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Cármen e Hildegard

Hildegard Angel: Jornalista alerta Cármen Lúcia sobre a vida de grevistas de fome pela democracia

Jornalista alerta Cármen Lúcia sobre a vida de grevistas de fome e da democracia

“Ministra Carmen Lúcia, vamos apascentar os corações deste país, antes que tenhamos que verter lágrimas por esse sacrifício em seu momento extremo, que parece estar próximo”, diz Hildegard Angel

Cármen e Hildegard
Créditos da foto: Cármen, responsável pela pauta do STF, é cobrada por Hildegard: Deus lhe deu missão de apaziguar a Nação com seus atos (GLÁUCIO DETTMAR/AGÊNCIA CNJ E ITAÚ CULTURAL/YOUTUBE)

A jornalista Hildegard Angel publica hoje em sua coluna no Jornal do Brasil uma carta aberta à presidenta do Supremo Tribunal Federal (STF), Cármen Lúcia. Ela pede à ministra que coloque em pauta na Corte o julgamento das Ações Declaratórias de Constitucionalidade (ADCs) que colocam em questão a privação de liberdade após condenação em segunda instância. O pedido é um dos pleito dos ativistas há 22 dias em greve de fome em .

Segundo as ações, levadas ao STF pelo PCdoB, a determinação de cumprimento de pena antes de se esgotarem as possibilidades de recurso viola o texto constitucional que trata da presunção de inocência e do direito de defesa. E leva antecipadamente à prisão, além do ex-presidente Luiz Inácio Lula da favorito à eleição presidencial em outubro, entre 150 mil e 200 mil pessoas que podem estar sofrendo privação de liberdade – um bem irrecuperável caso venham a comprovar, mais adiante, sua inocência – num país em que o sistema carcerário está saturado e falido.

A jornalista, filha da estilista Zuzu Angel, morta pela ditadura em represália a sua luta para desvendar a participação do Estado brasileiro na prisão e assassinato de Stuart Angel, irmão de Hildegard, recorre à lembrança da mãe e de outras mineiras como Zuzu e Cármen de destacado papel em defesa da liberdade: Hipólita Jacinta Teixeira de Melo, ativista na Inconfidência Mineira, e Tiburtina Alves, na Revolução de 1930.

A carta menciona ainda um ex-ministro do Supremo, Adauto Lúcio Cardoso, outro mineiro. “Primo-irmão de minha mãe, em família divergiam no pensamento político, mas eram convergentes na causa comum das liberdades democráticas.” E faz referência ao fato de que a um magistrado não cabe colocar preferências partidárias à frente da letra da lei. “Peço a Vossa Excelência e aos demais membros da Corte que ouçam as vozes, não as que lhes são mais próximas, mas as das ruas.”

Hildegard alerta para o momento delicado vivido pelo país. “No momento, a causa extrema é a da nossa Democracia. Faz-nos aflição nos sentirmos na iminência de perdê-la, abalada pela disseminação de um ódio que contamina e torna violenta a nossa sociedade.”

Ela ainda chama a atenção para o fato de sete militantes de movimentos populares em greve de fome, motivada por essa causa, estarem com a vida em perigo. “Vamos apascentar os corações deste país, antes que tenhamos que verter lágrimas por esse sacrifício em seu momento extremo, que parece estar próximo.”

Leia a íntegra

Carta aberta à presidente do Supremo Tribunal Federal

Presidente Cármen Lúcia,

Pretendia fazer esse pleito pessoalmente, por ocasião da visita a Vossa Excelência do sr. Adolpho Perez Esquivel, na pequena comissão de representantes da sociedade brasileira. Mas isso não foi possível. Resta-me faze-lo por esta carta, animada por suas demonstrações de à luta e à de minha mãe, já feitas publicamente e diretamente a mim.

As mulheres mineiras, como são ambas vocês, têm tradição em nossa de bravura e compaixão. Assim foram, na Inconfidência, Hipólita Jacinta Teixeira de Melo e, na Revolução de 1930, Tiburtina Alves, que, em suas épocas, na defesa de causa maior, desafiaram o medo e o senso comum.

No momento, a causa extrema é a da nossa Democracia. Faz-nos aflição nos sentirmos na iminência de perdê-la, abalada pela disseminação de um ódio que contamina e torna violenta a nossa sociedade, pela primeira vez na História republicana dividida radicalmente.

Amigos rompem relação, parentes não se falam, vizinhos deixam de se cumprimentar. Não houve precedentes em nossa sociedade, a não ser nas ditaduras, quando o temor de retaliações e estigmas levava pessoas a evitarem umas às outras.

Felizmente, lá se vão mais de trinta anos do último período de exceção. Contudo, os ares da excepcionalidade voltam a nos sufocar, confundir e separar. Urge que a Brasileira volte a ser cumprida em sua integralidade o quanto antes, o atropela o desenrolar dos fatos, e as consequências são imprevisíveis.

Peço a Vossa Excelência e aos demais membros da Corte que ouçam as vozes, não as que lhes são mais próximas, mas as das ruas. Que atentem para o clamor popular, que se faz revolta pelo descrédito que agora inspiram ao as nossas instituições. Vemos manifestações em lugares públicos, marchas, movimentos, até greves de fome ocorrerem, na de lhes atrair a atenção. De lhes merecerem um olhar ou até mesmo a preocupação.

Por favor, sra. Ministra, Deus lhe deu esta missão importante de apaziguar a Nação com seus atos, conduzindo este momento da História. Sei que o Supremo de nosso país tem sido capaz de atos de coragem que desafiam o próprio tempo. Como o do saudoso ministro Adauto Lúcio Cardoso, outro mineiro. Primo-irmão de minha mãe, em família divergiam no pensamento político, mas eram convergentes na causa comum das liberdades democráticas.

Ministra Carmen Lúcia, lhe rogo que paute as Ações Declaratórias de Constitucionalidade, que colocam em questão o entendimento firmado pela Corte de autorizar o cumprimento de pena após condenação em segunda instância. Esta é a reivindicação que temos percebido no clamor das ruas, levando até sete militantes de movimentos populares a completarem hoje 22 dias de greve de fome no Distrito Federal.

Vamos apascentar os corações deste país, antes que tenhamos que verter lágrimas por esse sacrifício em seu momento extremo, que parece estar próximo.

Sei de sua bravura, peço-lhe, também, a compaixão.

Muito respeitosamente,

Hildegard Angel

ANOTE AÍ

Fonte: RBA

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Uma resposta

  1. A Excelentíssima Senhora Ministra não pode compactuar com o banditismo que Golpista sem caráter, imoral, indecente e incompetente que fez sua trajetória corruptiva no Porto de Santos/SP e sua corja de Ladrões usurpem o Brasil e matem o povo Brasileiro, prenda Aercio Neves, Romero Juca, Jose Serra, Edson Lobão, Fernando Color, Pedro Parente, Verônica Serra, Verônica Dantas, Renam Calheiros, José Sarney, Eliseu Padilha, Jader Barbalho, Moreira Franco, Eunicio Oliveira e Cassio Cunha Lima. Senhora Presidente uma Nação Forte e Digna se Faz em Cima da Verdade.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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