Lindbergh Farias: Eu Acuso as Injustiças contra Lula!

Lindbergh Farias: Eu Acuso as Injustiças contra !

Vamos aguentar o arbítrio da exceção calados feito bovinos mansos no abatedouro? Ou vamos ocupar às ruas e demonstrar a nossa indignação?

Em 1894, o oficial de artilharia do exército francês Alfred Dreyfus foi levado a julgamento e condenado a prisão perpétua em um tribunal marcial a portas fechadas, acusado de alta traição e colaboração com o alemão. Dreyfus era inocente. Seu crime: a simples condição de judeu e oficial do exército francês de Dreyfus incomodava, destoava da onda nacionalista e xenófoba que resultou na Primeira Guerra Mundial.

O caso poderia ser arquivado e esquecido se não houvesse uma reviravolta. Novos documentos são descobertos, provando o verdadeiro culpado. Sucede um novo julgamento em 1898 e, contra todas as evidências, o tribunal referenda a condenação, mais uma vez, do oficial de origem judaica. Indignado, o escritor Émile Zola publica uma aberta ao presidente da República, Félix Faure, com grande impacto na imprensa da época e provocando comoção popular. A carta – J’accuse! (Eu acuso!) – se tornou um clássico da literatura de agitação. Anos mais tarde, já em 1906, Dreyfus, enfim, é reabilitado.

No dia de 24 de janeiro, o TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região) julgará em 2ª Instância o ex-. A única sentença justa seria a absolvição do ex-presidente. Toda a opinião pública nacional e internacional já conhece e repudia as fraudes processuais do procurador Deltan Dallagnol, assumidas e ampliadas pelo juiz Sérgio Moro. Afirmar que inexistem provas materiais é a mais pura .

Não ficou provado nos autos do processo que o tal tríplex do Guarujá pertence ao ex-presidente Lula. Tanto é verdade que os motivos alegados pelo juiz Moro na condenação são totalmente distintos daqueles que estão na denúncia oferecida pelo MP. Ainda por cima, a do Distrito Federal penhorou o apartamento como um bem da OAS. Ora, embora composto de Instâncias, o Judiciário é um Poder único. Como ser condenado por um bem alheio?

No dia 24 de janeiro, os 3 desembargadores do TRF-4, mais que julgando um processo particular, estarão diante da travessia de um Rubicão. Caso absolvam o ex-presidente Lula, farão justiça; caso condenem, o Rubicão da exceção será atravessado. Um tribunal se transforma em corte de exceção quando as provas se tornam irrelevantes. De nada adianta o processo investigatório. O juízo da sentença condenatória já foi dado de antemão. Será perpetrada a 2ª fase do golpe.

Quando nos encontramos diante de um tribunal de exceção as posições se invertem. O acusado se torna acusador e vira o jogo. Somos vítimas e por isso acusamos nossos algozes.

Como ficar calado, por exemplo, ante a condução coercitiva ilegal do ex-presidente Lula? Lembram? O Ministro Marco Aurélio Mello se pronunciou a respeito: “Eu não entendo. Um mandado de condução coercitiva só é aplicável quando o indivíduo apresenta resistência e não aparece para depor. E Lula não recebeu intimação“. E diz mais: “Será que ele, Lula, quer esse tipo de proteção oferecida pelo juiz Sérgio Moro? Eu acredito que, na verdade, esse argumento foi dado para justificar um ato de força. Esse é um revés e não um progresso. Somos juízes, e não legisladores, ou vingadores”.

E a interceptação telefônica e divulgação ilegal de uma conversa da presidenta Dilma com o presidente Lula, fato decisivo na consecução do golpe do impeachment? Imaginem o escândalo, nos , um juiz de 1ª Instância do Texas gravar uma conversa de Bush e Trump e divulgá-la em horário nobre horas depois da gravação. A gravação foi feita às 13h32 e, às 18h, estava na Globo News. Sobre as gravações, o ministro Teori fez o seguinte: determinou que as razões dadas pelo juiz Moro eram insuficientes para justificar essas medidas excepcionais, que foram tomadas por razões meramente abusivas.

Sobre a interceptação ilegal, disse o falecido ministro Teori Zavascki: “Houve usurpação de competência do STF […] No curso de interceptação telefônica deferida pelo juízo reclamado, tendo como investigado Luiz Inácio Lula da ”. Mais ainda, sobre a divulgação ilegal do grampo: o magistrado de 1ª Instância, “ao constatar a presença de conversas de autoridade com prerrogativa de foro, como é o caso da presidenta da República, […] deveria encaminhar essas conversas interceptadas para o Supremo Tribunal Federal”.

Não bastasse, interceptaram e gravaram o escritório de advocacia que defende o ex-presidente Lula, 25 advogados gravados e 300 clientes. Não se respeitam mais as prerrogativas dos advogados neste país.

E a farsa do espetáculo midiático do Power Point? E a indústria de delações premiadas? E os processos sem provas, montados apenas por meio de depoimentos forjados de presos em regime de prisão preventiva, mentalmente torturados e ávidos em sair da prisão?

Vamos aguentar o arbítrio da exceção calados feito bovinos mansos no abatedouro? Ou vamos ocupar às ruas e demonstrar a nossa indignação? Por tudo isso, ninguém pode ficar em casa no dia 24. Vá à praça pública na manifestação de sua cidade. Vamos ocupar a praça no melhor estilo de Castro Alves, para quem: “A praça, a praça é do !/ Como o céu é do Condor!/ É antro onde a /Cria a águia ao seu calor!”.

Lula Lindberg

ANOTE AÍ:

Fonte desta matéria:

https://www.brasil247.com/pt/colunistas/lindberghfarias/337924/Eu-acuso!.htm

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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