Gleisi: As pessoas já sabem que a reforma da previdência só é boa para os ricos

Gleisi: As pessoas já sabem que a reforma da previdência só é boa para os ricos

Por: Rodrigo Couto

Em uma entrevista inédita, concedida ao jornalista Rodrigo Couto, para a Revista Xapuri Socioambiental, a presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, fala sobre os desafios do PT, os riscos do governo Bolsonaro, e o futuro das esquerdas e do Partido dos . Por uma limitação de espaço, uma segunda parte da entrevista será publicada na edição de julho de 2019.

X – Diante da atual conjuntura político-econômica de crise, a senhora acha que é o momento de o PT reconquistar sua credibilidade entre os trabalhadores e trabalhadoras?

G – O PT tem provado que o golpe contra a presidenta Dilma era mesmo para implementar uma econômica voltada para o mercado financeiro. Estamos conseguindo mostrar o legado que deixamos. Um exemplo é o investimento em educação, que durante os governos do PT foi um dos maiores da história.

X – Incluindo desmontar a acusação de que o PT quebrou o ?

G – Assim como a acusação de que o PT quebrou o país. Está ficando claro que, a partir de 2015, a economia começou a degringolar com as pautas-bomba e o boicote ao governo Dilma. As pessoas lembram que a era muito melhor, havia emprego e renda, milhões saíram da miséria, o Brasil tinha credibilidade lá fora, havia respeito à diversidade e aos direitos humanos por parte do governo.  

X – Como assim?

G – Estão vendo quem é realmente Bolsonaro, um presidente despreparado e sem de país, tanto é que a popularidade dele só vem caindo entre os mais pobres e, agora, também entre os ricos. Só o gueto de extrema direita, preconceituoso e racista, vai ficar com ele.

 

X – Qual a reação do PT?

G – O PT tem conversado com a população, em bate-papos e encontros, conscientizando e ouvindo as pessoas, nos reaproximando de quem faz pouco tempo estava conosco, votava em Lula e em Dilma. Estamos nos reconectando com as comunidades, com os movimentos sociais, e isso está sendo muito produtivo. 

X – O governo Bolsonaro enfrentou um grande movimento nacional em defesa da educação nos dias 15 e 30 de maio. Na sua avaliação, qual o recado que fica para o Bolsonaro e seus eleitores?

G – Os estudantes deram início a um movimento de importantíssimo, um marco da reação ao governo Bolsonaro. A manifestação do dia 15 foi gigantesca, como há muito não se via, e a última também foi muito expressiva e representativa com meninas e meninos voltando às ruas para mostrar que não vão arredar o pé enquanto os cortes continuarem. A do dia 30 colocou quase dois milhões de pessoas nas ruas, o movimento cresce a olhos vistos.

X – O que fica de resultado? 

G – Quem votou no Bolsonaro está vendo que foi enganado. Ele prometeu que o país iria melhorar e o que estamos vendo é o desmonte do ensino público e a retirada dos direitos dos trabalhadores. Na economia então, nem se fala, até agora Paulo Guedes não conseguiu propor nada que conseguisse conter o avanço do desemprego e a depressão econômica para onde estamos caminhando. O recado é: não sairemos das ruas e vamos resistir até o fim a esse desgoverno destruidor e austericida. Dia 14 de junho tem Greve Geral e depois vem mais.

X – Atualmente, o tema em destaque no é a reforma da Previdência. O que o PT vem fazendo para barrar essa reforma e os projetos que estão na agenda que retiram os direitos dos trabalhadores?

G – O PT denuncia todos os dias o que representa a reforma da Previdência para os trabalhadores e aposentados, porque ela os atinge também, mostrando que os mais prejudicados serão as , os mais pobres e os trabalhadores rurais. Há também uma ação conjunta dos partidos de oposição na Câmara, estamos fazendo debates e questionando o governo sobre os impactos da reforma. Precisamos de mais tempo, não dá para aprovar uma reforma sem fazer o com a sociedade, ela é absurda!

X – Quais são as perspectivas para a Reforma da Previdência?

G – Pelo menos uma parte da PEC 06 não será aprovada, nem o Centrão quer. Estamos lutando contra o resto. O PT fez ajustes na Previdência, mas nunca foi contra os direitos dos trabalhadores. Agimos sobre os privilégios, a partir de 2013, com a reforma feita pela presidenta Dilma, por exemplo, a aposentadoria dos servidores públicos foram equiparadas à do Regime Geral, e criamos os fundos de previdência complementar. Ao contrário da reforma de Bolsonaro, que é cruel com os mais pobres.

X– Em sua opinião, por que o governo Bolsonaro tem tanta pressa em aprovar a reforma da Previdência?

G – O propósito de Paulo Guedes é cumprir a agenda do mercado financeiro, implantar o regime de capitalização e reduzir recursos para o direito dos trabalhadores. Ele quer implementar a política neoliberal do Estado mínimo, privatizar as riquezas nacionais. E Bolsonaro governa para a elite, ele não está nem aí para o povo brasileiro que sofre todos os dias para sobreviver. Quer criar uma cortina de fumaça para esconder seu desgoverno, que acaba com tudo o que vê pela frente.

Rodrigo Couto – Repórter Especial, contribui voluntariamente com a Revista Xapuri Socioambiental.

 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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