraseando Chico Buarque, este dia há de vir antes do que eles pensem. Na mesma semana em que esteve nos visitando inclusive a CIA, maior centro de do , o painho da Lava Jato e atual ministro da Justiça viu seus subalternos abrirem mais um inquérito sem provas contra Lula e um de seus filhos.

Hoje seu colega de Lava Jato, juiz Marcelo Bretas, prende dois ex-figurões da República, o ex-presidente golpista, Michel Temer, e seu ex-ministro Moreira Franco, que é nada menos que o sogro de Rodrigo Maia, que está em confronto com Moro desde o início da semana. Sei que a dupla que foi presa tem muito o que explicar sobre as acusações que pesam contra ela.

Mas por que prender sem ao menos tomar o depoimento dos suspeitos? Como prender um ex-presidente sem julgamento e sem sentença? Até quando os poderes constituídos aceitarão prisões arbitrárias e sensacionalistas como as desta tarde, quando mais uma vez a imprensa foi informada das ações antes dos suspeitos?

Para mim é o velho esquema midiático que vinha funcionando bem desde 2013 e que serviu para fortalecer a Lava Jato! Aliás, a ex-presidenta Dilma que se cuide, pois pode ser a próxima na mira de Moro. O processo dela está em Brasília nas mãos do juiz Vallisney de Souza Oliveira, que dizem ser tão vaidoso e pavão quanto o Marcelo Bretas.

Delações premiadas sem provas contra ela a Lava Jato já tem em mãos. É no mínimo constrangedor ver Moro em um governo rodeado de ministros acusados de fazer Caixa Dois, levar dinheiro publico de campanha por meio de laranjas e de conviver tranquilamente com os filhos do presidente que admiram e até condecoraram milicianos.

Contra o senador Flávio Bolsonaro pesa desvios de parte dos salários de seus assessores parlamentares através de um esquema montado pelo seu ex-motorista Fabrício Queiroz, que até agora não compareceu pessoalmente para dar explicações ao Ministério Público. Afinal, o que está por trás do combate seletivo à corrupção?

Bolsonaro que se cuide, daqui a pouco ele poderá ser o próximo presidente na lista de Moro. Indícios de mal feitos não faltam. O problema que se coloca agora é que o país está parado, o desemprego aumenta e a não avança. A reforma da previdência subiu no telhado. O prestígio dos três poderes está ladeira abaixo. Não sou mago, mas imagino que nossa democracia corre sérios riscos neste momento.

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Fonte: https://www.brasil247.com/pt/colunistas/florestanfernandes/387637/Depois-da-Lava-Jato-vem-o-dil%C3%BAvio.htm

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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