Geoparque brasileiro que abriga quilombolas é considerado patrimônio geológico mundial pela ONU
Por Débora Spitzcovsky/ The Green Post
O Brasil (ainda!) não fazia parte da iniciativa, mas isso mudou neste último mês de abril. Nosso país foi incluído na Rede Global de Geoparques graças a dois geoparques localizados no nosso território: o do Seridó, que fica no semiárido nordestino, no Estado do Rio Grande do Norte, e o Caminhos dos Cânions do Sul, que engloba municípios dos Estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Os motivos para terem sido escolhidos? Segundo a Unesco, o Geoparque Global Seridó abriga mais de 120 mil habitantes, incluindo comunidades quilombolas, que mantêm viva a memória de seus ancestrais escravizados da África, garantindo a preservação de sua cultura.
O local ainda possui vestígios de 600 milhões de anos de história da Terra, abrigando fluxos de basalto decorrentes de atividades vulcânicas durante as Eras Mesozóica e Cenozóica, além de uma das maiores mineralizações de scheelita da América do Sul – um importante minério de tungstênio. Toda essa geodiversidade é um dos grandes fatores determinantes para a biodiversidade única que forma a nossa Caatinga – único bioma exclusivamente brasileiro.
Já o Geoparque Global Caminhos dos Cânions do Sul foi escolhido por preservar vestígios da época em que, antes mesmo da chegada de Cristóvão Colombo no Brasil, pré-colombianos se abrigavam na região em paleotocas – estruturas pré-históricas subterrâneas escavadas por animais paleovertebrados que já estão extintos, como a preguiça gigante.
O local ainda reúne “os cânions mais impressionantes da América do Sul”, segundo a Unesco, formados por processos geomorfológicos únicos que o continente sofreu durante a dissolução do supercontinente Gondwana, há cerca de 180 milhões de anos.
Quem aí já ficou com vontade de fazer as malas para conhecer?
Com informações de ONU News
Débora Spitzcovsky – Jornalista. Fonte: The Green Post. Foto: Reprodução/Unesco/Getson Luís. Este artigo não representa a opinião da Revista e é de responsabilidade do autor.
Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.
Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.
Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.
Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.
Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.
Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.
Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.
Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.
Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.
Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.
Zezé Weiss
P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!