Iara: A forma perfeita da tez morena

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Iara

Benjamin Sanches (1915 -1978)

Mais do que nunca, e pelos piores motivos, o mundo inteiro está começando a despertar para a importância da floresta Amazônica e o seu valor incalculável. Proteger e conservar a Amazônia é uma questão de sobrevivência, não só de toda essa biodiversidade, mas também do próprio planeta!

Através dos versos de Benjamim Sanches, em homenagem  deusa dos rios, podemos conhecer elementos da fauna, da flora, lendas e costumes.

Benjamin Sanches foi um contista e poeta amazonense que fez parte do Clube da Madrugada, uma associação artística e literária dos anos 50. Em Iara, evoca a lenda de origem indígena com o mesmo nome, também conhecida como lenda da Mãe d’água.

Trata-se de uma criatura aquática, semelhante a uma sereia, que aparenta ser a mais bela mulher. No poema, o sujeito lírico recorda o momento em que foi agraciado com a visão da Iara nas águas do rio.

A imagem, parte das crenças regionais com as quais cresceu, ficou gravada na sua memória. Segundo o folclore, era comum que os homem que vissem a Iara ficassem encantados por ela, acabando no fundo do rio.

Mesmo tendo sobrevivido para contar a história, o sujeito permaneceu sob o efeito da entidade, “abraçado à sua sombra”.

Surgiu do leito do rio sem margens
Cantando a serenata do silêncio,
Do mar de desejos que a pele esconde,
Trazia sal no corpo inviolável.

Banhando-se no sol da estranha tarde
Cabelo aos pés mulher completamente,
Tatuou nas retinas dos meus olhos,
A forma perfeita da tez morena.

Com a lâmina dos raios penetrantes,
Arando fortemente as minhas carnes,
Espalhou sementes de dor e espanto.

Deixando-me abraçado à sua sombra,
Desceu no hálito da boca da argila
E, ali, adormeceu profundamente.

Fonte: Cultura Genial


 
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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação. 

Resolvemos fundar o nosso.  Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário.

Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também. Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, ele escolheu (eu queria verde-floresta).

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Já voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir.

Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. A próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar cada conselheiro/a pessoalmente (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Outras 19 edições e cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você queria, Jaiminho, carcamos porva e,  enfim, chegamos à nossa edição número 100. Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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