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FRIGIDEIRA DE MATURI: RECEITA DA DONA CANÔ

FRIGIDEIRA DE MATURI: RECEITA DA DONA CANÔ

Frigideira de Maturi: da dona Canô

Maturi é a castanha-de-caju tirada verde. Porque a castanha tem um óleo que queima, só quem sabe abrir castanha pode fazer esse sem sofrer queimaduras.

Hoje já se encontram saquinhos de  maturis catados. Vendem-se aos litros, já aferventados. Só é preciso lavar bem, tirando algum pedaço de casca que ficou presa ao maturi. É muito saboroso.

Serve para ser misturado a vários pratos, como se misturam as ervilhas. Do maturi, o melhor é a frigideira.

Receita de Dona Canô

INGREDIENTES

Cebola

Tomate

Pimentão

Coentro

1 litro de maturi

1 xícara de de coco

2 colheres de sopa de camarão seco moído

Azeite doce

Extrato de tomate

8 ovos

1 colher de farinha de trigo

PREPARO

Colocar no processador cebola, tomate, pimentão e coentro. Bater bem. Colocar o maturi e bater ligeiramente.

Numa panela, colocar o leite de coco, o camarão, o maturi, já misturados com os outros temperos, o azeite doce e o extrato de tomate.

Deixar cozinhar até ficar sem caldo. Bater dois ovos e misturar ao maturi para dar liga na mistura.

Num prato refratário untado com óleo e polvilhado com farinha de trigo,  jogar o maturi cozido.

Cobrir com ovos bem batidos e misturados com uma colher de sopa de farinha de trigo e um pouco de sal.

Para uma frigideira de um litro de maturi, são necessários seis ovos para a cobertura.

Levar ao forno quente. Quando a frigideira está pronta, os ovos da cobertura ficam assados como um bolo, e o cheiro se espalha pela cozinha.

Fonte: O Sal é um DomReceitas de Dona Canô. Mabel Veloso. Rio de Janeiro, Casa da Palavra, 2015

FRIGIDEIRA DE MATURI: RECEITA DA DONA CANÔ
Foto: Neide Rigo

MATURI 

Maturi é o nome dado a um tipo de preparo tradicional da castanha-de-caju (Anacardium occidentale) ainda imatura.

O cajueiro é uma planta tropical, originária do , que pertence à família Anacardiaceae, de pequeno porte, possuindo em média 5 metros de altura.

Caracterizado pela dimensão elevada da copa (podendo alcançar até 8 metros), o tronco é bastante ramificado e os galhos caem em direção ao solo. As flores são pequenas, de coloração branco-rosada de perfume singular.

Bastante presente em toda região do Brasil, a maior produção de caju está concentrada nos estados da Bahia, Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte.

O verdadeiro fruto do cajueiro não é o caju (pedúnculo e pseudofruto), mas a castanha, que tem a forma semelhante a um rim humano.

Prolongando-se ao fruto, existe um pedúnculo, comestível, que quando maduro, de cor avermelhada, é geralmente confundido com o fruto. A amêndoa contida no interior da castanha, e, quando seca e torrada é popularmente conhecida como castanha-de-caju.

Rica em fibras, ferro, fósforo, selênio, magnésio e zinco, a castanha-de-caju é uma fruta oleaginosa com cerca de 3 centímetros, de elevado valor comercial, minimamente beneficiado ou como componente de outras .

Assim, a colheita da castanha-de-caju se dá no mesmo período que a safra do caju, entre os meses de agosto e setembro, uma vez que pedúnculo já está desenvolvido e em fase avançada de maturação.

A região do Nordeste brasileiro é uma grande produtora de caju e castanha-de-caju, sendo que em algumas regiões do estado da Bahia,  há uma diferente maneira de colheita e utilização do fruto.

Nessa região, a colheita é realizada antes da formação e o amadurecimento do pedúnculo, dessa forma obtém-se o maturi, a futura castanha-decaju, em sua fase inicial de .

Existe toda uma técnica tradicional e saberes locais para a extração do maturi, que mesmo sob as orientações fornecidas pelas locais, muitas vezes não funcionam quando alguém inexperiente tenta realizar o processo.

O olhar e o tocar  definem o melhor momento da extração do maturi. Preferencialmente, a castanha verde tem que ser grande e o pedúnculo (o caju que comemos) pequeno, pois a medida que o pedúnculo vai crescendo, o maturi (a futura castanha) diminui e a casca se torna mais dura.

Uma vez a castanha desenvolvida com a formação do pedúnculo, os agricultores realizam o beneficiamento artesanalmente, queimando as cascas, quebrando a casca sobre pedras para extrair a famosa castanha de caju torrada.

O maturi é uma verdadeira especiaria local, praticada particularmente no Recôncavo e Agreste do no estado da Bahia. O fruto é colhido de maneira totalmente artesanal, geralmente por mulheres.

De coloração arroxeada, sabor leve e amendoado, apresenta textura macia e crocante ao mesmo tempo com sabor único e diferente da castanha de caju madura.

A extração do maturi, demanda bastante destreza das mulheres que a realizam, pois a casca do maturi possui uma toxina chamada urushiol que causa reações alérgicas, quando em contato com a pele, e pode ser letal, caso a castanha seja consumida sem passar pelo processo de torragem ou cozimento.

Por ser colhido antes do amadurecimento, apenas a castanha é aproveitada, sendo todo o pedúnculo descartado.

Após a colheita, o fruto é arrancado do pedúnculo. Com o auxílio de uma faca, a casca é aberta, sendo realizada a separação da castanha da casca, processo que demanda prática e conhecimento dada a presença da substância tóxica. Então, o maturi deve ser fervido em água, para que tal substância se torne inativa e consumida.

Apesar da volumosa produtividade dos cajueiros, o maturi está cada vez mais escasso. O elevado valor de mercado da castanha-de-caju e do caju, ambos maduros, fez com que muitas famílias produtoras de maturi migrassem para estas culturas.

Ademais, a falta de interesse da nova geração em aprender as técnicas de extração do maturi, somando-se com os riscos associados ao manejo do maturi e o baixo preço desestimulam muitas mulheres.

A produção do maturi conserva técnicas tradicionais e saberes locais. Representa a alimentar do Nordeste e contribui como renda complementar para muitas unidades familiares na região do Recôncavo e no Agreste do Sertão, pois grande parte dos ganhos são auferidos através da venda dessa especiaria nas feiras livres.

Dessa forma, o manejo diferenciado da castanha-de-caju, com o objetivo de obter-se o maturi deve ser protegido, pois as agentes da agricultura familiar que o cultivam não possuem métodos para resistir a redução da demanda, devido à preferência pela castanha já madura, colocando em risco tal especiaria.

Existem diversos pratos tradicionais da culinária do Recôncavo utilizando o maturi, dentre eles: a frigideira de Maturi: uma espécie de fritada com recheio de tomates, pimentões, cebola, ervas, camarão (seco ou fresco) e maturi refogados; moqueca de maturi, um dos pratos mais tradicionais da culinária baiana, que consiste num cozido de peixe e/ou frutos do mar, com leite de coco e dendê.

Ademais, o maturi vem sendo introduzido na cozinha vegetariana e vegana, representando um novo desdobramento para esse ingrediente tão escasso.

Indicação: Guilherme Cerqueira Martins e Souza, Kátia Najara de Sales Alves e Fernanda Fabbrini. Pesquisa: Paulo Dantas, Revecca Cazenave-Tapie e Ligia. Revisão: Paulo Dantas, Revecca Cazenave-Tapie e Ligia Meneguello. Fotos: Neide Rigo. Fonte: Slow Food Brasil 

FRIGIDEIRA DE MATURI: RECEITA DA DONA CANÔ
Foto: Só Ecologia

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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