Iara
Benjamin Sanches (1915 -1978)
Mais do que nunca, e pelos piores motivos, o mundo inteiro está começando a despertar para a importância da floresta Amazônica e o seu valor incalculável. Proteger e conservar a Amazônia é uma questão de sobrevivência, não só de toda essa biodiversidade, mas também do próprio planeta!
Através dos versos de Benjamim Sanches, em homenagem deusa dos rios, podemos conhecer elementos da fauna, da flora, lendas e costumes.
Benjamin Sanches foi um contista e poeta amazonense que fez parte do Clube da Madrugada, uma associação artística e literária dos anos 50. Em Iara, evoca a lenda de origem indígena com o mesmo nome, também conhecida como lenda da Mãe d’água.
Trata-se de uma criatura aquática, semelhante a uma sereia, que aparenta ser a mais bela mulher. No poema, o sujeito lírico recorda o momento em que foi agraciado com a visão da Iara nas águas do rio.
A imagem, parte das crenças regionais com as quais cresceu, ficou gravada na sua memória. Segundo o folclore, era comum que os homem que vissem a Iara ficassem encantados por ela, acabando no fundo do rio.
Mesmo tendo sobrevivido para contar a história, o sujeito permaneceu sob o efeito da entidade, “abraçado à sua sombra”.
Surgiu do leito do rio sem margens
Cantando a serenata do silêncio,
Do mar de desejos que a pele esconde,
Trazia sal no corpo inviolável.Banhando-se no sol da estranha tarde
Cabelo aos pés mulher completamente,
Tatuou nas retinas dos meus olhos,
A forma perfeita da tez morena.Com a lâmina dos raios penetrantes,
Arando fortemente as minhas carnes,
Espalhou sementes de dor e espanto.Deixando-me abraçado à sua sombra,
Desceu no hálito da boca da argila
E, ali, adormeceu profundamente.
Fonte: Cultura Genial