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FORMOSA: COSTURAVAM-LHES OS OLHOS, PARA TRAZER OS PORCOS

FORMOSA: COSTURAVAM-LHES OS OLHOS, PARA TRAZER OS PORCOS

Formosa: Costuravam-lhes os olhos, para trazer os porcos

Há, na de , informações fascinantes sobre como se formou nossa cidade,  sobre como se organizou nossa comunidade, sobre como se descortinou nossa trajetória humana e social

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Existe também um vasto universo de contos reais, causos, mitos, , e estórias pitorescas, algumas felizes, outras bem tristes, porém todas elas fundamentais para compreender o belo mosaico da história e da formosense.

Um registro perdido nesse emaranhado e, ainda assim, muito interessante, trata da chegada dos porcos a Formosa. Essa pérola encontra-se documentada no livro “Álbum de Formosa”, obra póstuma do escritor formosense Alfredo A. Saad (2008), lançado no ano da graça de 2011:

“Desde as origens, os povoamentos da região central do país se faziam ao lado dos rebanhos de gado, indispensáveis à alimentação dos proprietários e ao comércio, principalmente com o litoral.

Embora os porcos, chegados depois, pudessem ser criados com mais facilidade, nos arredores das povoações, alimentados com restos da mesma servida aos seres humanos e com por eles mesmos desenterradas, os bois e os cavalos exigiam largos espaços, capinzais extensos, e água disponível todo o ; e mais: facilidades para a mudança de pastagem, caso as condições climáticas o exigissem.

Mesmo nas regiões onde a pastagem era farta e perene, o gado sempre exigia a permanente mobilidade dos criadores, pois o capim, pisoteado pelos animais, logo se tornava imprestável para o consumo.

E lá iam homens e animais, embrenhando-se cada vez mais, para o interior do país, fundando novos povoados, abrindo novas trilhas, desbravando rincões, cada vez mais longínquos, criando novos centros de negócios – os povoados.

Os porcos, como o gado, também eram transportados, de povoado em povoado, de fazenda em fazenda, de pouso em pouso, locomovendo-se sobre os próprios pés. Mais lentos do que o gado, os porcos exigiam mais esforço,  mais paciência e mais cuidado para se movimentarem, desde o litoral, e chegarem até pontos, no interior do continente, a mil ou mil e quinhentos quilômetros de distância.

Num trajeto tão longo, a mortalidade e o sumiço dos animais era uma constante; assim, usavam-se técnicas especiais para evitar, ou reduzir essas perdas: os porcos eram sempre conduzidos em estado de evidente desnutrição, pois porcos gordos nunca conseguiriam vencer os longos estirões a serem percorridos; em segundo lugar, os condutores, para evitar que os animais se perdessem no mato, em busca de alimento, costuravam-lhes os olhos, unindo as pálpebras de cada um deles com fios de algodão. Cegos, os porcos conduziam-se apenas pelo olfato – e mantinham-se sempre aglomerados.

Esse procedimento crudelíssimo era usual e a única maneira prática que se descobriu para trazer os porcos para locais tão distantes e ermos, como Couros e seus arredores, assim como outras paragens brasileiras também distantes.

Devia ser surpreendente encontrar pelo caminho grandes varas de porcos cegos, vagarosamente percorrendo os trilheiros do e das matas, amontoados, para que não se perdessem dos companheiros de infortúnio.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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