Governo de catástrofe nacional
Por Emir Sader
Uma cerimônia de posse de alguém desse governo é uma cena fora do mundo. Em primeiro lugar, porque parece que atrás daquilo tudo existe um governo, quando não existe nada. São um aglomerado de personagens folclóricos, escolhidos a dedo pelo pior presidente que o Brasil já teve, que se mantêm nos cargos pela subserviência a todas as imbecilidades que o presidente emite todos os dias.
Em segundo, porque Bolsonaro foi perdendo capacidade de governar, seja por sua incompetência e dos seus ministros, seja pelos freios internos ao governo imposto por militares, seja por aqueles impostos pelo Judiciário e pelo Congresso. Quase que só restou a ele o poder – ainda assim relativo – de demitir e nomear e o de fazer declarações arbitrárias e ameaças que ele não pode cumprir.
Seria cômico, não fosse trágico. Não existisse um país à deriva, uma economia que passou da recessão à depressão, a situação de precariedade de trabalhadores, o número imenso de desempregados, que passou de 40 a 62,1 milhões de pessoas, e uma pandemia que mata diariamente centenas de brasileiros, diante da falta de ação e da apatia do presidente. É uma tragédia como o Brasil nunca viveu e que ameaça, a partir de maio, se tornar uma catástrofe para o país, para sua população, para sua economia, para tudo e para todos.
O que fazer para impedir essa situação? É preciso, antes de tudo, mudar radicalmente a postura do governo em relação à pandemia. O próprio novo ministro da saúde se mostra desarvorado e despreparado para enfrentar a situação atual, ainda menos o desastre que se anuncia para maio.
Se deveria propor a nomeação de alguém com qualificação, com legitimidade, com prestígio, para assumir o cargo de ministro da saúde, com plenos poderes, políticos e econômicos, para colocar o combate à pandemia como prioridade número um do governo e do país e enfrentá-la com todos os recursos de que dispomos, para tentar evitar essa catástrofe, que ameaça matar vários milhares de brasileiros já em maio. Alguém como Dráuzio Varela, que disporia de um apoio generalizado para concentrar todos os recursos e as energias dos brasileiros para enfrentar a pandemia.
Poderíamos ali passar a encarar seriamente os desafios da pandemia e a ter a alguém sério, responsável, que faria com que, finalmente, o país passasse a defender a saúde da sua população, do pessoal da saúde pública, de todas as vítimas ou possíveis vítimas da pandemia. Poderíamos poupar centenas de milhares de vidas de brasileiros, deixar de conviver, diariamente, com a cifra de centenas de mortos, anônimos, reduzidos a números, sem nome, sem cara, sem parentes, sem vida.
Por outro lado, será praticamente impossível o país enfrentar seriamente essas ameaças e, posteriormente, os desafios da reconstrução da economia do Brasil e a recuperação dos milhões de empregos perdidos, com esse governo, com esse presidente. Ele não somente não atua, como se torna obstáculo, desviando a atenção do país, sabotando as ações de defesa da população.
O clamor do Fora Bolsonaro! é crescente, embora grande parte da população não se sinta segura a aderir a uma saída do presidente atual, sem ter garantia do que virá depois. Não pode ser simplesmente a substituição do presidente pelo vice, mantendo-se a penca de ministros, incluído os militares, coniventes dos crimes políticos, econômicos e de saúde pública cometidos por Bolsonaro.
O Brasil precisa de um projeto de reconstrução do país, mas também visualizar quem pode personificar esse projeto, comandado por alguém com legitimidade, credibilidade e capacidade de aglutinar todos os brasileiros que confiam na democracia e no próprio país. Alguém como Nelson Jobim, por exemplo, ou algum outro nome similar, que tenha trânsito em todas as áreas políticas democráticas e possa reaglutinar política e moralmente o Brasil para recuperá-lo econômica, política, social e moralmente.
Esse o caminho imediato para que possamos sair desse governo de calamidade pública para um governo democrático, legítimo, que faça o país retomar o caminho da paz, da convivência, da recuperação da economia, da superação da pandemia e do próprio gosto dos brasileiros de amar o seu país.
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