Procura
Fechar esta caixa de pesquisa.

HOMENS ARMADOS QUEIMAM ESCOLA EM ASSENTAMENTO

Homens armados queimam escola em assentamento, em Anapu (PA)

ambém houve disparos onde vivem 73 famílias. Lote está situado em uma área de disputa entre agricultores e grileiros na região do assentamento Dorothy Stang.
 
Por Marcus Passos e Valéria Martins/via G1/Com informações da CPT Regional Pará
 
Famílias do lote 96, da gleba Bacajá, no município de Anapu, no sudoeste do Pará foram alvo de um novo ataque. Segundo a Comissão Pastoral da Terra (CPT), uma escola da comunidade foi incendiada e houve disparos que teriam partido de um grupo de homens armados, entre a noite de quinta (18) e a madrugada desta sexta-feira (19).
 
O Ministério Público Federal (MPF) informou ao g1 que está acionando os órgãos competentes.

Segundo a denúncia da CPT, os homens armados atiraram contra um agricultor e tocaram na Escola Municipal de Ensino Fundamental Paulo Anacleto, que fica no lote dentro do assentamento Dorothy Stang.

No local vivem 73 famílias, informou a Comissão Pastoral da Terra. O lote está situado em uma área de disputa entre agricultores e grileiros.

Um relato de uma agricultora fala que os moradores tiveram que se abrigar na mata.

“Tocaram fogo na escola e houve muito tiroteio por volta das 23h da noite desta quinta-feira (18). Aí nós ficamos a noite no mato. Eu, junto com minha família, passamos a noite no mato porque foi muito tiro”, afirma.

“Isso não foi a primeira vez que os moradores sofreram ataques vindo do rumo da sede que ficou no 96 e da sede da fazendo no lote 28”, denuncia a CPT.

O g1 também entrou em contato com a PF, prefeitura de Anapu, Polícia Militar, Polícia Civil, Corpo de e Secretaria de Segurança Pública do Pará.

Lote 96
 
A terra em disputa é uma área pública federal. O possível dono teve o título de propriedade cancelado pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), a pedido do MPF, em ação civil pública.
 
A área está em processo para se tornar um assentamento de reforma agrária. No local, já foi feita vistoria no imóvel, com confecção de um laudo agronômico de fiscalização.Segundo o MPF, uma das lideranças das famílias moradoras está no programa de proteção a defensores de direitos humanos, por causa de ameaças à sua .Denúncia
 
Marco Apolo Leão, advogado da Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos (SDDH), falou sobre a situação, que segue insustentável. “É lamentável que a Segup [Secretaria de Estado de Segurança Pública e Defesa Social] não consiga dar um retorno, com relação a tantos crimes que ocorrem na região.
 
Dia onze de maio houve este ataque em que foram queimadas novamente casas de camponeses já havia isso já havia acontecido antes. Ninguém foi punido até hoje.”
 
Segundo ele, é preciso que Ministério Público Estadual e Federal investiguem a postura do Governo do Estado do Pará e que o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), e os órgãos governamentais hajam para evitar que as causas dessa persistam na região.
 
Publicado originalmente em 19 Agosto 2022. 
 
HOMENS ARMADOS QUEIMAM ESCOLA EM ANAPU
Wikipedia

Dorothy Stang ainda desperta a truculência ruralista

Em Anapu (PA), criação de assentamentos enfurece grileiros, que ampliam cerco aos agricultores e ativistas ligados à freira, assassinada em 2005. Escola foi incendiada e houve tiros contra os moradores. Incra recua e famílias vivem o medo

Era quase meia-noite quando Deise Oliveira, 22, avistou um clarão na escola Paulo Anacleto, construção de palha e madeira onde estudam filhos de agricultores na zona rural de Anapu, no Pará.

Ao constatar o incêndio, ela saiu correndo em direção ao mato e alertou os vizinhos por mensagens, enquanto ouvia disparos de arma de fogo – contou 15 ao todo.

escola queimada lote 96 anapu
Escola na zona rural de Anapu (PA) foi destruída pelo fogo no ataque mais recente ao Lote 96 (Foto: Reprodução)

ataque na noite do último dia 18 é o terceiro desde maio contra os moradores do chamado Lote 96, área pública federal destinada à reforma agrária, mas reivindicada por herdeiros de um fazendeiro paulista.

Ali vivem 54 famílias de agricultores sob ameaça constante de madeireiros e grileiros contrários ao assentamento. Desde 2015, 19 trabalhadores rurais foram assassinados na cidade, onde também foi morta a freira americana Dorothy Stang, em 2005, em uma emboscada

 

A onda de ataques ocorre em meio ao recuo do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) em confirmar o uso da terra em favor dos assentados.

A autarquia publicou em julho portaria criando o Projeto de Assentamento (PA) Irmã Dorothy Stang – que engloba os lotes 96 e 97, de cerca de 4.000 hectares, para assentar 73 famílias –, mas paralisou a demanda três dias depois alegando “vícios” no processo.

Questionado pela Repórter , o Incra não especificou quais problemas foram identificados.

“A gente conseguiu que o Incra liberasse a portaria, mas parece que botaram uma pedra em cima e não se resolveu mais nada. É só Deus para defender a gente, e contar com a colaboração da Justiça”, desabafa Lourival dos Santos Lima, 63, morador do Lote 96.

“A Justiça é muito lenta, não vai resolver enquanto não morrer duas ou três famílias”, diz outro morador, Edvan Batista da Silva, 50.

Além dos ataques aos camponeses, ocorreram também intimidações a dois servidores do Incra que atuam na região e a duas freiras que continuam o trabalho da irmã Dorothy em prol dos trabalhadores, as missionárias Jane Dwyer e Katy Webster, segundo áudios trocados em WhatsApp obtidos pela reportagem.

“O Incra é induzido por meia dúzia de pessoas que sempre trouxeram o caos, a discórdia, a desgraça e o derramamento de sangue para Anapu.

Essas duas freiras americanas tocam o terror”, disse o pastor Abimael Silva, candidato a deputado estadual pelo PRTB, em uma das gravações. A declaração se deu logo após o Incra anunciar a criação do assentamento, no final de junho. A reportagem tentou contato com Silva, mas sem retorno.

O recuo do Incra na criação do assentamento agravou a tensão na região, avalia a defensora pública federal Elisângela Côrtes. “A partir do momento em que o Incra cria esse assentamento, mas vem um despacho falando que talvez tenha que revogar a portaria, a gente percebeu um aumento na escalada desses discursos contra [as freiras]”, diz.

Para irmã Jane, as ameaças são uma reação à criação do assentamento Dorothy Stang e de outros dois anunciados recentemente na região, o Mata Preta e o Mata Verde.

“Como nos últimos meses consolidou quase 24 mil hectares de terra nas mãos do , esses homens ficam doidos, porque pensaram que o [presidente Jair] Bolsonaro ia virar a mesa e eles iam receber essas terras de volta, mas não é possível, porque é tudo feito na Justiça”, afirma. 

O procedimento de criação do PA Dorothy Stang foi aberto em novembro passado, após sentença da Justiça federal atender um pedido do MPF (Ministério Público Federal).

Fontes ouvidas pela reportagem apontam possível pressão no caso e que haveria um incômodo especialmente pelo uso do nome da religiosa assassinada em 2005.

 

As defensorias públicas da União e do Pará encaminharam ao Incra recomendação para que a portaria de criação do assentamento não seja revogada.

A medida segue vigente, mas, na prática, sem efeito, já que os passos seguintes, como o processo de seleção das famílias, estão paralisados.

À Repórter Brasil, o Incra afirma que a portaria foi publicada sem “o devido rito processual” e que o mesmo erro foi identificado em outras 12 publicações.

Desde 2020, a criação de um assentamento deve ser proposta por uma das 29 superintendências regionais, autorizada pela Diretoria de Desenvolvimento e Consolidação de Projetos de Assentamento e submetida à aprovação da presidência do Incra.

A autarquia, contudo, não explica qual seria o equívoco ocorrido no processo em Anapu.

Ameaças

Às margens da rodovia Transamazônica, Anapu tem apenas 29 mil habitantes, mas área superior ao Qatar, ou mais de duas vezes o tamanho do Distrito Federal.

Os lotes 96 e 97 estão dentro da gleba pública federal Bacajá, às margens do rio e a cerca de 70 km da área urbana de Anapu. A criação do assentamento no local enfureceu os opositores da reforma agrária.

Além do pastor Abimael Silva, as intimidações partiram também do ruralista Silvério Fernandes, ex-vice-prefeito de Altamira (2005-2012) e coordenador regional da Federação da Agricultura do Estado do Pará.

Ele foi um dos principais cabos eleitorais do presidente Jair Bolsonaro nas de 2018, quando tentou se candidatar a deputado estadual, mas teve o registro negado pela Justiça eleitoral.

Na troca de áudios, Fernandes acusa a irmã Dorothy de incentivar “invasões de terras” na década de 1980, e diz que o trabalho dela foi sucedido pelo padre Amaro e pelas irmãs Katy e Jane.

“Essas duas fazem esse inferno em Anapu, juntamente com [os servidores do Incra] Danilo Hoodson e Danilo Lima.

Precisamos acabar com isso [o assentamento Dorothy Stang]”, conclui Fernandes, que comandou uma campanha de acusações e difamação contra o padre Amaro, em 2018 – ofensiva que levou ao afastamento do religioso da luta pela reforma agrária na região.  

Já Silva acusa os servidores de e incompetência e diz que o Incra age de forma irresponsável na região.

“Eu não sei de onde colocaram esses caras aqui, só sei que foram plantados junto com essas freiras americanas (…).

Não é invadindo a terra do povo, colocando em conflito grileiros contra cidadãos de bem, não. Precisa da ajuda do povo para resolver isso, de quem tem poder e mandato”, diz ele no áudio.

 

Deixe seu comentário

UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

PARCERIAS

CONTATO

logo xapuri

posts relacionados

REVISTA